Diversidade
Humana
Folha de São Paulo, sexta-feira, 23
de novembro de 2001
Análise detalhada do cromossomo humano 21 revela
que a diversidade genética entre indivíduos é menor do que se
imaginava, indica um estudo publicado hoje por cientistas da empresa de
biotecnologia californiana Perlegen Sciences na revista
"Science" (www.sciencemag.org).
O grupo de pesquisadores, liderado pelo geneticista David Cox, descobriu
que uma boa parcela dos nucleotídeos ("letras" de DNA) que
podem variar de um indivíduo para outro está trancada em grandes
pacotes de DNA, que normalmente não se alteram no passar das
gerações.
Além de ser um sinal de que grupos distintos podem ser menos diferentes
do que se pensava, a leitura faz crescer a expectativa de que a
comparação entre genomas possa ser usada com mais facilidade em
pesquisas médicas. Pelo que os cientistas observaram, pode se tornar
menos penosa a tarefa de comparar DNA para identificar genes
importantes, como os que determinam predisposição para doenças ou
resistência do organismo a medicamentos.
Os pesquisadores da Perlegen estudaram o cromossomo 21 em 20 indivíduos
de várias etnias (entre negros, asiáticos e caucasianos).
No grupo analisado, os nucleotídeos que podem variar de um indivíduo
para outro (os polimorfismos de nucleotídeo único, ou SNPs) estavam
presos em pacotes maiores do que se imaginava, com menor variabilidade.
Esses pacotes são os chamados haplótipos, blocos de DNA transmitidos
em conjunto para os descendentes. O haplótipo é um trecho do genoma
que, em um único cromossomo de cada par, não pode ter partes da mãe e
do pai juntas, apenas de um deles.
No cromossomo 21, "mais de 80% da amostra global humana pode ser
tipicamente caracterizada por apenas três haplótipos comuns",
escreve Cox no artigo. A humanidade não teria, assim, uma variedade de
combinações tão grande, já que a maioria deles se situaria nesses
blocos fixos.
Alguns cientistas vêem com ceticismo a constante e ininterrupta
mudança de previsões sobre a quantidade de genes que compõem o genoma
humano. Para a geneticista brasileira Mayana Zatz, do Instituto de
Biociências da USP, pode ser perigoso generalizar as descobertas do
cromossomo 21 para descrever aquilo que seria o genoma inteiro.
"Não dá para extrapolar a partir de um único
cromossomo", diz.
Dados genômicos de duas dezenas de indivíduos podem parecer pouco para
representar um conjunto da população mundial, mas o estudo coordenado
por Cox foi um dos mais abrangentes já feitos.
Porém, mesmo somado a outros estudos realizados, o que se sabe sobre
diversidade genética humana ainda é pouco.
"Conclusões mais abrangentes sobre as estruturas de haplótipos no
genoma humano não podem ser tiradas com um grau alto de certeza porque
o número de cromossomos analisados ainda é pequeno", escreve Kok.