Quantos
Genes Peprpetuamos?
Por: Jocax, GLIV: Apêndice C
Com base no resultado do apêndice B, que nos
diz que o número médio de genes que compartilhamos, por
sermos da mesma espécie é de 68%, podemos calcular a taxa
de sobrevivência de nossos genes em função do número
médio de filhos por casal e do número de gerações.
Vamos colocar como hipótese simplificadora,
que os alelos são seletivamente neutros, isto é, não
possuem vantagens seletivas sobre os demais. Primeiramente devemos calcular
o número de genes que um filho compartilha com o seu pai (ou
mãe):
O genitor passa a seu filho 50% de seus cromossomos,
o que não significa que seu filho vá possuir apenas 50%
dos genes desse genitor ! É um erro muitíssimo comum,
mesmo entre pessoas não leigas no assunto, achar que pelo fato
de passarmos 50% de nossos cromossomo à nosso filho isso implicaria
que nosso filho teria apenas 50% de nossos genes! Como veremos, isso
é falso, o número de alelos que compartilhamos com nosso
filho é muito maior.
O número de alelos que temos em comum com nosso
filho pode ser calculado em duas parcelas : A parte que passamos diretamente
através de nosso gameta, que compartilha conosco 100% de alelos,
e outra parte que ele recebe do nosso cônjuge mas que também
possuímos. Esta segunda parte que ele recebe de nosso cônjuge,
como vimos no apêndice A, compartilha conosco 68% de alelos. A
fração total será : 50%*100% + 50%*68% = 84% .
Ou seja, um filho compartilha com seu genitor 84% de
alelos e não apenas 50% como é normalmente, e erroneamente,
informado.
Para calcularmos o compartilhamento genético
entre nós e um de nossos descendentes vamos supor um caso geral,
na nossa árvore genealógica, na qual temos um de nossos
descendentes ( ta...taraneto) que terá um filho com uma pessoa
que não seja descendente e que portanto apresenta um compartilhamento
genético conosco de M=68%.
Chamamos de Dn o nosso n-ésimo descendente na
árvore genealógica e Fn o seu nível de compartilhamento
genético conosco. Assim teremos:
D0 (Somos nós ) compartilhando F0 = 100% de
nossos alelos
D1 ( Nosso Filho ) compartilhando F1 alelos nossos
com D0 .
D2 ( Nosso Neto ) compartilhando F2 alelos nossos com
D1.
.....
Dn compartilhando Fn alelos nossos com Dn-1
Vamos calcular agora a fração de alelos nossos (Fn) de
Dn em relação à Dn-1 :
Dn é um filho de Dn-1, assim, em relação
à seu pai, Dn herdará o correspondente a uma parcela igual
a (Fn-1/2) pois recebe apenas metade dos cromossomos de seu genitor.
Em relação à sua mãe, Dn herdará
uma outra parcela igual a ( M/2 ) = 68%/2 = 34%. Isso se deve ao fato
que qualquer pessoa compartilha 68% de alelos uma com as outras. A soma
destas duas parcelas nos dará a fração de alelos
que Dn possui em relação a seu genitor :
Fn = Fn-1/2 + 34% , n>0 [ 1 ]
F0 = 1
Este tipo de equação, no qual fornece
uma resposta de um nível, em função da resposta
do nível anterior, é conhecida como Fórmula de
recorrência ou Equação recorrênte.
Resolvendo esta equação teremos Fn em
função de n :
Fn = 0,32/2n + 0,68 [ 2 ]
Podemos verificar a fórmula: F0 = 100% , F1
= 84% , F2 = 76% etc..
De posse deste dado podemos fazer uma estimativa da
probabilidade de um dado alelo qualquer se propagar através das
gerações. Para isso, vamos supor que cada casal tenha
sempre um número fixo "NF" de filhos. Assim, em uma
geração cada um dos NF filhos herdarão 84% de nossos
alelos, e sendo que os alelos de cada filho são independentes
dos alelos de seus irmãos, teremos que a probabilidade de nenhum
deles possuir um dado alelo qualquer de seu pai será : PN1 =
(1-84%)^NF
O número de nossos descendentes da n-ésima
geração ( NDn ) , supondo que cada descendente tenha NF
filhos será :
NDn = NF^n [ 3 ]
Se a freqüência de compartilhamento genético
representa a probabilidade de termos um dado alelo nosso, então
a probabilidade de não termos este alelo em nenhum descendente
da n-ésima geração será :
PNn = ( 1 - Fn ) ^ NDn [ 4 ]
Substituindo Fn e NDn de (2) e (3) , teremos :
PNn = [ 0,32( 1 - 1/2n )] ^ ( NF^n ) [ 5 ]
E a probabilidade de termos este alelo em pelo menos
um de nossos descendentes da n-ésima geração será
:
Pn = 1 - PNn [ 6 ]
Finalmente chegamos a fórmula que fornece a
probabilidade de nosso alelo estar presente em pelo menos um de nossos
descendentes da n-ésima geração :
Pn = 1 - [ 0,32( 1 - 1/2n )] ^ ( NF^n ) [ 7 ]
Se tomarmos, como exemplo, que o número de filhos por casal seja
NF = 2 ( nesta condição a população se manterá
estável), então poderemos avaliar a equação
(7) :
n |
Pn |
1 |
97,44% |
2 |
99,66% |
3 |
99,99% |
Podemos observar que a probabilidade do alelo se encontrar
em algum descendente aumenta com o número de gerações.
Isso deve-se ao fato de que o número de descendentes cresce exponencialmente.
Podemos alterar as fórmulas acima e calcularmos a probabilidade
de um alelo mutante, que apenas nós possuimos, ser perpetuado
em função do número de gerações.
Para tanto, basta estabelecermos que a freqüência de compartilhamento
de uma pessoa qualquer seja zero, isto é tomamos M=0 . Fazendo
esta alteração a fórmula ( 7 ) ficaria :
PMutanten = 1 - ( 1 - 1/2n ) ^ ( NF^n ) [ 8 ]
n |
PMutanten |
1 |
75% |
10 |
66% |
Infinito |
63% |
Ou seja, no caso do alelo mutante, seletivamente neutro,
a sua probabilidade de permanência na população
irá decaindo mas nunca será menor do que 63%. Isto se
deve ao fato de que a fórmula : ( 1 - 1/X ) ^ X , para X tendendo
ao infinito , torna-se exp(-1) = 1/2,71828 , e a fórmula de Pmutante
para um número infinito de gerações seria portanto:
Pmutante = 1-exp(-1) = 1 -1/2,71828 = 63,21%