Evolução moderna e acelerada
Agência Fapesp, 11/12


Estudo descreve os últimos 40 mil anos como um período de intensa mudança evolucionária

Uma conhecida teoria sugere que a evolução humana foi drasticamente freada – ou que até mesmo parou no homem moderno. Mas um novo estudo descreve os últimos 40 mil anos como um período de intensa mudança evolucionária, resultado do crescimento exponencial da população e das mudanças culturais.

O trabalho, descrito na edição desta segunda-feira (10/12) da revista Proceedings of the National Academy of Sciences (Pnas), foi liderado pelo antropólogo John Hawks, da Universidade de Wisconsin-Madison, nos Estados Unidos. A análise foi feita a partir de dados obtidos pelo Consórcio Internacional HapMap, que reúne mais de 200 cientistas de diversos países.

Segundo os autores, nos últimos 5 mil anos ocorreu seleção positiva em uma taxa aproximadamente 100 vezes mais alta do que em qualquer outro período da evolução humana. Além disso, 7% dos genes humanos estão em meio a um processo de evolução recente e acelerada.

Muitos dos novos ajustes genéticos teriam relação com mudanças na dieta decorrentes do advento da agricultura. E, também, com a resistência às doenças epidêmicas que se tornaram a principal causa de mortes depois do crescimento das civilizações.

A descoberta pode levar a ciência a repensar a evolução humana, de acordo com Hawks, especialmente em relação à visão de que a cultura moderna amenizou as necessidades de mudanças genéticas em humanos a fim de garantir a sobrevivência. “Geneticamente, nossa diferença em relação às pessoas que viveram há 5 mil anos é maior do que a diferença entre elas e os neandertais”, disse.

A correlação entre tamanho populacional e seleção natural não é nova – é uma das principais premissas nas teorias de Charles Darwin. O que é novo, segundo Hawks, é a capacidade para levantar evidências quantificáveis, possibilitada pelo Projeto Genoma Humano.

Em parceria com o antropólogo Gregory Cochran, da Universidade de Utah, e Eric Wang, da empresa Affymetrix, Hawks catalogou semelhanças e diferenças genéticas em humanos a partir de estudos de amostras de genes de populações distintas. Enquanto mais de 99% do genoma humano é comum a todas as pessoas, o HapMap está catalogando as diferenças individuais no DNA, conhecidas como polimorfismos de nucleotídeo único

Para buscar variações genéticas recentes, a equipe enfocou regiões do genoma nas quais variações genéticas ocorrem com maior freqüência do que seria possível por mero acaso. Geralmente essas mudanças indicam algum tipo de vantagem seletiva. Os cientistas encontraram evidências de seleção recente em cerca de 1,8 mil genes – o equivalente a 7% dos genes humanos.

De acordo com Hawks, o estudo ressaltou importantes mudanças esqueléticas, que indicam que as pessoas ficaram menores, com cérebros e dentes também menores que os ancestrais, contrariando o conhecimento convencional. Isso é visto como sinal de um relaxamento seletivo – o tamanho e a força não seriam mais fundamentais para a sobrevivência.

Mas outros caminhos foram abertos para a evolução. As mudanças genéticas seriam agoras direcionadas por mudanças impactantes na cultura humana. Um bom exemplo é a lactase, enzima que ajuda a digerir o leite. A lactase geralmente declina e cessa sua atividade na adolescência, mas populações no norte da Europa desenvolveram uma variação que evitou a diminuição na produção da enzima, diferentemente do que ocorre na África ou na China.

O principal novo caminho para a seleção, segundo Hawks, está ligado à resistência a doenças. Quando o homem começou a viver em grupos maiores, concentrando-se em assentamentos há cerca de 10 mil anos, as doenças epidêmicas como malária, varíola e cólera começaram a mudar dramaticamente os padrões de mortalidade.

A malária é um dos mais claros exemplos, uma vez que hoje há mais de duas dúzias de adaptações genéticas ligadas à resistência à doença, incluindo até mesmo um tipo de sangue inteiramente novo, conhecido como sangue do tipo duffy.

Outro gene descoberto recentemente, o CCR5, teve origem há cerca de 4 mil anos e agora existe em cerca de 10% dos europeus. Ele foi descoberto recentemente por tornar indivíduos resistentes ao HIV. “Há muitos fatores na seleção que tornam cada vez mais difícil para os patógenos nos matarem”, disse Hawks.

O artigo Recent acceleration of human adaptive evolution, de John Hawks e outros, pode ser lido por assinantes da Pnas em http://www.pnas.org.
(Agência Fapesp, 11/12)

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