A Razão da Razão
Por: Thiago Garcia Tamosauskas, outubro 2003

" O nosso próprio ser diz ao Eu: Experimenta dores! E padece e medita em não padecer mais; e para isso deve pensar. O nosso próprio ser diz ao Eu: Experimenta alegrias! Regozija-se ens então e pensa em continuar a regozijar-se frequentemente; e para isso deve pensar. Quero dizer uma coisa aos que desprezam o corpo: desprezam aquilo a que devem a sua estima."

- Friedrich Nietzsche, Assim falou Zaratustra

A Meta-Ética-Científica endossa que devemos e podemos usar a razão humana para buscar a Felicidade. O leitor concordará diante das evidências que esta não é somente uma utilidade razoável para a faculdade humana de pensar, mas é antes disso a própria Raizon d’être do pensamento humano. O objetivo deste artigo  é elucidar a importância e a origem o pensamento racional sob as luzes do neo-darwinismo.

A faculdade humana de pensar, planejar e resolver problemas são uma poderosa ferramenta evolucionaria que permitiu que as necessidades de perpetuação genética fossem satisfeitas. Em outras palavras, pensamos porque isso se mostrou útil em nossa adaptação ao meio e colaborou na perpetuação de nossos genes. “O homem pensa porque tem mãos” dizia Anaxágoras em V a. C. O filosofo grego acertou na precedência do corpo sobre a mente quanto a sua origem, mas teria acertado ainda mais se tivesse dito que o homem tem mãos e pensa por um mesmo motivo.

Não é difícil entender que desenvolvemos nossas mãos com um polegar opositor porque estas foram uma ferramenta muito útil para nossos genes. Com nossas mãos podemos segurar armas, fazer fogo, preparar comida, desenvolver a escrita. Com ela podemos tanto arrancar um forte galho de uma árvore como segurar um frágil ovo sem quebrá-lo.  Não é difícil olhar para a própria palma e, as luzes da lógica da seleção natural, entender que ela é fruto de milhares de anos de evolução. Nossa mão existe hoje porque teve sucesso o suficiente para continuar sobrevivendo. Podemos dizer o mesmo de nossa razão. Os proto-humanos que desenvolveram aos poucos capacidades cognitivas gradualmente sobrepujaram aqueles que não tinham esta capacidade e assim legaram a sua descendência a mesma capacidade.

A razão guarda sua origem no algoritmo genético da mesma maneira que os sentimentos. Atrás de todo prazer, de toda a dor e antes de toda razão há os genes moldados pelo processo natural de eliminação dos ineptos e sobrevivência dos aptos para serem como são. É graças a este algoritmo de seleção que os genes deram as diretrizes necessárias para a formação da Razão e forneceram o hardware necessário para sustentar uma infinidade de conceitos (memes) oriundos daí. Alguns destes memes, de fato, acabaram por se desviar do imperativo genético e iniciar seu próprio caminho evolucionário. A conseqüência disso, como se poderia esperar é que a felicidade do organismo, que antes era uma forma dos genes atingirem seus objetivos, deixa de ser prioridade na medida em que a perpetuação genética também deixa. Entendendo isso o Genismo aparece como a alternativa racional para harmonizar a mente com o corpo, ou melhor, os memes com os genes para a felicidade de seus próprios hospedeiros.

Antes mesmo de haver um pensamento claro e racional os genes, tendo em vista seus próprios fins perpetuativos,  já puniam os organismos com sofrimentos e os recompensavam com prazeres. O processo de buscar o prazeroso e afastar-se da dor tornou-se portanto essencial para a sobrevivência de todo o ser sensível. Na maioria dos animais não é necessária muita inteligência para seguir este pequeno script, e o ser humano desenvolveu-se para aprimorar este processo pelo processo da razão.

Assim como um cachorro o ser humano está equipado com seus instintos básicos que lhe permitiram sucesso gene perpetuativo por incontáveis gerações.  E da mesma forma que o cachorro, como mostra a escola comportamentalista o ser humano evoluiu de forma a ser condicionado por suas próprias experiências. Repetindo experiências prazerosas e Evitando repetir experiências dolorosas.  No entanto, de forma muito mais elaborada que um cão, o ser humano com sua razão pode transcender o comportamento pavloviano. Com a razão um se humano pode suportar experiências dolorosas com o fim claro de obter uma recompensa futura que supere o sofrimento e da mesma forma pode abdicar de uma experiência prazerosa se sabe que a longo prazo esta pode resultar em mais dor.

Os proto-humanos que não prosseguiram desta forma, ou falharam em ser racionais acumulavam menos probabilidades de sobrevivência e perpetuação e por isso ou foram eliminados ou desenvolveram outras formas de lidar com o problema ( como a força bruta). O pensamento humano é, assim como seu polegar opositor, nada mais do que uma outra ferramenta genética para atender aos fins naturais de sobrevivência. Nas palavras brilhantes, mas cientificamente inexatas de Nietzsche “O corpo criou o espírito como uma mão para sua vontade.”  Ou em outras palavras, a mente existe porque existe o corpo.

As conseqüências da existência de um ser pensante são infinitas, mas a sua causa original só pode ser racionalmente compreendida em termos de utilidade genética.  Até que se apresente, portanto uma resposta mais razoável esta dada acima deverá ser levada em conta por aqueles que prezam pelo bom senso. A Razão existe porque existe a possibilidade de Felicidade.  Usar, portanto a razão como uma ferramenta hedonica, para atingir o máximo de felicidade, não é somente algo sensato, mas é também  a própria função  original do pensamento.

Assim a razão é de certa forma, subordinada aos sentimentos e os sentimentos subordinados aos genes. E é muito claro que isso não quer dizer que devamos abandonar a razão e sermos guiados somente pelos instintos. A existência da razão só prova o quanto ela pode ser útil. Se os genes  “arquitetaram” um ser pensante como o homem é porque esta faculdade de pensar atende a seus próprios interesses. Devemos reconhecer a razão pelo que ela de fato é; uma ferramenta útil na potencialização da vida dos genes e da felicidade dos organismos.  Agir pela perpetuação dos genes  resulta em prazer e o uso da razão pode maximizar o prazer experimentado.  Que o homem não regresse então ao macaco, mas que transcenda a sua atual condição humana. Que haja razão, mas que esta esteja subordinada a Felicidade.

 

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