Mas então, por que
buscamos a verdade? Por que as Ciências , a Filosofia e tantas outras
áreas do conhecimento se preocupam tanto com ela? Qual o real motivo ?
Uma das respostas possíveis
seria : Por curiosidade. Ou seja, buscaríamos a verdade porque nos
daria satisfação saber como são de fato as coisas. Nosso cérebro
absorve informação e a verdade seria uma forma de tomarmos
conhecimento do universo de uma maneira fidedigna para... saciar nossa
curiosidade, aplacar um desejo , satisfazer uma vontade! A curiosidade
é um ramo do prazer pela sabedoria. Ao adquirirmos conhecimento, que é,
ou pensamos ser, verdadeiro somos recompensados com prazer.
Então buscamos a verdade
por prazer ?
Mais do que isso. O
prazer esta relacionado à felicidade. O que eu quero mostrar é que :
Buscamos a verdade para
aumentar nossa felicidade !!!
É uma sentença ousada.
Mas se analisarmos mais a fundo veremos que é verdadeira. A verdade é
buscada porque sua informação pode ser utilizada para descobrirmos
novas informações verdadeiras. Estas informações nos permitem
conhecer a nós mesmos, conhecer a natureza e, eventualmente, alterá-la
ou usá-la a nosso favor. A verdade é estável e confiável e a lógica
nos ensina que conseqüências de premissas verdadeiras também devem
ser verdadeiras. Por esta razão poderemos, eventualmente, fazer previsões
verdadeiras se temos a verdade.
Mas por que fazer previsões?
Por que conhecer a natureza ? Por que obter conhecimento?
Novamente, a razão última
de fazermos tudo isso está na busca pela felicidade. Quando obtemos o
conhecimento podemos fazer remédios, construir computadores, viajar
pelo espaço, prever o clima, a duração do Sol etc.. E a razão de
fazermos isso tudo é a felicidade. Queremos o prazer não o sofrimento.
A verdade traz o conhecimento e com ele podemos obter mais felicidade. Não
só a felicidade de obter o conhecimento em si mas, principalmente,
as conseqüências que este conhecimento pode proporcionar.
Com a constatação de
que a razão da busca pela verdade está na felicidade, somos levados a
fazer a seguinte indagação:
É justificável
adotarmos a "não verdade" se isto nos levar a um aumento da
felicidade?
Se a razão da busca pela
verdade está no aumento da felicidade a resposta a esta questão deverá
ser afirmativa. E isto parece ter algumas implicações éticas.
A implicação mais
relevante que posso perceber é a questão religiosa. Como ateu convicto
sempre condenei as religiões por promoverem a ilusão, a utilizar a
inverdade como forma de angariar adeptos. Mas o fato é que estas ilusões
podem, em alguns casos, promover um aumento de felicidade. Então, o que
acontece de importante, é que não poderemos mais condenar as religiões
por estarem baseadas na falsidade e sim, talvez, pelo fato de elas
realmente levarem, ou não, a um aumento da felicidade! O julgamento de
uma doutrina , de uma ação ou de uma ética deverá ser tomado em relação
à felicidade que ela poderá promover e não mais tendo como base
apenas o critério da verdade.
Claro que muitos ainda vão
preferir estar com a verdade mesmo que esta seja mais dolorosa do que a
ilusão, mas não serão todos que pensarão dessa maneira. Na verdade,
atualmente, a grande maioria da população parece não pensar assim.
Acredito que o grande
problema desta abordagem é a contradição e suas conseqüências. Ao
adotarmos o falso como um modo de ampliarmos nossa felicidade poderemos
também contaminar nossas premissas verdadeiras. Isso ocorre porque
ninguém adotará uma ilusão consciente de que ela seja falsa. O
processo de se adotar uma ilusão ( como uma religião ) envolve uma
grande dose de auto-engano. Isso implica que as mentiras, adotadas como
verdadeiras, estarão no mesmo conjunto de verdades. Ao contaminarmos
nosso conjunto verdade com premissas falsas poderemos concluir previsões
enganosas e deturparmos o verdadeiro conhecimento. É algo extremamente
perigoso. E talvez não valha mesmo a pena correr o risco pois a
prejudicada poderá ser a própria felicidade.