Manifesto Genista
Por: Thiago Garcia Tamosauskas (
Junho / 2003 )
Este texto é um agradecimento e uma dedicatória aos grandes homens e
mulheres que amaram a vida e prepararam o caminho para eu continuar
daqui. Em especial à meu amigo João Carlos Holland de Barcellos, que
primeiramente idealizou o Genismo e com quem tive o privilegio de
compartilhar o mesmo espaço-tempo do universo.
É também o meu fiel testemunho de compreensão do Genismo e uma
conclamação a todos os homens e mulheres que anseiam por uma
humanidade mais forte, mais sábia, mais bela e mais feliz, a
considerarem friamente suas idéias e propostas de forma individual.
Daqui se expande toda compreensão.
I
...aonde o niilismo mata a fé e tem um filho.
“Não é exagero dizer que a ciência abrange o futuro da humanidade;
só ela pode dizer-lhe a palavra do seu destino e ensinar-lhe a maneira
de atingir sua finalidade.” – Renan (1823-1892), O Futuro da
Ciência
Em tempos passados a imaginação, a fantasia o medo do desconhecido e a
fé humana em coisas inexistentes guiavam todos os ditames da vida de
cada individuo. Sabia-se pela fé. Amava-se pela fé. Vivia-se pela fé.
Era a o Mito e não a Ciência que determinada o que era Verdadeiro,
Belo, Bom e Necessário.
Mas devagar e gradualmente o conhecimento científico foi se
desenvolvendo, o acumulo de conhecimento permitiu ao homem perceber que
nem sempre suas expectativas quanto à realidade do mundo eram realmente
factuais. Os homens de fé resistiram inicialmente, inclusive valendo-se
do uso da força e da coerção para reforçarem seus pontos de vista.
Toda resistência, no entanto, mostrou-se em vão e a mentira não se
sustentou frente a dura luz da exigência de provas. A Razão tomou a
Verdade da Fé.
Como um cão assustado a fé então fugiu para o campo moral. Não mais
bateria de frente com a Razão, continuaria pregando seus falsos
pressupostos nos cantos escuros, no silêncio de seus templos, mas agora
concentraria suas forças onde realmente teria alguma chance. Deixe que
a Razão, explique o mundo, nós iremos controlá-lo, pensou consigo
mesma. Por muito tempo, os homens da ciência diziam: “assim é” e
ouviam como resposta “assim deve ser”.
Poucos foram os homens ou mulheres que ousaram questionar, ou pelo menos
rever, as tábuas da Lei e os livros de regras ancestrais. Parecia muito
coerente no momento que Ciência e Religião terminassem seguindo
caminhos distintos, cada uma tomando cuidado para não pisar em terreno
alheio. A fé foi considerada inábil para explicar o mundo mas
convenceu a todos que a razão ainda era imprópria para guiá-lo.
Propomos que não mais a humanidade deva agir desta forma. Assim com a
Razão explicou o mundo ela também pode guiar o homem. E o pode fazer
de forma melhor do que a Fé, pois se sustenta em bases sólidas e em
fatos concretos. Se a humanidade permitir que os templos tenham para
sempre precedência aos laboratórios; se a ciência nunca for além dos
seus limites; se os obstáculos da especulação religiosa nunca forem
quebrados, então estaremos sem dúvida eternamente sob os desígnios da
fé e todo o progresso feito até hoje pela Razão não terá nunca
atingido sua plenitude.
Não podemos basear a moral e a conduta humana nos pressupostos fracos e
pueris da metafísica. Se ilusão e
delírios fossem a melhor maneira de atingir a Felicidade, então seria
melhor se fossemos todos sedados ou alcoolizados de uma vez por todas.
Mas não precisa ser assim, não mais o “bem” precisa ser
determinado pela mentira. Einstein disse certa vez que a ciência sem
religião é capenga e que a religião sem ciência é cega. A Fé teve
seu tempo, e se ela não pode criar os próprios olhos, ajustemos nós a
nossa própria perna.
É com esse objetivo que nasce o Genismo. Um genuíno avanço lúcido e
coerente, sustentado pelo conhecimento científico e pelas regras da
razão a fim de alargar ainda mais as potencialidades humanas trocando
de forma definitiva o duvidoso e o incerto pelo certo passível de
comprovação. Ao contrário do que supunham os antigos pessimistas, a
Ciência pode sim produzir idéias pelas quais possamos viver. O Sentido
da vida não precisa mais ser revelado, ele foi descoberto.
Propondo esta real compreensão da natureza humana o Genismo é um
movimento que ainda engatinha enquanto escrevo estas linhas, e eu me
orgulho de poder participar deste movimento que é tão claro quando uma
conta matemática que só pode estar destinado ao sucesso. Por basear-se
na ciência, o Genismo estará eternamente revendo seus conceitos,
colocando-se a prova, e aprimorando seus métodos. Sua teoria é
sólida, sua aplicação é simples, mas mesmo que toda sua estrutura
seja refutada no futuro (e se for necessário é isso que deve ocorrer),
ainda assim estas idéias terão seu valor como uma tentativa genuína
de atingir antigas as metas por métodos
mais racionais.
Admitimos que todos os métodos mentais conhecidos são singularmente
sujeitos a ilusão e a falta de exatidão de todos os tipos. Assim eram
as antigas determinações de calor específico, as primeiras tentativas
de se entender o
funcionamento da vida e as primeiras teorizações sobre a composição
da matéria. Mas para o verdadeiro cientista todo erro é no fundo
indício de sucesso; cada engano é a chave de uma nova verdade. E é
este impulso de eterna auto-superação que a faz superior a toda outra
forma de adquirir conhecimento.
O Genismo é o desenvolvimento lógico de fatos observados que resultam
em princípios não contraditórios que podem ser comprovados por
qualquer um que colocá-los em prática. Chegou a hora da humanidade
derrubar o último reduto dos assassinos de Giordano Bruno. O Genismo
esta se formando, seu fim maior é a Felicidade, seu meio maior é a
racionalidade. A antiga meta das religiões, finalmente encontrou o
método da Ciência. Faço meus sinceros votos que esta união prove ser
próspera e duradoura e que renda belos frutos para nós e para todas as
gerações futuras.
II
...aonde o filho do niilismo mata o próprio genitor.
"Vida é fonte de alegria, e o nosso pecado original é que temos
tido muito pouca alegria." - Nietzsche (1844 -
1900)
Quantas dores não conhece o homem? Fome é dor, doença é dor,
solidão é dor, a morte de entes queridos é terrível! E quantos
prazeres não conhece o homem? A alimentação é prazerosa, o amor é
prazeroso, a amizade é prazerosa, o riso é prazeroso, o sexo é
prazeroso, ver os filhos nascerem e crescerem é prazerosissimo. Mas de
onde vem tanta dor e tanto prazer? Porque às vezes sofremos e às vezes
gozamos a vida? Afinal de contas, qual é o objetivo de tudo isso?
Por muito tempo não houve respostas para estas perguntas. As dores
foram consideradas castigos do além ou provações dos céus
metafísicos. Os Prazeres foram considerados presentes dos deuses ou
tentações das forças infernais. Não havia certeza, somente milhares
de especulações, confirmadas quando muito por um livro de autoridade e
por tradições aparentemente responsáveis. A humanidade estava fadada
a não ter certeza, estava condenada a ter que ter Fé. O sentido da
vida para a grande maioria passou então a ser agradar aos seres
misteriosos que tinham poder sobre nossas dores e prazeres, e neste
sentido a imaginação humana voou alto.
Voou tão alto de fato que chegou aos céus e lá não encontrando nada
voltou os olhos para a Terra. Sim, a terra.
lá deveria estar a resposta. Porque tanta dor? Porque tanto prazer? A
dor é ruim ou boa? O prazer é bom ou ruim? Qual o objetivo de tudo
isso?
Com o conhecimento
acumulando, mentes sensatas foram percebendo algo de comum as dores e
prazeres. Todas elas tinham de fato um objetivo maior. Notaram que no
estado natural das coisas à dor representava sempre perigo e ameaça
para a vida do ser sensível enquanto prazer estava sempre relacionado a
segurança, saúde e ao bem do mesmos ser. Mas esta dor e este prazer
atendiam a um interesse mais amplo do que ao simples contentamento do
organismo. O próprio contentamento era somente um veiculo para um fim
maior.
O conhecimento continuou sendo acumulado, o homem entendeu o
funcionamento da terra e dos céus. Conheceu a posição e o movimento
das estrelas. Descobriu as leis que regem o tempo e o espaço. Revelou
os mistérios da matéria e da energia. Desvelou os segredos da vida e
entendeu os processos da morte. Compreendeu o processo da evolução
onde pequenas mudanças garantiam ou não a sobrevivência dos
organismos e percebeu que estas mudanças ocorriam dentro de seu código
genético.
Percebeu então, de forma muito clara que todas as suas dores e prazeres
estavam relacionados a este seus propósito maior. Tudo aquilo que ele
sentia como sofrimento revelava que o seu imperativo genético de
sobrevivência estava sendo contrariado. Tudo aquilo que ele sentia como
prazeroso atendia as necessidades genéticas de eterna perpetuação. O
Prazer e a felicidade eram recompensas a sim, não de deuses
desconhecidos mas do próprio elemento da vida que o formou.
Percebeu, e agora lhe estava muito claro,que toda a Felicidade está de
certa forma ligada a uma utilidade genética muito mais antiga. Os genes
aprenderam a nos dar Felicidade em troca de sua perpetuação e os que
não aprenderam simplesmente não foram perpetuados. Os organismos que
tiveram sucesso no processo da evolução foram aqueles que agiram
buscando Felicidade, e assim, sem saber colaboravam para a perpetuação
de seus genes. Se não fosse assim, se nossos atos não fossem úteis
para a perpetuação genética, há muito já teríamos sido extintos.
Não haveria vida, e portanto não haveria sentido da vida para
procurar.
É para isso que o ser humano existe, somos o resultado de milhões de
anos de evolução e cada parte de nosso corpo responde a um único
propósito; fazer com que nossos genes sobrevivam ao máximo através
das gerações. O Genismo propõe que não neguemos nossa natureza real
como veículos perpetuadores de genes, mas que pelo contrario ajustemos
nossa mente e nossa cultura a esta inegável realidade biológica que
compõem a condição humana. É reconhecendo esta nossa natureza
última e não apelando para mitos e fantasias que o ser humano
individual e coletivamente estará apto a potencializar pelo uso de sua
própria razão o máximo a sua Felicidade que se pode sentir.
Viver pelo bem dos genes é viver pelo nosso próprio bem. Somos os
nossos genes, portanto lutar pela imortalidade deles é lutar por nossa
própria imortalidade. Os genes conspiram desde a aurora da vida por
seus interesses, e buscando a própria perpetuação acabaram nos
legando a Felicidade. Façamos então o mesmo, conspiremos por nossos
interesses e buscando a nossa Felicidade lhes legaremos a perpetuação.
Entraremos assim num circulo virtuoso que resultará, enquanto não for
corrompido, em cada vez mais perpetuação e mais Felicidade. O Sentido
da vida esta entregue agora para ser explorado. No final das contas, o
Reino dos Céus, estava mesmo dentro de nós.