O Gene Libertador
por Matt Ridley


Não faz mais sentido pensar em natureza X criação ou em genes X ambiente, pois falar em desenvolvimento humano é falar de duas coisas que estão inextricavelmente interligadas

O GENE LIBERTADOR

Divulgação Edward Egelman/University of Minnesota

Folha de São Paulo, domingo, 08 de junho de 2003

por Matt Ridley

Quando os genes vieram à luz, perto do final do segundo milênio da Era Cristã, encontraram um lugar já preparado para eles à mesa da filosofia. Eram as Parcas da mitologia antiga, as entranhas da predição oracular. Eram o destino e a predeterminação, os inimigos da escolha. Eram restrições impostas à liberdade humana. Eram os deuses. A própria expressão "determinismo genético" se tornou sinônimo do inevitável.

A imagem é falsa. Agora que já afastamos o véu que encobria o genoma humano e pudemos vislumbrar um pouco do que os genes realmente fazem, começa a vir à tona uma visão mais libertadora.

A natureza ["nature"] humana é realmente produto dos genes em cada um de seus pormenores, mas a criação ["nurture"] também é, pois os genes passam tanto tempo reagindo às nossas ações quanto levam para causá-las. Os genes não restringem a liberdade humana -eles a possibilitam.

Considere o gene FOXP2 no cromossomo 7, isolado recentemente pelo grupo de Anthony Monaco no Centro de Genética Humana da Fundação Wellcome, em Oxford (Reino Unido). Mutações nesse gene causam deficiências específicas de linguagem -o gene parece ser necessário para o desenvolvimento adequado da fala e da linguagem humanas.

No entanto, ninguém sonharia em argumentar que o FOXP2 "determina" a fala. Mais exatamente, ele permite que a mente humana absorva, a partir das experiências vividas na primeira infância, o aprendizado necessário para falar. Ele possibilita a criação. Charles Darwin dizia que a linguagem é "um instinto de aquisição de uma arte".

É muito mais esclarecedor pensar em genes como mecanismos da natureza humana do que enxergá-los como os causadores dela; eles são engrenagens, e não deuses

De onde tiramos a idéia de que os genes são como implacáveis manipuladores de fantoches, imunes à influência externa?

Na década de 1890, o biólogo alemão August Weismann decepou as caudas de 57 gerações de camundongos e, a partir deles, criou uma nova geração. Os filhotes nasciam com caudas normais -logo, ele argumentou, Lamarck estava enganado quando afirmou que as características adquiridas modificam os elementos hereditários na linhagem de células germinativas [gametas].

Traduzido em termos moleculares, o argumento de Weismann assume a forma do "dogma central" de Francis Crick, segundo o qual a informação flui do gene para fora, e não de volta a ele.

A experiência não modifica as sequências dos genes, exceto por meio de mutações raras e aleatórias. O dogma de Crick continua em grande medida verdadeiro -talvez inteiramente. Mas, como Crick reconhece plenamente, ele não explica a forma como a informação de fato retroage sobre o gene. A sequência codificada é, realmente, imune às influências externas, mas a sequência expressa [em uso na célula], não.

Os genes são ligados e desligados por fatores de transcrição, que se ligam a suas sequências promotoras, e as ações das promotoras estão à mercê de fatores externos.

A experiência pode não modificar a sequência de um gene, mas pode alterar sua expressão.

Analisemos um exemplo. Os 17 genes CREB são uma parte vital do mecanismo do aprendizado e da memória. Se um deles não estiver funcionando, é impossível formar a memória de longo prazo.
O trabalho dos genes é alterar as conexões entre os nervos para formar uma nova associação, e eles são acionados em tempo real quando o cérebro guarda uma nova memória.

A transcrição dos genes é controlada pelo comportamento; o ato de aprender é que aciona os genes.

Paixão molecular

Vejamos agora outra maneira pela qual natureza e criação trabalham em conjunto -mais uma vez, as sequências promotoras estão na base de tudo.

O gene receptor da vasopressina, que nos seres humanos se situa no cromossomo 12, é controlado por um promotor cujo comprimento varia de uma espécie para outra.

A expressão desse gene em determinadas partes do cérebro dos roedores parece ser necessária para que eles formem vínculos monogâmicos de casal -para que se apaixonem, por assim dizer (as substâncias vasopressina e oxitocina são pequenos hormônios peptídicos que estimulam o comportamento de formação de vínculos).

O rato-calunga das pradarias, por exemplo, possui uma inserção de 460 pares de bases [as "letras" químicas do DNA] no promotor do gene, algo que está ausente em seu parente próximo, o rato-calunga montanhês. Isso tem o efeito de fazer com que o gene seja expresso em uma parte do cérebro do rato das pradarias que não está presente no rato montanhês. Faz com que aquela parte do cérebro seja sensível à vasopressina, uma molécula liberada no cérebro pelo ato sexual. A consequência disso é que o rato das pradarias macho se torna, por assim dizer, "socialmente dependente" das fêmeas com as quais manteve relações sexuais, enquanto o rato montanhês é socialmente indiferente a suas parceiras do passado.

De acordo com Tom Insel e Larry Young, da Universidade Emory, em Atlanta (EUA), isso explica a monogamia da primeira espécie e a poligamia da segunda.

O promotor mais longo ofereceu ao animal a possibilidade de se apaixonar por suas parceiras sexuais. Agora vem a parte interessante. O gene receptor da vasopressina no ser humano é bastante parecido com o do rato-calunga das pradarias, tanto em termos do comprimento do promotor quanto em seu padrão de expressão. Mas ele varia de comprimento entre indivíduos da mesma espécie. Nas primeiras 150 pessoas cujos genes Insel estudou, ele constatou 17 comprimentos diferentes de promotores.

Poderiam essas variações provocar diferenças na capacidade de cada pessoa de manter um vínculo monogâmico?
Não seria inteiramente surpreendente: a propensão para o divórcio é altamente passível de ser herdada, e as pessoas adotadas são mais semelhantes a seus pais biológicos do que a seus pais adotivos, nesse aspecto.

A mudança de enfoque do genoma codificado para o expresso vai alterar os termos do debate sobre a natureza humana, tanto para a ciência pura quanto para a aplicada.

Por exemplo, uma pesquisa de Avshalom Caspi e seus colegas no Instituto de Psiquiatria de Londres, divulgada no ano passado, oferece uma pista fascinante sobre como o comportamento anti-social pode ser afetado por uma interação entre genes e ambiente.

Quando eles examinaram um grupo grande de neozelandeses em busca de evidências de que abusos sofridos na infância pudessem induzir o adulto a apresentar comportamento anti-social, constataram que podem, sim -mas que isso acontece de maneira muito mais marcante em pessoas de determinado genótipo.

Homens que haviam sido maltratados quando crianças e que apresentavam genes
"de baixa atividade" para a monoamina-oxidase-A [MAO-A] no cromossomo X eram muito mais propensos a ter problemas com a lei, a descrever-se como violentos e a serem vistos como anti-sociais em testes de personalidade.

Aqueles que tinham genes "de alta atividade" eram amplamente resistentes aos efeitos de maus-tratos na infância. A diferença entre os genes de alta e de baixa atividade reside, mais uma vez, no comprimento dos promotores: promotores longos e curtos produzem baixa atividade, promotores intermediários produzem alta atividade (as mulheres são menos propensas a manifestar esse efeito porque possuem um cromossomo X a mais).

 

Miopia alfabetizada

A miopia funciona da mesma maneira.
Assim como os maus-tratos causam comportamento anti-social apenas em quem possui genes suscetíveis a isso, a leitura provoca miopia apenas em quem possui genes suscetíveis.

Além disso, os genes causam miopia unicamente nas pessoas que aprendem a ler. Em sociedades em que poucas pessoas lêem, a miopia estará mais estreitamente correlacionada com a leitura do que com os "genes da miopia".
Mas, numa sociedade em que todos aprendem a ler, apenas aqueles que apresentam genes suscetíveis se tornam míopes.

Assim, quanto mais poderoso o fator ambiental -no caso, a leitura-, tanto mais, e não menos, os genes parecem ser importantes. A miopia é mais passível de ser "herdada" numa sociedade alfabetizada do que em uma em que o nível de instrução é baixo, assim como o QI [quociente de inteligência] é mais passível de ser herdado numa sociedade com alto grau de instrução do que numa com baixo nível de escolaridade.

Logo, é muito mais esclarecedor pensar em genes como mecanismos da natureza humana do que enxergá-los como causadores dela. Eles são engrenagens, não deuses.

Em seu livro recente "Freedom Evolves" [A Liberdade Evolui], Daniel Dennett argumenta que os organismos podem, por meio da evolução, adquirir a capacidade de evitar a gordura.

A capacidade de sair do caminho de um predador, de pressentir o perigo, de imaginar o futuro, de fazer uma pergunta a alguém ou de inventar vacinas são todas, nesse sentido, diferentes graus de liberdade do inevitável.

Visto dessa perspectiva, possuir um gene FOXP2 que nos permite aprender a linguagem não restringe nosso livre-arbítrio, mas o aumenta. Até mesmo a própria ciência amplia o livre-arbítrio.

Saber que você possui um instinto permite que você decida se vai dominar esse instinto. Quanto mais aprendermos sobre o genoma, mais liberdade vamos encontrar e conquistar.

Matt Ridley é autor do livro "Nature via Nurture" (editora Fourth Estate, 2003). Texto publicado originalmente na revista "New Scientist"

Tradução de Clara Allain

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C e-mail 2293, de 05 de Junho de 2003.
Instituto Salk consegue criar neurônio motor

Usando embriões de galinha, eles foram capazes de ativar genes cruciais para obter um tipo específico de célula nervosa

Cientistas do Instituto Salk, na Califórnia (EUA), publicaram artigo na revista especializada "Neuron" (http://www.neuron.org) com a descrição de um método para levar células-tronco -tipo de célula capaz de se transformar em outras células do corpo- a se diferenciarem em neurônios (células nervosas).

Usando embriões de galinha, eles foram capazes de ativar genes cruciais para obter um tipo específico de célula nervosa, os neurônios motores, que o corpo usa para mover músculos.

No futuro, a técnica poderia ser usada para tratar lesões na medula espinhal e doenças como mal de Parkinson.
(Folha de SP, 5/6)

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NANOTECNOLOGIA

Cientistas japoneses usam biomoléculas para encapsular materiais na escala de milionésimos de milímetro

Técnica imita a vida para criar "nanocaixa"

SALVADOR NOGUEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Projetar embalagens para CDs e fitas cassete é uma tarefa complexa (a julgar pelos resultados), mas construir cápsulas para uma dúzia de átomos é muito pior. Após anos de soluções problemáticas, um grupo de pesquisadores japoneses decidiu seguir 3 bilhões de anos de experiência da natureza e usar proteínas, obtendo os melhores resultados já vistos no encapsulamento de nanopartículas.
Esse procedimento pode parecer inútil à primeira vista, mas, segundo os cientistas, é muito importante: com o encapsulamento, é possível evitar que as nanopartículas soltas se aglomerem, perdendo justamente as propriedades que as tornam especiais, em razão do seu tamanho.
A nanotecnologia envolve manipulação e uso de processos e sistemas na escala nanométrica (medida em milionésimos de milímetro). É nessas dimensões que os átomos e as moléculas costumam interagir.
No experimento, os pesquisadores se apropriaram de proteínas fabricadas por dois microrganismos, a famosa Escherichia coli (um dos organismos-modelo dos biólogos) e a bactéria Thermus thermophilus.
As proteínas usadas, chamadas chaperoninas, têm diversas funções em células vivas, como ajudar na montagem (enovelamento) de outras proteínas e organizar a formação dos microtúbulos (estruturas que servem como rodovias dentro da célula para o transporte de nutrientes e lixo). Seu nome vem de "chaperone", que em inglês significa algo como "acompanhante" -uma maneira de assinalar sua condição de auxiliar de outras proteínas.

Eficiência de 75%
No experimento japonês, sua função foi bem simples: a de um caixote. A equipe de Takuzo Aida, da Universidade de Tóquio, conseguiu uma taxa de encapsulamento de partículas de CdS (sulfeto de cádmio) nas chaperoninas de até 75%. Cada bolinha de CdS tinha diâmetro de 2 a 4 nanômetros (milionésimos de milímetro).
"Hoje em dia, com os métodos usuais, se você conseguir um rendimento de 50%, pode considerar muito bom", diz Edson Leite, pesquisador que trabalha com nanoparticulados na UFSCar (Universidade Federal de São Carlos).
Essas técnicas tradicionais de encapsulamento envolvem o uso de polímeros (moléculas feitas a partir de uma longa cadeia repetitiva contendo carbono) ou a manipulação das nanopartículas a partir de cargas elétricas, mas não imitam nada da biologia.
Já os resultados com proteínas fabricadas por organismos foram excelentes. O grupo de Aida não só conseguiu capturar as partículas de CdS como também promoveu sua liberação de forma controlada, dando às chaperoninas uma dose de ATP (molécula que atua como a "moeda" energética no interior da célula).
"É um excelente exemplo de biomimética, ou seja, copiar o que acontece num organismo vivo com a finalidade de estender a funcionalidade de componentes feitos pelo homem", diz Hércules Neves, pesquisador brasileiro que atualmente trabalha na Universidade da Califórnia em Los Angeles (UCLA). "Essas são ferramentas que, ao serem dominadas, nos abrirão uma série de novas possibilidades. Só o tempo dirá o que é possível fazer com elas."
"É o encontro da nanotecnologia com a biotecnologia", afirma Leite. "Estamos numa área muito interdisciplinar, e essa nova pesquisa abre um filão."

Uso milenar
Embora as aplicações dessa nova área da ciência e da tecnologia estejam emergindo só nos últimos anos, o uso de nanopartículas é milenar, diz Neves. "O "negro-de-fumo", em inglês "carbon black", vem sendo usado há milhares de anos como pigmento."
"Entretanto, em grande parte das aplicações é importante fazer com que as nanopartículas não se aglutinem, pois isso faria com que perdessem algumas de suas propriedades", argumenta Neves.
O trabalho de Aida e seus colegas oferece justamente uma forma de evitar a aglutinação, além de criar uma interface compatível com aplicações da nanotecnologia não só em engenharia de materiais como em células vivas.

Versatilidade
Os nanoparticulados são mesmo versáteis, afirma Neves. "Aplicações recentes vão desde a produção de filtros solares na indústria de cosméticos até o tratamento de câncer", diz. "Mais precisamente, no combate ao câncer, uma das técnicas que têm se destacado é a hipertemia assistida por nanopartículas."
Esse método envolve a injeção de um conjunto de nanopartículas que é absorvido seletivamente pelos tecidos cancerosos. Ao aplicar um campo eletromagnético externo ao paciente, essas partículas se aquecem -ficam tipicamente entre 41C e 46C- e reforçam o efeito de tratamentos por radioterapia e quimioterapia. "Com isso, o tratamento é mais localizado e possibilita redução nas doses de radiação", diz Neves.
No estudo japonês, publicado na última edição da revista "Nature" (www.nature.com), o material particulado foi o CdS, mas, segundo Neves, "ele é aplicável a outros tipos de nanopartícula".
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Drible a dificuldade de engravidar

A infertilidade está deixando de ser uma barreira para quem decide ter filhos. No Brasil, mais de 6 mil bebês foram concebidos com fertilização artificial

do Paralela

De cada dez casais em idade reprodutiva, dois não conseguem ter filhos - um número que cresce com a fumaça do cigarro e dos automóveis. Em um terço desses casos a causa está no organismo da mulher. Em outro terço, ela está no homem. No terço restante, pode ser que os dois tenham problemas. "Mas, hoje, a maioria dos que se tratam consegue a gravidez", diz Sidney Glina, urologista do Hospital Albert Einstein, em São Paulo. As chances de obter a fertilização artificial numa única tentativa subiram de 5% para até 54%. "A dor de não conseguir gerar um filho é comparável à de quem perde um ente querido", observa Debora Seibel, psicóloga que trabalha com pessoas inférteis no Centro Huntington de Medicina Reprodutiva, em São Paulo. "É como se fosse um luto por quem ainda nem nasceu", diz. Esse drama é experimentado por cerca de 7 milhões de casais brasileiros.
O que pode acontecer na mulher
Às vezes, os óvulos têm defeitos ou não passam pelas trompas

do Paralela

Dentro do ovário: Algumas mulheres nunca ou quase nunca ovulam, ou seja, não amadurecem seus óvulos. Outras liberam óvulos defeituosos ou ainda imaturos para serem fecundados. Esses problemas geralmente ocorrem porque os hormônios que controlam o funcionamento dos óvarios estão muito desregulados.

Na passagem da trompa: Infecções e tumores bloqueiam esse trajeto. Além disso, na menstruação, células do revestimento do útero podem escapar para as trompas e os ovários. É a endometriose. "Essas células obstruem o caminho", diz Eduardo Motta, ginecologista de São Paulo. Isso pode ser tratado com hormônios ou cirurgia a laser.

O que pode acontecer nos homens
Muitas vezes os problemas estão na produção ou no trajeto das células sexuais

do Paralela

Vasectomia: Quem fez essa cirurgia, que corta o canal que leva o sêmen, pode tentar revertê-la, emendando as partes separadas, ou apelar para a fertilização in vitro, retirando espermatozóides do testículo com uma agulha, no máximo dois anos depois da vasectomia.

Varicocele: São pequenas varizes que aparecem na bolsa escrotal. Elas surgem quando uma veia, que deveria retirar o sangue do local, muda de idéia e passa a bombeá-lo para lá. Com isso, a temperatura aumenta e a produção dos espermatozóides é interrompida pelo calor. A solução é recorrer à cirurgia e arrancar o vaso rebelde.

Na produção: Há homens que não têm espermatozóides. Outros produzem pouca quantidade ou tipos anormais, fadados ao fracasso. Sem contar que alguns homens têm anticorpos que destroem seus próprios espermatozóides. A saída pode ser selecionar os melhores em laboratório para a fertilização.

Pra facilitar a fertilização

do Paralela

Não existe uma posição sexual que facilite a fecundação. Mas é recomendável que a mulher repouse durante alguns minutos depois do sexo. "É que, se ficar deitada, os espermatozóides se fixarão melhor no muco no fundo da vagina", explica Agnaldo Cedenho, especialista em reprodução humana da Universidade de São Paulo. Lubrificantes devem ser evitados. "De uma forma geral, eles contêm substâncias que matam os espermatozóides", afirma Cedenho. Mas talvez a dica mais importante seja entender o funcionamento do corpo da mulher. A ovulação acontece aproximadamente 14 dias antes da menstruação. Como a vida útil do óvulo é de 24 horas e a do espermatozóide, de 48, o casal deve manter relações em dias alternados, entre o 12º e o 19º dias a partir do início do fluxo.

Fertilização mais barata

do Paralela

No começo do ano, a dona de casa Francisca Sandra Pontes da Silva Cenin, 33 anos, virou notícia. Grávida de sete meses, ela foi a primeira mulher no Brasil a engravidar usando a fertilização por ciclo natural ou espontâneo. E sua gravidez mostrou que mulheres inférteis têm uma alternativa antes de gastar uma fortuna em tratamentos para ter filhos. As mulheres que estão tentando engravidar com ajuda médica normalmente tomam remédios com hormônios que estimulam a produção dos óvulos a cada mês (em condições normais a mulher só produz um por mês). Tomando os medicamentos, que são caros, chega a produzir de sete a oito óvulos, aumentando assim as chances de que um deles seja fecundado a cada tentativa. Com a fertilização por ciclo natural, o processo de coleta e manipulação é semelhante, mas a mulher não toma esses medicamentos e a fecundação é estimulada com o único óvulo que ela produz a cada mês (o que reduz suas chances e prolonga as tentativas de fertilização).

Esse método não chega a ser uma novidade. O primeiro bebê de proveta do mundo, nascido em 1978 na Inglaterra, foi concebido dessa maneira. "O médico coleta apenas um óvulo de cada vez, por isso, as chances de a mulher engravidar diminuem. Apesar de ser mais demorado, esse processo pode ser a única alternativa para um casal que não tem muito dinheiro para pagar a fertilização tradicional. Hoje, existem várias mulheres que recorrem à fertilização para engravidar, mas infelizmente a rede pública ainda não tem condições de atender a todas", diz o ginecologista Newton Busso, especialista na área e responsável pela gravidez de Francisca.

Uma gravidez muito esperada

Mãe de três filhos - o mais velho tem 19 anos - Francisca fez laqueadura (cirurgia que impede que a mulher engravide) aos 23 anos. Mas ela casou de novo e seu marido, Ivan, queria muito ter um filho. A única alternativa era a fertilização in vitro, mas, para isso, ela precisaria desembolsar de R$ 5 mil a R$ 13 mil para pagar o tratamento. "Há mais ou menos um ano tentei engravidar usando hormônios. Logo no primeiro mês, fiquei grávida de gêmeos, mas com 15 dias perdi os bebês porque não fiquei de repouso. O Dr. Newton nos recomendou o método por ciclo natural, já que não tínhamos mais dinheiro para uma nova tentativa. No mês seguinte, recebi a notícia de que seria mãe de uma menina", conta ela, que pagou aproximadamente R$ 1,5 mil pelo tratamento.

O que você pode ter nos hospitais públicos

Por enquanto, o Hospital Pérola Byington (tel.: 11 232-3433), de São Paulo, é o único da rede pública do Brasil a oferecer aos seus pacientes a fertilização in vitro (bebês de proveta), com tratamento e medicação grátis. Os outros hospitais públicos do país que trabalham com fertilização de casais oferecem o tratamento, mas não a medicação. Atualmente, a direção do Pérola Byington está fazendo um estudo para adotar também o método por ciclo natural. Para participar do programa nesse hospital, a mulher precisa se inscrever e passar por uma consulta com os médicos. É necessário ter menos de 37 anos e estar tentando engravidar pelo menos há um ano.

Comida contra infertilidade

do Paralela

Comida ajuda a tratar alguns casos de infertilidade masculina. Laranja, limão, acerola e kiwi, frutas ricas em vitamina C, devem fazer parte do cardápio daqueles que têm dificuldades para ter filhos por causa de problemas com os espermatozóides. "A vitamina auxilia a movimentação dessas células sexuais", explica Ronaldo Leão Abud, especialista em Medicina ortomolecular. E isso é uma força para enfrentar a corrida até o óvulo na hora da fecundação.

Já a mulher que pretende engravidar precisa investir numa alimentação rica em ácido fólico, uma das vitaminas do complexo B. O consumo desse nutriente antes da gravidez e nos três primeiros meses de gestação diminui entre 50% e 70% os riscos de malformações fetais.

O poder de cada alimento

Kiwi - A vitamina C da fruta protege os espermatozóides. Um estudo da Universidade do Texas em Galveston, nos Estados Unidos, mostrou que o consumo diário de vitamina C pode reverter certos problemas de infertilidade masculina. O foco da pesquisa foi a ação antioxidante do nutriente. Ele protege a aglutinina do esperma - uma substância do sêmen responsável por evitar que as células de defesa ataquem os espermatozóides. Sem vitamina C disponível, esse componente pode ser atacado por radicais livres. Então, os espermatozóides se agrupam e perdem a mobilidade. Daí a maior dificuldade para fecundar. A dose ideal é de 200 mg de vitamina C por dia. Cada 100 g de Kiwi têm 238 mg de vitamina C.

Prós e contras

Ronaldo Leão Abud, médico ortomolecular, concorda com o estudo. "Se os espermatozóides são atacados por radicais livres, a pessoa poderá ter, sim, um problema de infertilidade." No entanto, há polêmica em torno da terapia. "Grandes quantidades do nutriente podem melhorar o estado geral do organismo, mas não acho que resolva a infertilidade", questiona o especialista em reprodução humana Roger Abdelmassih, de São Paulo. Durante dois anos, os pesquisadores americanos deram doses diárias de vitamina C a homens entre 20 e 35 anos que apresentavam problemas de lentidão dos espermatozóides. Já no primeiro mês de tratamento, houve sinais de melhora. "A vitamina C só não funcionaria nos casos em que há anormalidade na própria estrutura dos espermatozóides ou infecção nos genitais", avisa Earl Dawson, especialista em nutrição reprodutiva e um dos autores da pesquisa.

Amendoim - Rico em ácido fólico, ele impede a malformação fetal. O ácido fólico, vitamina do complexo B, seria capaz de evitar diversos tipos de malformações no feto, como a do lábio leporino. É o que revela uma pesquisa coordenada pela bióloga Maria Rita Bueno, da Universidade de São Paulo. Dados preliminares do estudo indicam que uma alteração genética faria com que a enzima MTHFR, responsável pela utilização do ácido fólico no organismo, não realizasse sua função. Mulheres com esse defeito teriam maiores chances de ter filhos com malformações. "Mas isso parece só ocorrer se, além desse fator, o consumo do nutriente for baixo", conta a bióloga. Ou seja, mulheres com casos de malformação na família deveriam comer mais ácido fólico do que o normal. "A ingestão do ácido fólico antes da concepção diminuiu a incidência de problemas graves, como a ausência de cérebro", conta o obstetra João Luiz Pinto, da Universidade Estadual de Campinas. O ideal mesmo é a mulher começar a comer alimentos ricos na substância pelo menos três meses antes de engravidar e, depois, durante o primeiro trimestre da gravidez. 30 g de amendoim têm cerca de 50 mcg de ácido fólico. Não se sabe qual a dosagem recomendada. O que se tem certeza, por enquanto, é que, para evitar defeitos graves na formação do sistema nervoso, bastariam 400 microgramas diárias do nutriente. Foi o que mostrou um estudo inglês em 1991.

Como é a fertilização in vitro

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1. Estimulado por medicamentos, o corpo libera vários óvulos que são coletados ao mesmo tempo que os espermatozóides do marido.

2. Óvulos e espermetozóides são colocados em um tubo de ensaio, onde acontece a fecundação.

3. Fecundados, os embriões são colocados no útero e começa o processo de gestação. Nem sempre todos os embriões sobrevivem. Mas, como são colocados mais de um, as chances aumentam, inclusive de o casal ter mais de um bebê sendo gerado (é por isso que quem faz esse tipo de fertilização costuma ter gêmeos ou mesmo trigêmeos). Na fertilização, o corpo só libera um óvulo, por isso, há a possibilidade de que ele não fecunde naquela tentativa. Nesse caso, o casal tem de esperar novamente o outro ciclo menstrual.

A evolução do tratamento
"Em dois anos, as novas tecnologias deixarão o tratamento ainda mais eficiente, fácil e barato", diz o médico húngaro Peter Nagy

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1978 - Fertilização in vitro
Nasce na Inglaterra o primeiro bebê de laboratório. Os médicos colocaram os espermatozóides e o óvulo num mesmo tubo, a proveta, e depois injetaram o embrião na mulher.

1992 - A técnica chamada ICSI
Na Bélgica, o húngaro Peter Nagy e sua equipe criam a injeção intracitoplasmática de espermatozóide (ICSI). Com uma agulha sete vezes mais fina que um fio de cabelo, introduzem um único espermatozóide dentro do óvulo. Com esse aperfeiçoamento, a chance de engravidar subiu para cerca de 50% por tentativa.

1998/99 - Mais Chances
Em Turim, na Itália, o médico Alessandro di Giorgio retira 10% do citoplasma do óvulo de uma mulher jovem e o coloca no de uma mais velha. "O citoplasma é o líquido que nutre o núcleo das células. Com a doação, o óvulo que estava fraco se revigora", afirma a especialista Silvana Chedid, do Hospital Beneficência Portuguesa, em São Paulo. Na Turquia e em outros países, os pesquisadores estão amadurecendo óvulos com hormônios em laboratório. A técnica poderá dispensar as famosas injeções a que as mulheres inférteis se submetem.

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