Conflitos:
Felicidade x Genes
Por: João Carlos Holland de Barcellos, agosto 2003
Thiago , vc tem razao ! Vc pegou o 'fio da meada' de um topico delicado
do genismo que, acredito, ainda precisa ser mais trabalhado.
No genismo eh dada uma grande enfase na valorizacao
dos genes, inclusive estalecendo que nossa essencia esta em nossos genes
e nao na nossa consciencia ( "Nohs somos nossos genes" ).
Esta visao sobre o ser humano nao eh apenas mais uma
das varias e arbitrarias maneiras de nos ver e sim algo que esta mais
perto de uma constatacao cientifica. A visao genista de nossa essencia
genetica esta mais proxima de um fato do que de uma forma de crença.
Essa sobrevalorizacao dos genes, portanto, faz dois
papeis :
- Esclarece algo importante sobre a nossa natureza
e ...
- Encaminha-nos a uma nova forma de encarar a vida e , essa mudanca
de paradigma, se refletira em todos os aspectos de nossas vidas .
Uma pergunta interessante que poderiamos fazer seria
: "Poderiamos rejeitar esta visao paradigmatica de nosso ser
independente das consequencias que ela possa nos trazer?"
Nao creio. Os genes construiram nossos corpos "para"
servirem como veiculos propagadores de genes e isso eh fato, nao crenca.
Por outro lado, nada faria sentido se nao houver o sentimento que eh
sentido pelo cerebro. FELIZMENTE os sentimentos mais prazerosos agradaveis
e duradouros sao aqueles que nos levam aa perpetuacao genetica. Nao
podia ser muito diferente uma vez que o proprio cerebro eh um constructo
dos genes para finalidades gene-perpetuativas e, evolutivamente, seria
de se esperar que recompensas agradaveis deveriam mesmo provir de acoes
gene-perpetuativas ( gen+ ).
Estas duas visoes, entretanto, podem levar a conflitos
do tipo "gene x felicidade". Estes conflitos podem, em principio,
existir porque nem tudo o que eh bom para a felicidade tambem o eh para
os genes. O Exemplo classico eh o da maquina da felicidade, uma especie
de "matrix individual", onde o individuo, ao se plugar na
maquina teria sua propria felicidade maximizada em detrimento de seus
genes.
Como resolver conflitos deste tipo ?
Outro tipo de problema, muitissimo mais comum, surge
quando percebemos que acoes que nos favoreceriam poderiam prejudicar
outros. Por sermos seres sociais e, por vivermos em um grupo social,
as acoes praticadas no grupo interferem na vida um dos outros e, nem
sempre, acoes gen+ para uns sao beneficas a outros.
Resumindo, entao, temos 2 tipos de conflitos no genismo
:
- O intrinseco - Onde a maximizacao da felicidade e
a maximizacao da perpetuacao genetica poderiam , em principio, divergir
ja que sao objetivos, a priori, distintos.
- O extrinseco - Onde a maximizacao de nossa perpetuacao
genetica ou de nossa felicidade poderia implicar na reducao da felicidade
ou da perpetuacao genetica de outros.
Como resolver estes problemas?
Muitos dos possiveis conflitos do tipo intrinseco podem
ser resolvidos com a aceitacao de que , na verdade, "Nós
somos os nossos genes" e que a imortalidade, via genes, eh a unica
possivel. Sendo assim, a felicidade relacionada
a imortalidade genetica deveria resolver a maioria, se nao todos, os
conflitos do tipo intrinsecos.
Os conflitos extrinsecos , e outros que pudessem eventualmente
surgir, devem ser resolvidos pelo genismo privilegiando-se a felicidade.
A felicidade do grupo deve ser sempre priorizada, via Meta-Etica-Cientifica
(MEC), quando houverem quaisquer tipo de discrepancias entre os conflitantes.
Mas , nesta avaliacao , eh importante notar que :
1- Nossa felicidade tambem faz parte da felicidade
do grupo.
2- O tempo de avaliacao deve ser o mais longo possivel
.
3- Comportamentos naturais ( instintivos ) sao mais
faceis de se seguir do que aqueles que nao o sejam.
4- Seguir uma etica seria mais simples se todos fossem
geneticamente eticos.
5- Eticas que gerem uma pressao seletiva que beneficie
genes de comportamento altruistas, em relacao aos genes
que gerem comportamento egoistas, favorecerao a felicidade do grupo
a longo prazo.
6- Os conflitos extrinsecos tenderao a desaparecer
na medida que os genes malevolos sejam extintos.
7- Embora tais conflitos sempre existirao, as normas
eticas seriam mais faceis de se aceitar, seriam menos
restritivas e menos 'dolorosas' se os individuos estivessem geneticamente
propensos a segui-las.
8- Ateh que o "problema do sentir" seja resolvido
a vida eh fundamental para que continue a haver felicidade.