O Teorema da Existência ou "Penso, Logo Existe!”
Provando a existência de uma realidade última: Além do "Penso, logo existo"
(João Carlos Holland de Barcellos, novembro/2008)

Resumo: Neste ensaio iremos provar que existe uma realidade última, realidade esta que não depende de nenhuma interpretação, de algum ser, para a sua existência. Iremos também provar que deve existir algum ser real que é capaz de interpretar alguma coisa.

Palavras chaves: Teorema da existência, Descartes, Interpretação, Ilusão, Verdade.

Neste texto, definiremos realidade –existência real- por eventos e/ou fatos que não dependam de uma interpretação (= pensamento, ou imaginação, ou sonho, ou processamento) de algum ser para que existam.

Demonstração

Iniciaremos nossa prova com “algo1”, que pode ser qualquer objeto ou coisa sendo observada ou sentida. Podemos tomar como exemplo a observação de uma maçã, ou até mesmo o próprio pensamento: a consciência.

Eu observo, ou sinto, algo1. 

Se este algo1 observado é a realidade, a prova termina.
Se Não:
Este algo1 é apenas uma interpretação (ou imaginação) de um ser1, e na verdade, não teria existência na realidade. Contudo, esta interpretação, *em si mesma*, do algo1, feito por um suposto ser1, também é algo2.

Se este algo2 é realidade, então nossa prova termina.
Se Não:
Algo2 é apenas a interpretação, de um ser2, cuja interpretação, em si mesma, é algo3.

Se algo3 existe como realidade, a prova termina.
Se Não:
Este algo3 é apenas uma interpretação, de um ser3, que chamaremos de algo4.

Assim, de forma genérica, teremos:

Se algo(i) existe como realidade, a prova termina.
Se não:
Algo(i) é apenas uma interpretação, (ou "imaginação"), de um ser(i), cuja interpretação, em si mesma, nós chamaremos de algo(i+1).
Se algo(i+1) existe na realidade, a prova termina.

E assim sucessivamente, de modo que SE nunca a interpretação corresponder a uma existência real, teremos uma recursão infinita, o que seria ilógico. Seria algo como um sonho de um sonho de um sonho de um sonho... Infinitamente. Então, para que não tenhamos este ciclo infinito, teremos que ter, em algum ponto, um fim nesta recursão. Isto significa que algum dos “algo (i)” deve ter uma existência real, isto é, não seja ele próprio uma interpretação. E provamos nosso teorema da existência: “Penso, logo, algo existE!” , ou seja, a de que existe alguma realidade se observo ou sinto alguma coisa.

Exemplos

Por exemplo: eu vejo um corvo vermelho, o "corvo vermelho" pode ser real, se não for, a minha "interpretação do corvo vermelho" pode ser real. Se não for assim, um ser pode estar imaginando, (ou sonhando), que “eu” estou imaginando que vejo um "corvo vermelho" etc..

Outro exemplo seria um universo virtual: Existem seres que não existem de forma real, estão sendo simulados em um computador. Estes seres observam algo. O que é observado também não tem existência real: é virtual. Os próprios seres e seus sonhos também não existem: são virtuais. E assim, suas interpretações também não existiriam.

Mas o computador que os interpreta, neste exemplo, seria real, e a sua "imaginação" (= seu processamento) seria real, pois o computador seria, neste exemplo, o ser que gera o universo virtual, os habitantes virtuais e também suas imaginações. Ou seja:

O que o ser virtual, no seu mundo virtual criado pelo computador, observa não é real, é uma simulação do computador. O ser virtual também não é real, é simulado, depende do processamento do computador. A interpretação do ser virtual, também não é real, pois depende do processamento do computador. A interpretação do computador (=seu processamento) que produz o ser virtual, e o que ele imagina, neste exemplo, seria a interpretação real.

Refutando Descartes

Isto quer dizer que o "Penso, logo existo" (“Cogito, ergo sum”), de Descartes, pode não ser verdadeiro, pois, o ser que pensa, como mostramos no exemplo acima, pode não ser real. Mas, como já provamos, deve haver algum nível de interpretação na qual, no mínimo, a própria interpretação é real.

Pela “navalha de ocam”, enquanto não houver evidências em contrário, deveremos ficar, para todos os efeitos, com o menor nível interpretativo como sendo a realidade: Se eu observo algo1, este algo1 deve ser tomado como algo real.

Lema: Existe uma interpretação real.

Na demonstração anterior, se algo1, que era observado, não existisse como algo real, provamos que deveria existir, em algum nível, uma interpretação real.

Agora, no caso deste algo1 observado ser real, então:
Se minha (ser1) interpretação sobre ele também é real, a prova termina.
Se não:
Posso chamar esta interpretação do ser1, sobre o algo1, em si própria, de algo2. E caímos na recursão do caso anterior, onde provamos que deve haver, em algum dos níveis, uma interpretação que seja real, e o lema está demonstrado.

Corolário: Existe um ser real.

Como corolário do teorema, podemos também provar que, se observo algo1, deve também haver algum “ser” que tenha existência real, isto é, que ele próprio não seja uma interpretação.

Prova:
Como provamos, no Lema anterior, que existe uma interpretação que é real, isto é, uma interpretação que não dependa da interpretação de outro ser para existir, então o ser que faz esta interpretação deve existir também, caso contrário, se este “ser” que faz a interpretação real, não existisse, isto é, fosse ele mesmo uma interpretação de outro ser, então sua interpretação, por definição, também não seria real, pois ela dependeria deste outro ser. Portanto, é necessária a existência de um ser real para haver uma interpretação real. E o corolário está demonstrado.

 

home : : voltar