Meta-Etica-Científica
Por: Joao Carlos Holland de
Barcellos Nov/2000
INTRODUÇÃO
QUANDO A RELIGIÃO PISA NO GRAMADO DA CIÊNCIA:
A ALEGADA SEPARAÇÃO ENTRE OS DOIS NÃO É TÃO ORDENADA
por Richard Dawkins
Um afrouxamento
covarde do intelecto aflige de outra maneira pessoas racionais
confrontadas com as religiões longamente estabelecidas (se bem que,
significativamente, não na face de tradições mais novas como
Cientologia ou os Moonies). S. J. Gould, comentando em sua coluna História
Natural sobre a atitude do papa para com a evolução, é representante
de um esforço dominante de pensamento conciliatório, igualmente entre
crentes e descrentes: "A ciência e a religião não estão em
conflito, por seus ensinamentos ocuparem domínios distintamente
diferentes
... Eu
acredito, com todo o meu coração, em uma respeitosa, até mesmo
amorosa concordata (ênfase minha) ..."
Bem, o que são esses
dois domínios distintamente diferentes, esses "Magistérios Não-sobrepostos"
que deveriam se aconchegar em uma concordata respeitosa e amorosa? Gould
novamente: "A rede da ciência cobre o universo empírico: de que
é feito (fato) e porque ele funciona dessa maneira (teoria). A rede da
religião se estende sobre questões de significado moral e valor."
Quem Possui A Moral?
Seria assim se fosse tão ordenado. Em um momento eu vou olhar para o
que o papa realmente diz sobre evolução, e então às outras afirmações
de sua igreja, para ver se elas realmente são tão ordenadamente
distintas do domínio da ciência. Primeiro entretanto, um breve parênteses
na afirmação que a religião têm alguma perícia especial para nos
oferecer em questões morais. Isso é freqüentemente aceito alegremente
mesmo pelos não religiosos, presumivelmente no curso de uma civilizada
"curvada sobre as costas" para conceder o melhor ponto que seu
oponente tem a oferecer - não importa quão fraco esse melhor ponto
possa ser.
A pergunta "O
que é certo e o que é errado?" é uma pergunta genuinamente difícil
que a ciência certamente não pode responder.
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META-ÉTICA-CIENTÍFICA
Por certo Dawkins se
refere aqui a atitudes de cunho moral. Se analisarmos a origem da moral
e uma de suas fontes, as religioes, poderemos destacar um fator e um
objetivo comum : Ordenar os individuos a um convivio harmonico e feliz.
A harmonia significa um consenso e aceitacao, por parte de todos, com
vistas a maximizar a felicidade do grupo.
Entao, o que parece buscar todo codigo etico, eh compatibilizar as
aspiracoes de cada individuo de modo a maximizar a felicidade do
grupo.
Se entendermos a felicidade momentanea como um estado mental de prazer (ou dor)
e, a feliciade, de modo geral, como um somatorio destes estados,
ponderados pelo tempo que duraram, poderemos, a priori, quantificar esta felicidade. Isso seria possível desde
que possamos medir o estado mental de prazer num dado instante.
Ou seja, se pegarmos o amago da etica, como uma norma que visa a maximizar
a felicidade do individuo dentro do grupo, o problema estara bem definido,
e assim a pergunta : "Que relacao tem, uma determinada acao, no
computo da felicidade do grupo?" que eh a traducao da pergunta
moral : "O que eh certo / ou errado ?"
Tal questao poderia entao ser tratada quantitativa e cientificamente. E
a moral cairia finalmente para o dominio cientifico !
As formulas encerram conceitos importantes. Pode-se atraves delas
fazer analises qualitativas e abrangentes mesmo sem calculos
quantitativos minuciosos. Veja, por exemplo,o principio da conservacao da energia ou
mesmo o do aumento da entropia. Pode-se deduzir muito da evolucao de
sistemas complexos, com estes conceitos, fazendo-se apenas analises
qualitativas com eles.
A formula da felicidade tambem :
Felicidade = Integral[
prazer(t) ] dt
(jocax, 27/12/1999)
Onde Prazer = Medida
quantitativa do nivel de prazer(+) ou de Dor(-) do cerebro.
A felicidade, portanto, eh o somatorio destes estados de prazer ponderados
pelo tempo q eles duram. Simples e importante. Eh bastante objetiva
tambem.
Analisando-a, poderemos ateh saber em que direcao seguir na busca da
felicidade:
Para maximizar a
Felicidade vemos que o tempo de vida eh importante pois a integral se
estende pela vida do individuo. Portanto devemos maximizar nosso tempo
de vida.
Mas nao eh soh isso : A felicidade depende de nosso estado de prazer :
Portanto devemos buscar o maior prazer. E essa eh uma solucao de
compromisso pois, muitas vezes, ao maximizarmos o prazer diminuimos o
tempo de vida!
Ponderar estas duas
variaveis esta o segredo de uma vida feliz.
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Todo codigo de etica
visa um OBJETIVO NAO CONFESSO que eh maximizar (harmonizar) a felicidade
do grupo. Porque nao confesso?
Pq, antes do jocax :-), ninguem sabia definir felicidade com precisao
matematica !!
Os principios eticos existentes portanto, nada mais sao do que regras de bolso,
para este objetivo simples. Esta eh sua verdadeira origem. Seu amago.
Agora que sabemos sua origem e podemos, em principio, quantifica-la
(desde que tenhamos uma medida para o nivel de prazer instantaneo),
poderemos tratar a etica do ponto de vista de um problema cientifico de
MAXIMIZACAO.
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Apartir de agora, ( marque a data por favor :) ) dizer se eh bom ou ruim
deixa de ser simplesmente um problema de valoracao moral arbitraria ou relativa. Desde que
assumamos que a valoracao moral esteja vinculada ao principio de
maximizacao de felicidade, a etica passa a ser um problema cientifico.
Mas vc tem razao quando diz q as pessoas nao precisam aceitar esta nova
ETICA-CIENTIFICA. Mas, nao aceitando, elas continuaram refens de preceitos religiosos arcaicos ou antigas e engessadas normas morais.
SIM !, estou deduzindo e
propondo uma nova meta-etica cientifica e conclamando a todos a
engajarem-se neste NOVO PARADIGMA META-ETICO.
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Assim, em teoria, poderiamos descobrir as melhores atitudes eticas
simplesmene avaliando o nivel de felicidade do grupo em relação a estas atitudes. Para isso, a rigor, precisariamos medir o nivel de prazer de cerebros que passaram por estas experiencias. Isso exigiria cobaias humanas dispostas a passarem por isso.
Contudo, eh bem sabido o
que causa prazer e sofrimento sem recorrer a tais experimentos
maquiavelicos. Sabemos, por exemplo, que ser roubado traz sofrimento e
ser elogiado eh prazeiroso. Ou seja, temos um conjunto grande de acoes e
sabemos avaliar, de algum modo, o prazer ou sofrimento que elas
provocam.
Mas, infelizmente, nao
temos medidas NUMERICAS para tais e, as vezes, fica dificil comparar duas
atitudes sem termos dados numericos.
Isso poderia ser feito
se tivessemos uma tabela numerica do nivel de prazer e dor relativo aas
varias acoes humanas. E esta tabela poderia ser feita se tivessemos esta medida
instantanea do grau de felicidade.
Esta tabela serviria para
compararmos o grau de felicidade ( prazer ou dor ) em diferentes situações e, assim, dispormos de uma importante ferramenta para avaliarmos, por exemplo, as possiveis normas eticas
e selecionar aquelas que maximizassem a felicidade.
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Aqui surge uma importante BIFURCACAO desta teoria toda. Vejo dois niveis
de codigo etico:
TIPO 1- As regras de
bolso, estaticas, imutaveis, rigidas :as de oredem Pratica.
TIPO 2- As regras dinamicas dependentes do tempo, das circunstancias, da
situacao de contorno particular.
As primeiras, Tipo 1,
sao as convencionais as q estamos acostumados regras simples e praticas
q por serem fixas MUITAS VEZES NAO MAXIMIZAM a felicidade !! Eh aquela
historia q vc colocou do bandido que pergunta a vitima onde esta o
refem: Se a vitima MENTE o bandido leva o refem e infringe a norma se
ele nao mente e segue a norma ( nao mentiras ) o refem eh capturado.
Percebe q estas normas eticas rigidas , Tipo 1, deixam a desejar ?
As do Tipo-2 soh
possiveis com a etica dinamica que AVALIA o grau de felicidade da ACAO
NO CONTEXTO EM QUE ELA OCORRE e isto poderia ser feito considerando o
PRINCIPIO DE MAXIMA FELICIDADE DO GRUPO ou seja maximizar a equacao de
felicidade. SIM, claro q esta avaliacao NEM SEMPRE eh facil de se fazer
mas, assumindo q pocamos avalia-la com algum grau de precisao ja teriamos
alguma coisa. As discussoes eticas passariam a ser mais objetivas. Eh o
principio da politica : Qual acao politica trara o maior retorno de
felicidade para a populacao?
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a) Por que a sociedade humana não é como a sociedade das formigas, ou
seja, uma sociedade cujas relações entre os indivíduos são
geneticamente programadas? Ou, dito em outros termos, por que as normas
que regem as sociedades humanas são, em larga medida, normas que podem
ser "violadas" pelos indivíduos?
Basicamente porque estas
2 especies seguiram caminhos evolutivos diferentes ocupando nichos
distintos.
As formigas, diferente
dos humanos, nao desenvolveram um cerebro grande e/ou complexo o
suficiente para permitir a propagacao memetica. Assim, a programacao
genetica das formigas nao sao conflitadas com memes de especie alguma e,
uma vez que todas herdem a mesma programacao genetica, todas agirao da
mesma forma. No homem, alem dos genes existem os memes : Forma de
instrucoes culturais que induzem o ser humano a agir ou se comportar
segundo estas instrucoes.
Como os memes podem ser
muito volateis e tambem muito mutaveis : UMA DAS RAZOES DESTA
MUTABILIDADE EH O FATO DE QUE, DIFERENTEMENTE DOS GENES, OS MEMES SAO
TRANSMITIDOS ANALOGICAMENTE. ( Este insight me ocorreu agora e eh
preciso verificar com rigor esta assercao ) Esta mutablidade permite q
seres sigam camimhos muito discrepantes entre si. Outro fator q se deve
levar em conta eh o conflito intra-comunidade Como a maioria da formigas
(as operararias ) sao estereis um grande foco de conflito genetico eh
eliminado.
b) O que explica essa
distinção entre norma jurídica, garantida coercitivamente por uma
autoridade externa, o Estado, e norma moral, sancionada por uma
autoridade interna, a "consciência"? Qual a razão desse
duplo grau de sanção?
Note q ambas as normas ,
a juridica e a moral, atuam muitas vezes no mesmo objeto ( Por exemplo :
nao roubaras, nao mataras.. etc.. ) Acredito q a sancao juridica decorra
do pacto social humano que eh organizado atraves de normas sociais
escritas que devem servir de fonte da moral grupal. A sancao interna eh
uma forma de adequacao cultural social para que a juventude seja
doutrinada ao convivio grupal e ACEITE as normas sociais com mais
naturalidade.
c) Existe uma norma ou um conjunto de normas deontológicas universais,
isto é, válidas para a todas as épocas da história e para todos os
homens, que estabeleçam um bem e, por conseguinte, um mal absoluto?
(absoluto não no sentido de "cósmico", transcendente à espécie
humana, mas no sentido de que todos os homens possam discernir como um
mal.)
Acho q sim. Veja por
exemplo estas :
-Nao se deve tomar o
filho dos outros.
-Nao se deve roubar pertences alheios.
-etc..
Acho poderia ser compilada uma grande lista destas regras eticas basicas
que serviriam como moldes para as normas jutidicas modernas.
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Nao eh a primeira vez ,
nem sera a ultima, que para nao levarem em conta
o que digo, as pessoas, como voce, dizem que eu nao estou falando serio.
Eh um modo de fugir do novo paradigma e nao encarar a teoria de frente.
Ao mesmo tempo, busca afugentar qualquer outras pessoas que tentam
perceber algum indicio de verdade no novo paradigma.
"Eu sei que o q vc diz nao eh para se levar a serio!", Eh um
modo de tentar desacreditar totalmente, perante os outros,o autor
revolucionario e sair da discussao, quem sabe, com uma desculpa para si
mesmo.
Existem pessoas que PRECISAM de DOGMAS sejam religiosos sejam eticos. Eh
uma maneira delas se sentirem seguras, uma ilha num oceano memetico
mutante e perigoso : "Onde estas revoltas aguas nos levarao
?". O Dogma faz o papel desta ilha, deste porto-seguro.
Nada de mais se esta ilha-dogmatica nao evitasse que estas aguas
turbulentas nos levassem, quem sabe, a alguma praia paradisiaca !!
Quando eu propus um criterio cientifico para a verificacao e mesmo
construcao da etica, eu estava propondo uma REVISAO dos dogmas eticos
atuais atraves de uma nova luz : Uma analise cientifica tendo por base o
criterio comparativo de felicidade.
Verificar se isso ja existe? Nao me importo. O importante eh ter a a
base teorica construida e, se eu perder a paternidade da ideia, o
prejuizo eh soh meu. Caso contrario ganharemos todos.
Sim, Claro q para a construcao da meta-etica-cienifica ( que deveria
originar todas as eticas ) eu assumi, como principio, que se deve buscar
a maximizacao da felicidade do grupo. Pode-se argumentar q este eh um
princio etico tambem... Que seja, mas eh o unico, assim como a partir do
principio da conservacao da energia toda(?) a fisica classica pode ser
levantada assim sera tambem para as novas eticas.
A meta-etica-cientifica poe em cheque toda dogmatizacao etica atual e
propoe uma revisao dela com base em criterios objetivos e cientificos.
Claro que nem tudo esta feito. Mas a base ja esta definida, resumindo:
Toda etica deve ter como
objetivo maximizar a felicidade do grupo. A felicidade de cada individuo
eh dada pela formula :
Felicidade = Integral(
Prazer(t) ) dt
Onde Prazer(t) eh um
valor numerioco associado ao bem estar do individuo no instante t ( que
pode ser um mal estar ). O prazer(t) poderia ser medido atraves do nivel
de excitacao neuronal nas areas do cerebro responsaveis pelas sensacoes,
dores e prazeres a medida do bem estar instantaneo eh um topico ainda em
aberto.
Podemos observar, pela formula acima, que a felicidade maxima do
individuo, eh dada quando se maximiza o tempo de vida dele e tambem do
seu prazer.
Nem sempre, contudo, maximizando-se o prazer aumenta-se o tempo de vida
por vezes ocorre o inverso. Portanto a maximizacao da felicidade esta em
uma solucao de compromisso entre o prazer instantaneo e o tempo de vida.
O problema principal da
maximizacao do prazer do grupo surge da constatacao de que nem sempre o
que traz mais felicidade para o individuo tambem traz para o grupo e,
muitas vezes, ocorre o inverso. O codigo de etica deveria entao procurar
maximizar a felicidade do grupo em detrimento da felicidade de um
individuo particular de modo q todos possam, sob esta nova perspectiva
restritiva, ter sua felicidade maximizada.
Para q se possa comparar numericamente os efeitos que diversas acoes
causam na felicidade das pessoas, propus um tabelamento destes efeitos
no que chamei de "tabela da felicidade".
Esta tabela, construida
a partir de medicoes quantitativas da funcao prazer(t) serviria para
comparar e mesmo construir uma escala de valores de acoes ou mesmo
servir de base para a construcao de um novo sistema etico.