Este ensaio procura fazer uma análise qualitativa(*), sob o ponto de vista da MEC (**), sobre os aspectos éticos de se usar carne animal como alimento .
A maneira mais científica de se tratar conflitos de natureza ética e/ou moral é através do uso da meta-ética-científica (MEC).
Segundo a MEC, a ação eticamente mais correta é a que fornece um maior aumento na felicidade do grupo pelo maior período de tempo.
Para um dado cardápio genérico médio (‘x'), envolvendo carne animal e vegetal, chamemos de F(V,x) a felicidade média dos vegetais envolvidos na cadeia alimentar; F(H,x) a felicidade Humana envolvida e F(A,x) a felicidade média dos animais envolvidos e que serão destinados ao abate.
A Felicidade total do sistema para este cardápio, F(T,x), deve ser expressa como a soma das felicidades de cada subgrupo envolvido. Assim:
F(T,x) = F(H,x) + F(A,x) + F(V,x) [1]
Nosso objetivo é avaliar a felicidade total com dois tipos de cardápios: O primeiro, x=‘c', envolveria, predominantemente a carne animal e o segundo, x='v' seria um cardápio predominantemente vegetariano. Deveremos comparar os valores F(T,c) com F(T,v).
Preliminarmente, podemos supor, até prova em contrário, que, os seres vegetais não tenham capacidade de sentir. Mas, mesmo se tivessem alguma, ela deveria ser de uma ordem de magnitude tão pequena que, para efeito de cálculo, poderíamos desprezá-la. Assim sendo, a morte destes seres verde não precisam ser computados na avaliação da felicidade. Isto é:
F(V,x) = 0 [2]
E portanto:
F(T,x) = F(H,x) + F(A,x) [3]
Ainda podemos desmembrar as felicidade envolvidas utilizando o valor médio da felicidade (Fm) de cada indivíduo do grupo. Assim, se ‘N' é o número de seres humanos e ‘M' é o número de animais envolvidos, teremos:
F(H,x) = N * Fm(H,x) [4]
F(A,x) = M * Fm(A,x) [5]
Numa dieta não vegetariana (x='c'), o número de animais nos criadouros e fazendas destinados ao abate é consideravelmente grande e os consumidores, responsáveis pela manutenção da comercialização da carne, pagam pela manutenção e a sobrevivência deste rebanho. Se estes animais forem bem tratados, o valor da felicidade média de cada animal é maior que zero caso contrario a felicidade média seria negativa.
Se abolíssemos a carne e tivéssemos uma dieta estritamente vegetariana (x='v'), a felicidade média humana cairia um pouco, já que não teríamos a possibilidade da carne no cardápio, por outro lado não deveríamos esperar que a pecuária continuasse a existir e isso significaria, a médio ou longo prazo, a morte de, literalmente, centenas de milhões de animais que, deixando de nos ter utilidade como fonte de alimentos, não mais seriam alimentados ou cuidados e, caso sobrevivessem à extinção, o total de sua felicidade deveria tender a zero. Isto é, a longo prazo, numa dieta vegetariana (x='v'), teríamos:
M = 0 è F(A,v) = 0 [6]
E também:
Fm(H,v) < Fm(H,c) [7]
Se chamarmos de DLTA a diferença na felicidade média do homem do cardápio estritamente vegetariano e livre, teremos:
Fm(H,c) – Fm(H,v) = DLTA è Fm(H,c) = Fm(H,v) + DLTA [8]
Substituindo estes resultados em [3], teremos a felicidade total para a dieta com carnes:
F(T,c) = N * ( Fm(H,v) + DLTA ) + M * Fm(A,c) [9]
E, para a dieta vegetariana:
F(T,v) = N * Fm(H,v) [10]
Para compararmos a felicidade total entre a dieta carnívora e a vegetariana, subtraímos uma pela outra e se chamarmos esta diferença de G, obteremos:
G = F(T,c) – F(T,v) = N * DLTA + M * Fm(A,c) [11]
Se ‘G' for positivo então a dieta não vegetariana seria eticamente mais justa, pois traria mais felicidade geral. Caso contrário, deveríamos migrar para uma dieta a base de vegetais.
Analisando a fórmula [11] acima, vemos que o único caso no qual G pode ser negativo ocorre quando a felicidade média dos animais, numa dieta carnívora, é negativa. Isto ocorre quando estes animais, em virtude de maus tratos na sua criação ou sofrimento no abate, têm seu grau de felicidade num nível abaixo de zero (infeliz), isto é o total de sofrimento foi maior do que o de prazer no decorrer de suas vidas.
A equação nos mostra também que se o prazer em se comer carne for suficientemente grande de modo a superar o sofrimento de suas vítimas, ainda assim, a felicidade total seria positiva justificando este regime alimentar, caso contrário, deveria ser considerado anti-ético este tipo de alimentação.
Então, para que tivéssemos felicidade máxima, o ideal estaria em garantir que os animais destinados ao abate deveriam ter uma vida feliz enquanto vivessem, de modo que o período em que estivessem vivos compensasse suas mortes prematuras. E, como parte deste processo, o momento do abate também não deveria ser como hoje e sim com o mínimo de sofrimento.
Para que isso se efetivasse a sociedade deveria criar algum órgão de controle, governamental ou não, que seria responsável em se fazer inspeções periódicas na qualidade de vida destes criadouros e emitir um selo ou certificado atestando, para a sociedade consumidora, de que os animais que de onde originaram a carne foram bem tratados e alimentados e tiveram uma boa qualidade de vida antes de serem sacrificados. Caso contrário, a carne não deveria ser consumida.
Este exemplo serviu para ilustrar como a MEC pode ser utilizada para decidirmos, de forma clara e objetiva, qual escolha deveríamos fazer dentro de padrões éticos baseados em felicidade.
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(*)Qualitativa porque os valores numéricos das felicidades envolvidas deveriam ser buscadas no campo.
(**) Não computamos os efeitos secundários da extinção do rebanho como o desemprego ou a migração da força de trabalho da pecuária para a agricultura etc....
Leia mais sobre a MEC aqui:
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