Além do Genismo: O projeto Felicitax e a construção de Deux
Por: Joao Carlos Holland de Barcellos
Em Julho/2003 , versão Junho/2006

“Deus não existe, mas Deux pode ser construído”. (Jocax)

 

 

FELICITAX é a última e mais exótica grande idéia jocaxiana.

Matheus,
O ponto que eu toquei de leve, e que você insistiu para que eu falasse, é tão importante que eu há muito tempo procuro um bom nome para expressar a idéia. Eu queria um nome que exprimisse um limite na nossa “busca final”. Pensei em vários, mas não tinha achado nenhum que fosse realmente “digno” deste conceito.

Vou chamá-lo então de "FELICITAX". Talvez esta seja minha última GRANDE idéia divulgada e, na verdade, eu a guardo a um bom tempo e pouquíssimas pessoas tiveram o privilégio de conhecê-la.

Minha intenção era publicá-la no meu livro sobre genismo, como sendo seu último capítulo, que deveria ser intitulado como: "Além do Genismo". Embora Felicitax não seja uma decorrência direta do genismo, com certeza, Felicitax pode ser desenvolvido a partir da “Meta-Ética-Científica” da qual o genismo é um ramo. (In) felizmente, algum gene (malévolo?) torna difícil para eu manter segredo de grandes idéias. Bom, de qualquer forma, fica aqui registrada mais esta. Vou então resumir Felicitax mesmo sob a pena de não ser entendido. Posteriormente, espero, escreverei algo mais bem explicado. Agora chega de “enrolação”!

Introdução

O objetivo do genismo é a felicidade e não podemos consegui-la, em todo seu potencial, se não conhecermos o que realmente somos. Entretanto, a biologia evolutiva nos dá a resposta: Somos “máquinas gene-perpetuativas”.  O genismo parte desta constatação científica para propor uma filosofia, cujas idéias se refletem em nosso cotidiano, tornando-se também uma filosofia de vida. O genismo quer então que não neguemos nossa condição biológica intrínseca de "máquinas gene-perpetuativas". Esse é o primeiro passo para reduzir os conflitos internos, aqueles que são provocados pela dicotomia cultura vs biologia – conflitos memes x genes - A integração de nosso “ser cultural” com nosso “ser biológico” faz reduzir este tipo de conflito patrocinando menos sofrimento e mais felicidade. E se, além disso, percebermos que nosso verdadeiro “eu” não é a nossa tradicional consciência e sim o que eu chamei de "eu-genético" (nossos genes), isso faz com que ganhemos também uma forma de imortalidade, e por isso, mais felicidade.

Mas a felicidade é definida através do tempo e do sentir [2]. A felicidade, por si só, pode ser considerada uma entidade autônoma. A felicidade não precisa, e nem deve, estar restrita, egoistamente, a nós ou à nossa espécie e nem mesmo a seres biológicos!

O genismo também é uma teoria científica: é um método, testável, que visa à maximização de felicidade de seres biológicos evoluídos por seleção natural. Contudo, antes do advento da Meta-ética-científica (MEC), não havia uma abordagem científica para a ética ou a moral. Não havia um instrumento científico que pudesse abordar de maneira objetiva a utilização das teorias científicas, ou seja, da política, pela ciência. E como a MEC ainda é totalmente desconhecida, e está em estado “embrionário”, a utilização política das teorias científicas, para o “bem” ou para o “mal”, ainda pode ser feita sem nenhum tipo de controle científico e objetivo. Assim, não é improvável que pessoas inescrupulosas ou de visão curta, de má fé ou não, possam tentar desviar o objetivo do genismo deturpando-o. Isso poderia ser feito estabelecendo-se, por exemplo, como uma decisão política, a escolha de qual GRUPO deveria ter sua felicidade maximizada. E isso é extremamente perigoso: Alguns podem querer que a felicidade, a ser maximizada, esteja restrita, por exemplo, a alguma espécie, outras, a uma nação ou País, outros ainda a um determinado grupo étnico. Entretanto, a “Meta-ética-científica”, da qual o genismo é parte, advoga que o grupo deve ser tomado como o conjunto de todos os seres sensientes (capazes de sentir) e ISSO SIGNIFICA QUE O GRUPO NÃO SE RESTRINGE À ESPÉCIE HUMANA.

Bois, gatos, cães, ratos, baratas e pulgas e tudo mais que seja capaz de sentir deveriam estar envolvidos no grupo genista uma vez que estes seres são, em princípio, também capazes de sentir. Isso, à primeira vista, parece bastante estranho, mas, como veremos, não é. O que acontece é que nosso cérebro possui cerca de 100 bilhões de neurônios e um animal como, por exemplo, uma pulga, possui, talvez, apenas algumas poucas centenas. Além disso, a função de prazer pode crescer, por exemplo, exponencialmente com a quantidade de neurônios, ou com o tipo de organização interna, e não, necessariamente, de forma linear.
 
O que eu quero dizer é os organismos não tem o mesmo peso no computo da felicidade total. A felicidade depende da capacidade de sentir de cada organismo. O sofrimento de um único cérebro humano, por exemplo, poderia ser de tal magnitude que justificasse, hipoteticamente, a eliminação de toda uma espécie que o fizesse sofrer, como a da varíola ou das pulgas, por exemplo. Dessa forma, se a capacidade de sentir humana é maior, deveríamos ter também mais direitos que outras espécies com menor capacidade de sentir. Além disso, a “meta-ética-científica” estabelece que a felicidade deve ser computada no maior período de tempo possível, assim sendo, a inteligência é um aspecto fundamental já que, através dela, se poderia evitar o fim do planeta por uma colisão de meteoro, ou mesmo evitar o fim da vida como está previsto com a explosão do sol no futuro. Tudo isso deve ser levado em consideração, (e a nosso favor), na integral da felicidade.

FELICITAX

Apesar da longa introdução acima, a grande maioria das pessoas, com certeza, não irá entender o que eu vou expor. A “ditadura da consciência” as impedirá de enxergar. Contudo, vou deixar aqui registrado, para o futuro, quando as mentes puderem enxergar um pouco além de seus próprios umbigos.

Quando eu tentei explicar FELICITAX, para algumas poucas pessoas, eu utilizei um exemplo hipotético simples, e farei isso novamente:
 
Suponha que você fique de fronte, “cara a cara”, com um simples inseto como, por exemplo, uma "formiga".  Imagine que vocês se “olhem” nos olhos, e fiquem assim, se contemplando, um ao outro, por alguns minutos. Suponha também que este inseto tivesse alguma noção de quem você é. Você, com seus mais de 100 bilhões de neurônios e sua capacidade de sentir e de pensar. A “formiga”, talvez, tenha apenas algumas centenas de neurônios e, por isso, se pudesse, perceberia, de algum modo, que sua pequena rede neural, em seu diminuto corpo, estaria contida na de quem o observa, e assim, de certa forma, SEU SER ESTARIA CONTIDO NO OBSERVADOR: Toda a percepção que ela possuísse você poderia ter, num grau maior, mas o inverso não seria verdadeiro: nem tudo que você sente e percebe poderia ser sentido por ela. Esta “formiga” hipotética “saberia” que jamais conseguiria sentir, perceber ou entender o universo como você consegue. Se ela pudesse analisar sua potencialidade ela então compreenderia que você seria quase como um "deus" perante ela. E, assim, ao perceber tudo isso, ela, talvez, o reverenciaria.

Se, por hipótese, sua vida ou a dela tivesse que acabar, e estivesse nas mãos dela a decisão, então talvez ela escolhesse por fim à própria vida para salva-lo. Afinal, o seu potencial de felicidade é muito maior que o dela e assim, de algum modo, ela continuaria a “viver” em você. A sua felicidade, sua capacidade de sentir, talvez seja milhares, talvez bilhões de vezes, superior ao da "formiga". Assim, mesmo sob o ponto de vista da medida de felicidade, seria absolutamente correta a decisão da "formiga" de dar sua própria vida para salvar a sua.

Mas e, se neste exemplo hipotético acima, nós é que fossemos a “formiga”?

Então quem seria o "você”, que estaria para nós, assim como nós estávamos para a “formiga” do exemplo acima?!?

Esse "você" não existe. Pelo menos não aqui na Terra. Mas se existisse, seria um ser de magnitude tal que, deveríamos, se pudéssemos, dar nossa própria vida para salvar a dele!

Este ser hipotético, pelo simples fato de poder sentir bilhões de vezes mais que nós, poderia aumentar MUITO a felicidade do universo. Precisamos nomeá-lo. Chamemo-lo de "Deux". Assim, se Deux existisse deveríamos, caso necessário, até darmos nossa vida para salvar a Dele.
 
Mas Deux não existe! 

CRIEMO-LO ENTÃO!

Se *tivéssemos* a tecnologia, este deveria ser o nosso objetivo. Mas, por quê? Por que deveríamos criar Deux? A resposta é simples: Porque, por definição, Deux teria uma capacidade de sentir muitíssimo superior à nossa, e, portanto, poderia aumentar em muito a felicidade do universo. Não é ético pensar apenas na nossa própria felicidade. Nem mesmo da felicidade da espécie. Raciocínios desvinculados da ética podem levar a todo tipo de barbárie. Uma ética universal, livre e perfeita, deve pensar na felicidade como uma entidade autônoma, e não atrelada a alguma espécie ou subgrupo. Sabemos bem onde se pode chegar quando se atrela direitos apenas a determinados subgrupos.

O maior problema da MEC é a quantificação matemática do “sentir”. Se este problema for resolvido Deux poderia ser construído, talvez, como um computador, caso contrário, poderia ser criado, por exemplo, como um grande cérebro biológico, algo como uma imensa massa neural imersa numa grande cuba que lhe forneceria alimento, oxigênio ou energia.

Devemos perceber que não há e nem deveria haver, limites para o contínuo aprimoramento de Deux, e assim, sua capacidade de sentir e pensar poderia ser continuamente ampliada. Portanto, Deux teria um potencial infinito. Ele próprio deveria projetar sua próxima “versão”, com módulos que poderiam ser agregados e somados a sua rede neural, ou então através de clones aprimorados. Claro que a busca pelo conhecimento poderia e deveria continuar através de Deux, pois seria a melhor forma de prever e escapar das perigosas intempéries de um Universo em continua transformação.

Assim, Deux deverá ser projetado com o objetivo de ampliar a felicidade do universo, e para isso, a principal função de Deux será ele próprio sentir prazer. Entretanto, para que a felicidade do universo seja ampliada cada vez mais é necessário que haja inteligência e conhecimento capaz de produzir tecnologia para esse fim. Portanto, Deux deve ser portador de uma inteligência que se auto-amplia a cada nova “versão” e capaz de aprender produzir e absorver cada vez mais conhecimento.

 E quanto a nós? Nós, como sendo as verdadeiras “formigas” desta história toda, deveríamos saber que, de algum modo, também estaríamos contidos em Deux. Mas, que fim nós deveríamos ter? Deux foi projetado para maximizar a felicidade do universo, acho que se estivéssemos nas “mãos de Deux” não teríamos com que nos preocupar, não é? Afinal, não estaríamos, de certa forma, contidos Nele também?
 
[]s 
Jocax

PS(1): Felicitax, em nossa era, deve ser tomado como uma entidade filosófica, ou então como um elemento de ficção científica, e não como realidade. Até ser entendida, e se tornar um projeto factível, muitos milênios deverão transcorrer.

PS(2): (Este texto esta na internet, se alguém roubar a idéia para fazer um filme, quero participação nos lucros :-)

 

[1]:Matheus Raszl
[2]: A Consciência e o Sentir: http://www.genismo.com/metatexto43.htm

 

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