Introdução
Se formos pesquisar os motivos por trás de todos os anseios, de todos os desejos, de todas as vontades e de todas as ideologias e mesmo religiões chegaremos a uma conclusão: Tudo, absolutamente tudo, está relacionado ao ‘Sentir’. Não existem atitudes, éticas ou regras morais que não se correlacionem, de um modo ou de outro, ao ‘sentir’. Seja o sentir presente, seja o sentir futuro, para nós mesmos ou não, aqui na Terra ou no “Além”. Busca-se o prazer e a fuga do sofrimento, nosso ou de outros, no presente ou no futuro, neste planeta ou não, nesta “dimensão” ou não. Até mesmo a felicidade, a deusa adorada, nada mais é do que o ‘sentir’ ponderado pela sua duração no tempo. A busca pelo conhecimento, a aprendizagem: são apenas formas de diminuir o sofrimento e tentar garantir a felicidade. Assim, podemos constatar que tudo gira em torno do sentir. Por esta razão eu elegi “A questão mais importante do Universo”:
“O que é o Sentir?”
Pode-se constatar que o “sentir” não se restringe aos seres humanos e nem mesmo a organismos “vivos”. A questão do sentir vai mesmo além do conceito do que seja “vida”. Para vermos isso consideremos um experimento mental: Suponhamos que se coloque, num hipotético computador hiper-poderoso, as leis físicas de um universo -como o nosso, por exemplo- com suas entidades básicas, as suas partículas elementares, em um dado estado inicial para elas. Com este modelo, este hiper-computador poderia, a partir deste estado inicial, simular o desenvolvimento futuro do universo, como a formação de estrelas, de planetas e, eventualmente, o surgimento da vida até mesmo a evolução para a vida inteligente. Note que este universo é virtual, um modelo matemático submetido a uma simulação computacional. Não existe, na realidade, um único neurônio real, nem mesmo uma única molécula orgânica ou de água. Tudo neste universo acontece na memória e no processador deste computador hipotético de silício e metal. Entretanto, os sentimentos que surgirem dentro deste universo virtual, com seus seres virtuais, são, de fato, reais! E, na verdade, nem mesmo podemos provar que nosso próprio universo não seja também um universo virtual que esteja sendo simulado em algum “meta-universo”! Mas, mesmo assim, as sensações e sentimentos existem (“Sinto, logo existo.”).
O conceito de sentir também é extremamente importante para a definição de uma ética universal, baseada na fórmula jocaxiana de felicidade [1] bem como no desenvolvimento do projeto Felicitax [2].
Primeira abordagem
Muitos tentam abordar a qu7estão do sentir apelando para o dualismo. O dualismo é um conceito do qual existem entidades que não são regidas por leis físicas. Tais entidades, ditas 'imateriais', são “definidas” através de alguns conceitos religiosos obscuros como almas e/ou espíritos, que seriam entidades não físicas que sobrevivem à morte do corpo físico. Estas entidades, segundo estas crenças, seriam as verdadeiras portadoras de nossa consciência. Tais ‘explicações’ introduzem mais problemas a serem decifrados do que soluções. E, como nunca se mostrou nenhuma evidência da real existência de tais entidades, elas contrariam a “Navalha de Ocam”. Devemos, portanto, descartá-las em favor de hipóteses mais simples e não dualistas. Você leitor, se quiser tentar sentir a dificuldade do problema, poderá tentar por si mesmo, antes de continuar a leitura, definir o que para você é o “sentir”, e verificar se sua definição é compatível com o que normalmente temos em mente e com o exposto acima.
Minha primeira investida para tentar atacar o problema do sentir foi através de uma abordagem funcional: Se algo age, ou reage, como se sentisse, poderíamos dizer que este algo sente. Entretanto, dentro desta abordagem, deveríamos concluir que uma simples mola de aço também sente já que ela reage como se quisesse voltar à sua posição original, como se não “gostasse” de ser comprimida. A importância de se achar uma boa definição para o sentir é a de possibilitar uma quantificação matemática dos sentimentos –a base para uma ética universal- e, nesta abordagem, se uma mola sentisse então a soma de milhares de outras molas iguais sentiriam muito mais do que uma única e poderiam até mesmo suplantar o sentir de um ser humano! E isso poderia levar a uma ética, ou justiça, na qual a somatória do sentir de um conjunto de molas fosse mais importante que a vida de um ser humano. Isso não me parecia algo muito natural e abandonei definitivamente esta abordagem quando, ao longo de uma discussão sobre o assunto, num tópico de filosofia [3], foi ficando claro para mim de que a consciência deveria estar intimamente relacionada ao sentir. Sem a consciência não poderia haver o sentir. O sentir deveria ser produto da percepção consciente.
A Consciência
Isto deveria ser assim porque se houver várias sensações diferentes, em processos mentais distintos, haverá necessidade de algo que, de algum modo as perceba. Este algo seria a consciência.
Um dos antigos e grandes problemas filosóficos existentes é sobre a natureza da consciência. E agora o problema do sentir dependia de sua solução. Mas a constatação de que o sentir e a consciência estivessem ambos, de algum modo, correlacionados não deixava de ser também um avanço. Mas que forma de relacionamento deveria ser este?
A consciência, em sua forma mais conhecida, é uma entidade, ou processo, que percebe a própria existência, que se relaciona ao livre-arbítrio ou à capacidade de escolha. No nosso caso isso não é necessário, a percepção da própria existência, ou a capacidade de escolha, não são características necessárias para que haja o sentir. Entretanto, a própria percepção da existência, a percepção em si, é também uma forma de sentir. Podemos assim constatar que a consciência, em sua forma mínima, a mais simples, deve ser apenas um processo de captação de sentimentos ou sensações.
Uma solução jocaxiana
Refletindo sobre o problema do sentir e sua relação com a consciência, percebi que já tinha tocado, sem perceber, na solução quando desenvolvi uma maneira de quantificar a felicidade [1]. Naquele texto chegamos ao âmago da consciência quando notamos que o cérebro precisava relacionar várias percepções de diversos órgãos dos sentidos ou de diversos subsistemas neurais (geradores de sentimentos) para arbitrar uma escolha ou desenvolver uma ação. A solução já estava lá. Cheguei então a uma primeira definição (ou descoberta?) do que seria o sentir e sua relação com a consciência:
“A Consciência é um (sub)sistema que recebe dois ou mais INPUTS (entradas) de estímulos ou sinais (externos e/ou internos) e OS AVALIA antes de responder a eles (executar uma reação, caso necessário) visando a uma META (objetivo).”
“O Sentir é o resultado da avaliação, pela consciência, de um dado estímulo ou sinal“.
Podemos destacar:
1-A consciência precisa receber entradas(sinais) para avaliá-los e provocar o sentir. É, portanto, um processo dinâmico.
2-A consciência precisa postergar (atrasar) a reação aos estímulos/sinais (para poder avaliá-la) antes de tomá-la.
3-A consciência, para existir, precisa, necessariamente, ter um objetivo intrínseco como, por exemplo, a felicidade, a sobrevivência, a gene-perpetuação etc.
4-O resultado da avaliação pode ser uma ação/resposta (que pode gerar um novo estímulo) visando à meta.
5-A meta intrínseca da consciência, no caso de seres biológicos desenvolvidos por seleção natural, é a meta biológica (gene-perpetuação), entretanto, a meta cultural pode sobrepujar, em alguns casos, a meta biológica e gerar conflito psicológico, caso apontem em direções diferentes.
6-Por esta definição o "Sentir" não existe sem a consciência e nem a consciência sem o "Sentir”.
7-A avaliação pode ser feita pela própria consciência, através da quantificação do estimulo/sinal para um "denominador" comum de modo a possibilitar a comparação de estímulos diferentes em relação à meta.
8-Uma possível quantificação do grau/complexidade da consciência seria através da quantidade de sinais/entradas que podem ser por ela processados e da complexidade de avaliá-los em relação à meta.
9-O Sofrimento acontece quando um estímulo ou sinal é avaliado como contrário à META.
10-O Prazer acontece quando o estimulo ou sinal é avaliado como favorável à META.
11- Uma possível quantificação do Sentir seria através da medida do "denominador", avaliado pela consciência, do sinal em relação à META e a complexidade da própria consciência.
12-A quantificação do sinal, via algum "denominador" comum, é, portanto, função de QUÃO ele é importante (quanto o sinal 'pesa') para a obtenção da META/Objetivo.
[1] Felicidade: http://www.genismo.com/metatexto1.htm
[2] Projeto Felicitax: http://www.genismo.com/metatexto42.htm
[3] A pergunta mais importante do Universo: