A felicidade que tanto desejamos, Um novo tema para a ciência
A Semana - Editorial João Luís Almeida Machado Editor do Portal Planeta Educação; Doutorando pela PUC-SP no programa Educação:Currículo; Mestre em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie(SP); Professor universitário e Pesquisador.
Felicidade é uma cidade pequenina, é uma casinha, uma colina, qualquer lugar que se ilumina, quando a gente quer amar... (Moraes Moreira)
Os versos acima resumem em poucas, singelas e sábias palavras aquilo que todos nós perseguimos incessantemente durante toda a nossa vida, a felicidade. Sábios são os poetas, que de sua inspiração conseguem traduzir em palavras o que a academia e seus pesquisadores tanto perseguem com a ciência. Breves metáforas elaboradas por alguns geniais músicos, escritores e artistas dos mais variados ramos de produção cultural são muitas vezes suficientes para esclarecer o que anos e anos de pesquisa não conseguem...
Será? Ou, por outro lado, será que a ciência nunca se preocupou acerca do tema a ponto de dedicar ao mesmo à energia necessária? Sabemos que a felicidade foi tema de filósofos desde Sócrates, Platão e Aristóteles, ainda na Antiguidade Clássica européia. Até mesmo antes disso, com os chineses e outros povos orientais já se discutia a questão...
Em recente matéria através da qual aborda a felicidade, a BBC de Londres resolveu trazer a tona essa “nova” preocupação da ciência, que até bem recentemente tratava o assunto com algum desdém ou que, em muitos casos, até mesmo o desprezava solenemente.
A maior felicidade está nos laços e relações que criamos em nossas vidas.
Mas, como pôde a ciência tratar com tamanho descaso aquilo que todos nós, independentemente de origem, sexo, religião, cor da pele, situação sócio-econômica ou profissão tanto perseguimos? Acreditam alguns especialistas que a imaterialidade do assunto acabou relegando ao mesmo uma distância da academia e dos laboratórios devido à origem da ciência estar atrelada ao positivismo.
A metodologia científica, de bases experimentais, que foi se consolidando desde o Renascimento Cultural e Científico no século XVI (com Kepler, Galileu, Spinoza, Descartes,...) e que firmou seus caminhos principalmente com o positivismo de Augusto Comte no século XIX, determinou que tínhamos que partir, em nossas ponderações e análises, de subsídios materiais, observáveis, palpáveis e mensuráveis.
O advento das ciências sociais e humanas, que têm o comportamento e o relacionamento entre os seres humanos, em suas comunidades, como seu objeto de estudos primordial, aperfeiçoa-se principalmente a partir do século XIX, com mais ênfase e resultados durante o século XX. A felicidade não é fenômeno palpável ou mensurável. Não dá para colocar em potes para analisar no laboratório. Nem ao menos sabemos quando irá se manifestar (temos algumas idéias a respeito das situações mais comuns em que irá acontecer).
Sabemos, porém, que é um objetivo comum a todos os seres humanos. E é isso que está mobilizando os cientistas a tentarem entender esse fenômeno. O exame está mobilizando neurologistas, psicólogos, especialistas em estatística, historiadores, sociólogos e mesmo médicos. Todos querem buscar as origens, os fatos e fatores relacionados à felicidade, a história, os condicionantes, as formas de expressão e tudo aquilo que diga respeito à manifestação de nossas maiores alegrias.
A felicidade está nas pequenas coisas da vida. Divirta-se!
Atualmente estamos vivendo um momento interessante da história da humanidade e, especificamente, no que se refere a compreensão da felicidade. Os cientistas chegaram atrasados a temática e têm que buscar referências na filosofia, sua antiga aliada, e ao mesmo tempo disputar espaço e compreender o contemporâneo fenômeno da auto-ajuda que dispõe de enorme espaço nas livrarias e bibliotecas do terceiro milênio.
Não dá para prever se algum dia chegaremos a uma resposta definitiva sobre o assunto. A filosofia não tem essa pretensão e, nem tampouco, busca uma única resposta que dê conta de um tema tão complexo. A auto-ajuda procura, por sua vez, receitas rápidas, que auxiliem os leitores a combater a infelicidade desse nosso mundo acelerado e consumista.
E a ciência? Será que a felicidade tem uma única definição e resposta? Existe um Santo Graal a ser encontrado nessa busca que se iniciou tão recentemente?
Cruzando os dados já entendemos que uma boa parte de nossas alegrias ou tristezas se encontra dentro de cada um de nós. A felicidade é moldada ou introduzida em nossas vidas desde o momento em que somos concebidos. Recebemos de nossos pais, em nossa herança genética, entre as várias características que eles nos legaram (cor dos olhos, tipo de cabelos, formato do rosto, estatura,...), também uma maior ou menor propensão à felicidade.
É claro que isso não pode ser considerado definitivo. A história pessoal de cada um também será determinante para que possamos nos sentir mais ou menos alegres e confiantes. Mesmo que sua herança genética seja das mais felizes, se você viver com fome, num campo de batalha, sem um teto onde possa se abrigar e sendo constantemente ofendido ou agredido, a possibilidade de perder a fé e a alegria em sua vida passa a ser muito grande...
Sorria com mais freqüência. Aproveite a vida. Reclame menos. Isso prolonga sua vida e a torna feliz.
Se, por outro lado, você nasceu em berço de ouro, tem tudo de bom ao seu alcance, freqüenta as melhores escolas, trabalha num ótimo emprego, ama seu companheiro(a) e se diverte com seu cachorro, a possibilidade de superar uma herança genética mais propensa a tristeza também passa a ser uma realidade.
Temos que destacar, no entanto, que os cientistas têm algumas surpreendentes revelações quanto ao tema. Para quem, por exemplo, imagina que a felicidade está de braços dados com a riqueza e a bonança, a surpresa é que dinheiro pode até ajudar, mas que realmente não compra a satisfação de um riso solto, descontraído e autêntico.
As pesquisas têm indicado que há um alto grau de felicidade entre povos que vivem em países ou regiões que apresentam um grau elevado de pobreza. O Brasil, por exemplo, país em que há um grande número de favelas e milhares de pessoas que vivem em condições indignas (sem água tratada, assistência médica, ruas asfaltadas, salários razoáveis, escolas de boa qualidade para todas as crianças, saneamento básico,...), é um bom exemplo dessa pujança de felicidade.
Outro dado interessante das primeiras amostragens relativas ao assunto coletadas pela comunidade científica nos mostra que a felicidade encontra-se realmente nas pequenas coisas da vida. Um abraço carinhoso do filho, passeios pelo bairro de bicicleta, um gol marcado num bate-bola com os amigos, a deliciosa comida preparada pela mãe, um ardente beijo do amor de sua vida,... São essas as melhores lembranças e os mais marcantes e felizes momentos de nossas vidas...
A felicidade também está no amor e na amizade. Quando encontramos nossa cara-metade e formamos nossas vidas ao lado delas, estamos com meio caminho andado para o êxtase maior que a vida nos reserva. Boas relações com os pais, os filhos, os irmãos e todos os familiares também tornam nossa vida muito mais doce e saborosa...
Amigos que dão o braço por nós também fazem parte daquilo que os cientistas constataram como elementos essenciais para a existência feliz de um ser humano. O ser humano não é, definitivamente, uma ilha... Precisamos, e muito, uns dos outros. Não podemos mais negar isso. Os filósofos atestaram, os escritores de auto-ajuda têm reiterado isso em suas fórmulas e receitas e, agora, até mesmo a ciência afirma com todas as letras...
João Luís Almeida Machado Editor do Portal Planeta Educação; Doutorando pela PUC-SP no programa Educação:Currículo; Mestre em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie(SP); Professor universitário e Pesquisador atuando no Centro Universitário Senac em Campos do Jordão.
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