A origem da consciência
Fernando Reinach


A origem da consciência, artigo de Fernando Reinach


Recentemente, três cientistas da Universidade de Teerã conseguiram demonstrar que existem neurônios que “causam” a percepção consciente de faces conhecidas

Fernando Reinach é biólogo, professor titular do Instituto de Química da USP e diretor executivo da Votorantim Novos Negócios. Artigo publicado em “O Estado de SP”:

Um dos maiores desafios do século é entender o estado de consciência.

Todos nós vivenciamos nossa própria consciência e sabemos o que acontece quando ela é perdida ou alterada, durante o sono ou quando somos anestesiados em um hospital.

Para os espiritualistas é um fenômeno separado do cérebro, mais relacionado ao espírito.

Para os materialistas, como Francis Crick (1916- 2004), que descobriu a estrutura do DNA e passou a segunda metade da vida tentando entender sua natureza, a consciência “é o que o cérebro produz”, assim como a urina é o que o rim produz.

Recentemente, três cientistas da Universidade de Teerã conseguiram demonstrar que existem neurônios que “causam” a percepção consciente de faces conhecidas.

Imagine que você está em uma sala quando entra sua mãe. Para a consciência, tudo parece instantâneo, a porta abre e a consciência “sabe”: é a mãe.

Entretanto, muitos fenômenos ocorrem no cérebro antes da imagem da mãe “aparecer” na consciência. Primeiro, a luz refletida na face da mãe atinge sua retina estimulando células nervosas, a informação é modificada e enviada pelo nervo óptico ao cérebro onde é processada em diferentes áreas.

Grupos de neurônios “deduzem” que é uma pessoa, outros que é uma mulher, e outros correlacionam essa informação com a memória e “deduzem” que é a mãe.

Todos esses fenômenos podem ser detectados no cérebro nas dezenas de milissegundos que separam o momento em que sua mãe entrou na sala e o surgimento da informação na consciência.

Quando a informação se torna consciente, está totalmente processada e “aparece” na forma final: é a mãe.

Tudo que podemos medir nos primeiros milissegundos não está disponível para a consciência. Essas descobertas demonstram que a consciência não se forma onde a informação é inicialmente processada.

O interessante é que foram identificados grupos de neurônios cuja atividade só é detectada no momento exato em que a informação “surge” na consciência.

Por esse motivo, se postulou que essas regiões estão diretamente relacionadas à consciência. O problema é que não se sabia se a atividade desses neurônios provoca a consciência ou se sua atividade é o resultado do aparecimento da consciência.

Foi a relação de causa e efeito entre a consciência e a atividade desses neurônios que os cientistas iranianos decifraram.

Eles treinaram macacos para movimentar os olhos quando identificassem a imagem de uma face muito específica (mãe, por exemplo) e observaram que, sempre que mostravam essa imagem, os neurônios eram ativados.

Em seguida, fizeram o contrário, em vez de mostrar a imagem, simplesmente davam um pequeno choque elétrico nos neurônios forçando sua ativação.

Puderam observar o aparecimento da imagem na consciência apesar dos macacos nunca terem “visto” a imagem.

Em outras palavras, demonstraram pela primeira vez que neurônios específicos são responsáveis pela criação de um fenômeno consciente específico.

Ele pode explicar a origem dos sonhos que ocorreriam quando esses neurônios fossem ativados na ausência de estímulo externo.

O materialista Francis Crick teria ficado contente com a descoberta.
(O Estado de SP, 13/9)

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