Sentindo e Agindo
Por: Antonio M. O. Castro

Não sei dizer em que momento exato de meus estudos passei a dar a devida atenção aos sentimentos. Na verdade, nestes 20 e poucos anos que me dedico ao tema eu não posso dizer que estudei sistematicamente o comportamento humano. Ora estava mais atento, chegava a ficar obsessivo, ora até me desinteressava do tema. Na ausência de textos que

reunissem biologia e comportamento, ia recolhendo um fragmento aqui, outro ali. Normalmente guardava as descobertas na memória. Em outras ocasiões escrevia pequenos textos, às vezes só um punhado de frases, e jogava tudo num saco para uso futuro. Não posso fazer as citações bibliográficas devidas porque simplesmente não me lembro de todas as fontes de que lancei mão. Eu não tinha a intenção de um dia escrever sobre o assunto. Assim, não fichava artigos e reportagens que lia.

De algumas leituras e da convivência com os cientistas da área da genética, eu já tinha certeza desde de meados da década dos 80 que a base dos sentimentos era química. Todos os sentimentos estão associados a uma ou mais substâncias químicas fabricadas pelo organismo. O sentimento pode vir da presença dela(s), ou da sua supressão. Li, por exemplo, que a dor de cotovelo se origina de um corte súbito de fenilalanina do organismo. Já a alegria vem da presença da oscitocina. A paixão e o amor podem deflagrar a produção de todo um complexo de substâncias, pois nestas situações sentimos também insegurança, o desejo, o ciúme, etc.

Eu sabia, então, que os sentimentos tinham uma função biológica, mas só me interessava pelos chamados grandes sentimentos, como o amor, o desejo, o ódio e outros. O amor e o desejo induzem ao acasalamento e à reprodução, preservando a espécie. O ódio estimula a defesa de indivíduos e grupos. Assim concluía e por aí ficava satisfeito.

Foi possivelmente depois de ver o vídeo que mencionei no capítulo anterior onde um cientista dizia que o cérebro parecia funcionar por um mecanismo de castigo e recompensa que a função primária dos sentimentos veio mais claramente à minha mente.

Passei a reparar mais na minha própria forma de sentir. Usei meu organismo como laboratório de pesquisa. Refletia e tentava elaborar sobre tudo o que sentia, mesmo os sentimentos mais elementares. Daí constatei que não passava um minuto sequer sem sentir alguma coisa.

Neste exato momento em que escrevo, por exemplo, estou com um certo frio (um desconforto ou castigo - c) por estar sem camisa e estar ventando. Tenho duas opções de ação: ou visto uma camisa ou fecho a janela. A vista da janela é bela (uma recompensa - r). Ficaria triste se não mais a visse (c). Apesar da preguiça, prefiro levantar e vestir uma camisa (ação - a). Visto a camisa e tenho uma sensação gostosa por ter anulado o frio (r). Quando levantei senti uma pequena dor nas nádegas (c). A cadeira está um pouco dura (c). Troco a almofada (a). Sentei. Não adiantou nada. Continua a dor (c). Irrito-me (c mais intenso) e levanto para buscar outra cadeira (a). Ao caminhar senti a dor passar (r). Aproveito e aviso à cozinheira que jantarei na cidade (a). Estou um pouco triste (c) por estar isolado já há alguns dias. Preciso encontrar outros humanos (a). Ouço um ruído que parece telefone. Irrito-me profundamente (c forte), pois recordo do estresse do escritório onde trabalho no Rio. Lembro que aqui não tem telefone. Alívio (r). Depois que vesti a camisa não sinto mais frio ou calor. Neste aspecto estou neutro (n). Nada tenho mais a fazer em relação a isto. Esqueci o assunto. Ao voltar da cozinha sinto uma pressão para

urinar (c). Passo no banheiro (a). Alívio (r). Fico neutro também neste aspecto e o esqueço.

Isso tudo se passou em menos de 15 minutos. Somos uma verdadeira máquina de sentir que funciona incessantemente. E por que sentimos? Qual a razão biológica do sentimento

ou por que fomos dotados da capacidade de sentir diversos sentimentos diferentes? A resposta a que cheguei é para podermos agir de uma forma adequada aos diferentes estímulos recebidos. O sentimento é a forma pela qual nosso organismo nos induz a uma ação que ele julga adequada para sua própria integridade, ou a do grupo ao qual pertencemos, no curto, médio ou longo prazos.

As ações que descrevi acima foram todas de curto ou curtíssimo prazos. No máximo de algumas horas à frente, como no caso do ir jantar na cidade por sentir falta de companhia.

Tiveram também um início e um fim bem definidos. Mas poderíamos ter outros tipos de indução de ação de maior prazo e de duração indefinida. Por exemplo, eu não estou satisfeito com o meu peso. Se subo na balança, olho minhas fotos ou vejo um daqueles anúncios estrelados por Apolos e Vênus sinto-me mal (c). Comecei a fazer ginástica (a). Preciso perder uns 10 kg. Já perdi 2 em duas semanas. Olho a balança e sinto-me feliz (r).

Naqueles cerca de 15 minutos que descrevi acima, que mensagens - via sentimentos - recebi e tive que dar uma ação em resposta?

- a temperatura do corpo não está adequada (o organismo está gastando muita energia para mantê-la na faixa ideal);

- - não se feche para a beleza da paisagem (sobre a função da beleza falaremos em um capítulo especial mais adiante);

- os tecidos de suas nádegas estão sendo agredidos (a irrigação dos tecidos não está sendo feita em alguns locais);

- - não se afaste tanto do seu grupo: lembre-se que você é um ser gregário;

- fuja de situações estressantes;

- sua bexiga está carregada;

Quanto mais me aprofundava no estudo dos sentimentos, mais entendia a extraordinária funcionalidade de todos eles. Nada existia por acaso. Nada parecia destinado apenas ao nosso deleite cultural. Consegui, afinal, desvendar o binômio do sentir – agir:

agimos movidos por sentimentos; todo o sentimento é provocado pela presença ou ausência de substâncias químicas; estas, para serem autofabricadas ou autossuprimidas

exigem um aparato interno orgânico; se é orgânico, tem base genética; se é genético, tem função biológica, ou seja, o mecanismo é fruto da adaptação a um estímulo contínuo e permanente do meio ambiente ao qual os organismos dos seres vivos responderam em bilhões de anos de evolução; logo, todos os sentimentos, no fundo, são mera parte do nosso equipamento de sobrevivência.

Nada mais simples! Nada mais lógico! Quantas bobagens filosófico-românticas se escreveram e se dizem sobre os sentimentos! Afinal a luz veio ao meu pensamento. Caberia, então, detalhar o modelo e assim fiz.

O esquema a seguir apresentado eu desenhei em 1993 a partir de uma conversa que tive com minha amiga P., a bela, que além de bela é também bióloga e gosta de discutir essas

coisas do comportamento humano comigo. Foi meio por acaso. Eu levei um esboço de modelo para discutir com ela e, durante a conversa, a coisa foi tomando a forma em que se encontra até hoje. Nem P. ou eu somos fisiologistas. O modelo utiliza, portanto, categorias que criei, assim como os psiquiatras criaram o Id, o Ego etc. Eu observei como agimos, li sobre as descobertas científicas relacionadas com o comportamento e, com base nisso tudo, criei o modelo.

Estímulos internos.

Comecemos pela parte que chamo de realidade interna, que está relacionada com o controle das funções mais evidentemente fisiológicas do organismo (o comer, o respirar, o defecar, etc.). Para elas temos um mecanismo de leitura "on line", permanentemente ligado, mesmo quando dormimos. O nível de sustentação energética do organismo, por exemplo, está sempre sendo lido e passado ao "Setor de Valoração". Se o nível cai abaixo do que seria o normal ou adequado para a boa sustentação do organismo, o "Setor de Valoração" passa uma instrução à "Central de Controle e Produção de Drogas" para que produza ou suprima uma substância que será lida na "Central de Sensações" como fome (veja figura adiante). A quantidade da substância e, portanto, a intensidade da sensação são inversamente proporcionais ao nível de leitura, ou seja, quanto mais baixo o nível, mais alta a dosagem da substância e mais forte a sensação de fome.

Entremos na "Central de Sensações". É ela que gera a sensação de castigo ou recompensa (C/R). Sempre que o organismo se sente agredido, o sentimento é ruim (castigo), o que induz a uma ação de busca de recompensa. No nosso exemplo, a ação seria a de buscar se alimentar. Quanto maior a fome, maior será a motivação para agir em busca do alimento e maior o prazer (a recompensa) ao ingerir o alimento. O gosto dos alimentos pode até ficar muito melhor quando estamos com uma fome canina. Em se alimentando a contagem da reserva de energia disponível no organismo começa a subir. Nova droga é produzida (ou a droga causadora da sensação de fome vai sendo suprimida), causando a sensação de prazer e bem estar. A contagem sobe. Ao nível "satisfeito", ou seja, normal ou suficiente, o mecanismo dará quimicamente o sinal "chega", "pare de comer". Se continuamos a comer, a leitura, via "Setor de Valoração", indicará excesso: nova agressão ao organismo. Instrução à CPCD: produza a droga XYZ e envie-a à "Central de Sensações", que produzirá um sentimento de fastio ou enjôo. Se a ação de ingestão prosseguir, o mecanismo poderá comandar o estômago para que "devolva" o alimento.

Quanto maior o potencial de perigo para o organismo da privação a que está sendo submetido, mais intenso é o sentimento de castigo, o que induz a ações mais rápidas ou até agressivas de resposta. Assim, a sensação negativa de falta de ar é muito mais intensa do que a de sede, que, por seu turno, é mais forte do que a de fome. Isto é naturalmente lógico, já que resistimos poucos minutos à ausência de ar, pouquíssimos dias à falta de água, mas a alguns dias à privação de alimentos. Há, assim, uma hierarquia natural na intensidade dos castigos.

A leitura interna do funcionamento e da situação geral dos nossos órgãos é, como mencionei, constante e em tempo real. Há 3 leituras possíveis:

a) Um sentimento de castigo causado pelo mal funcionamento de um órgão por qualquer razão ou situação de privação ou excesso de um elemento essencial. Por exemplo, a fome, sede ou falta de ar citados acima, ou o mal funcionamento do estômago dando a sensação de enjôo. Outros exemplos poderiam ser a falta de açúcar, gerando sensação de extrema fraqueza, ou o excesso de exercícios, causando a sensação de fadiga.

b) O sentimento de recompensa pela correção das situações acima. Nada melhor, por exemplo, para uma pessoa com sede que beber água; para o exausto, o

descansar; para o faminto, o comer; para o hipoglicêmico, o açúcar; para o nauseado, o sal de fruta.

c) A normalidade, que não gera sensações. Corrigido o desvio, a leitura volta à contagem considerada normal pelo organismo e nada mais se sentirá. Nem castigo, nem recompensa. Nada mais se sente e, em conseqüência, não mais se tem estímulo para agir no que diz respeito as anormalidades corrigidas. Esquecemos do assunto, em outras palavras.

O monitoramento do estado geral do organismo e as conseqüentes ordens de ação se dão mesmo quando dormimos. Por exemplo, sentimos um desconforto muscular e nos viramos na cama sem acordar, ou, se estamos com excesso de urina na bexiga, a contagem indica, sentimos o desconforto ou castigo e somos acordados para exercer a ação corretiva.

Estímulos externos.

Bem, passemos agora à explicação do nosso esquema quando estímulos externos ou ambientais estão presentes. A captação desses estímulos se dá através dos nossos 5 sentidos. A visão, o tato, o olfato, o paladar e a audição são portas de entrada ("inputs") que agem em conjunto com a dimensão cerebral do O QUE. A ação imediata dos sentidos é simplesmente fazer um reconhecimento objetivo de objetos, seres, fatos ou fenômenos que nos cercam (O QUE é isto?). Para que uma resposta instantânea possa ser dada, é necessário que já haja uma referência anterior sobre o objeto ou coisa percebida nas nossas memórias. No caso são memórias visuais, tácteis, olfativas, palatativas ou auditivas. Não havendo tais registros, procuraremos a resposta através de analogias com outros registros disponíveis na memória. Ainda assim, não obtendo resposta, iremos nos socorrer com terceiros ou pesquisar o assunto. É importante lembrar que, como dissemos no capítulo anterior, a falta de resposta ao O QUE pode nos causar um desconforto ou castigo, que nos induzirá à ação busca da resposta.

O QUEM é também acionado de imediato, ou seja, identifica- se o que é aquilo que se está vendo, cheirando etc., e, se possível ou aplicável, QUEM é ele. Mas a natureza dotou-nos de um mecanismo de valoração da informação recebida. É um mecanismo sofisticado e utilíssimo para a nossa sobrevivência, na medida em que nos permite medir a importância daquela informação. Fazemos isso o tempo todo sem perceber. Por exemplo, vejo algo. O QUE? Um cachorro. É o Baco, o meu cachorro que gosto. Fico feliz. Ele também. Trocamos carinhos. Aprofundamos nossa amizade. Mas se é o cachorro Doberman do vizinho, sinto medo. Eu o conheço. Ele é bravo. Meu medo é controlado e me faz agir com certa tranqüilidade apenas para controlar minha integridade física. Mas poderia ser outra pessoa que tivesse um medo pânico de cães por alguma experiência passada negativa ou assustadora que foi memorizada como tal. Sua reação poderia ser completamente descontrolada.

Na representação esquemática do modelo de sentir-agir, a avaliação da importância daquela informação objetiva é feita no "Setor de Valoração", que, para tal, se apoiará em referências existentes no que chamamos de parte RAM desse setor. Esta parte, por sua vez, é gerenciada pela parte ROM do mesmo setor.

Expliquemos melhor o que estamos chamando de ROM e RAM. Faço aqui mais uma analogia com computadores, que têm a memória ROM ("read-only memory") e a memória RAM ("random access memory"). A primeira vem pronta do fabricante e não pode ser apagada ou modificada sem danos para o bom funcionamento do equipamento.

Já a segunda, pode ser gravada, alterada e apagada pelo usuário da máquina. No entanto, a parte ROM estabelece regras gerais para o funcionamento da parte RAM.

Em nosso modelo, a parte ROM abriga os valores que trazemos geneticamente determinados. Os mesmos valores ROM, que são apenas 3, estão presentes em todos os seres humanos (e nos outros animais), pois constituem os pressupostos básicos para a vida na Terra. É o que poderíamos chamar de Leis da Vida ou instintos básicos. Os valores RAM, que podem ser milhares em uma só pessoa, obedecem necessariamente a esses pressupostos, mas podem variar tremendamente de pessoa a pessoa, em gênero e grau.

Durante as nossas vidas criaremos, modificaremos e extinguiremos valores RAM. ROM E RAM estão relacionados com os nossos sentimentos. ROM determina o que o organismo animal, o Homem, por exemplo, é biologicamente capaz de sentir. A parte RAM, em função da experiência de cada um, vai determinar em que situações sentiremos o que sentimos. Vejamos ROM e RAM mais em detalhe a seguir.

Valores ROM.

As leis da Natureza determinam que os animais lutem para manter-se vivos, que formem grupos e que procriem. Para tal eles devem empreender uma série de ações na vida. E para que eles se sintam estimulados a empreender tais ações o organismo nos dotou da capacidade de sentir. Os sentimentos são uma ilusão química que orientam o nosso comportamento para atender essas leis. Todos os nossos sentimentos são assim relacionados com esses três mandamentos da Natureza, que eu chamo de valores ROM, sobre os quais não temos controle. Assim, para que nos mantenhamos vivos, há o PROTEJA-SE/SOBREVIVA; para que procuremos formar grupos, temos o PROTEJA A FAMÍLIA, O GRUPO, A ESPÉCIE; e para que procriemos, há o MULTIPLIQUE.

Em todas as nossas ações e sentimentos encontraremos fundamento em um ou mais desses valores. Eles são, portanto, a chave para se compreender e explicar os atos e atitudes dos humanos e dos outros animais. Durante algum tempo dediquei-me a mapear tudo o que nós chamamos de sentimentos, como o amor, o ódio, a amizade, o nacionalismo, o bairrismo, a vergonha, o nojo, a ambição, a inveja, o egoísmo, o racismo e muitos outros. Todos eu conseguia classificar nas 3 chaves ROM. Descobri os fundamentos materiais em coisas consideradas meros conceitos culturais, como a beleza, por exemplo. Sente-se beleza e não apenas tem-se a idéia dela. Experimente. Olhe para algo muito belo, como uma linda mulher, por exemplo, e veja como você sente beleza. Todos os sentimentos darão a sensação de castigo ou de recompensa, como forma de induzir-nos a agir em consonância com os 3 valores ROM, ou seja, os sentimentos são o meio que a natureza desenvolveu para operacionalizar esses valores em nós e em outros animais. O amor e o desejo sexual, por exemplo, estão relacionados com MULTIPLIQUE, a amizade, o amor maternal ou fraternal, com PROTEJA O GRUPO, A FAMÍLIA, A ESPÉCIE, o medo e o nojo com PROTEJA-SE/SOBREVIVA. No Apêndice I há uma tabela que onde relaciono algumas dezenas de sentimentos com o valor ROM a que estão subordinados e a sua função natural ou biológica.

Hierarquia de valores ROM.

Em um indivíduo normal e saudável os valores ROM são indeletáveis. Mas há uma hierarquia entre eles, que pode variar de pessoa para pessoa e, numa mesma pessoa, ao longo de sua vida. Há situações também de conflito entre os valores ROM. Vejamos exemplos. Uma criança é extremamente egoísta, o que faz todo o sentido, pois ela precisa de muita atenção dos adultos para sobreviver. E ela sabe como ninguém atrair as atenções para si. O valor PROTEJA-SE/SOBREVIVA é o preponderante e quase único até cerca de 2 anos. O valor PROTEJA O GRUPO se manifesta em relação a um grupo muito pequeno nessa fase, que é o da família, a mãe principalmente.

O MULTIPLIQUE só aparece com intensidade na puberdade e se sobrepõe aos demais nas tomadas de decisão, secundado pelo PROTEJA-SE/SOBREVIVA. Somos egoístas, narcisistas e tarados. Faz-se qualquer coisa pelo outro sexo nessa idade. Lá pelos vinte e poucos anos o valor PROTEJA O GRUPO - um grupo mais ampliado - toma uma força considerável. Uma fase idealista pode se iniciar. As grandes causas da humanidade tendem a ser abraçadas. Podemos colocar nossas vidas em risco por elas.

Pelo que consideramos ser o bem do grupo, da nação ou de uma causa coletiva qualquer, enfrentamos a repressão dos poderosos ou o fogo do inimigo, num claro conflito entre PROTEJA-SE/SOBREVIVA e PROTEJA O GRUPO, A FAMÍLIA, A ESPÉCIE. Com o avançar dos anos o nosso MULTIPLIQUE vai enfraquecendo junto com a nossa capacidade orgânica de reproduzir. O enfraquecimento geral do organismo faz também aumentar o nosso sentimento de risco individual. O PROTEJA-SE/SOBREVIVA volta a preponderar. As causas humanitárias tendem a ser abandonadas e nos tornamos novamente mais egoístas. Falamos frases do tipo "já pensei muito nos outros: agora preciso pensar em mim e nos filhos", "preciso fazer meu pé de meia para a velhice", etc.

Assim, ao longo da vida, a hierarquia dos valores ROM que presidem as nossas decisões vai se transformando. Mas há ainda as variações individuais. Há aqueles que, embora sofram essa transformação na hierarquia dos valores, são notadamente mais do que os outros. São mais valentes, ou mais egoístas, ou mais tarados, ou mais altruístas que os demais. Um dos valores ROM daquele indivíduo é muito mais forte do que os dois demais, o que faz com que o conjunto de sentimentos relacionados com aquele ROM tenham uma intensidade maior. Um Ghandi ou uma Madre Teresa de Calcutá, por exemplo, foram pessoas que dedicaram quase todo o tempo de suas vidas ao grupo, não temendo arriscar a vida. O PROTEJA O GRUPO, A FAMÍLIA, A ESPÉCIE de ambos era bem mais forte do que PROTEJA-SE/SOBREVIVA E MULTIPLIQUE. Já a cantora e atriz Madona parece ter só MULTIPLIQUE na cabeça.

Valores RAM.

Recapitulando o modelo de leitura de estímulos externos, até aqui temos que:

- o organismo faz uma leitura do estímulo via os nossos 5 sentidos, procurando classificá-lo, num primeiro momento, frente a memórias objetivas de que disponha;

- identificado o estímulo, imediatamente a informação é passada para o "Setor de Valoração" que vai valorar ou medir a importância da mesma;

- esta informação é recebida na parte de valores RAM do "Setor de Valoração", que procura classificar a mesma buscando referências em suas memórias disponíveis; achadas as referências, é passada a informação a "Central de Produção e Controle da Drogas - CPCD" de qual ou quais os sentimentos que o indivíduo deve sentir naquela situação;

- a CPDC imediatamente lançará (ou suprimirá) droga(s) na "Central de Sensações", produzindo o(s) sentimento(s) determinados;

- tal ou tais sentimentos irão gerar ações em resposta, que podem ser imediatas, de curto, médio ou longo prazos.

Vejamos, então, os valores RAM. Disse que eles são organizados e determinados pelos valores ROM. Como? Partamos dos 3 valores ROM que são os princípios básicos dos seres vivos da Terra. Ao longo do processo evolutivo fomos aperfeiçoando os mecanismos que vêm de encontro a esses valores. Para que eles sejam atendidos, nosso organismo teve que ser devidamente aparelhado. Esse aparelhamento se deu de um lado pelo desenvolvimento da arquitetura cerebral e, de outro, pelo desenvolvimento dos mecanismos de sentir/agir. A fisiologia dos sentimentos é que nos permite dar a resposta rápida e adequada aos estímulos internos e externos ao organismo. Um indivíduo louco, por exemplo, é alguém que teve esse mecanismo danificado. O louco se caracteriza basicamente pela resposta inadequada ou completamente desproporcional aos estímulos que recebe. Ele chora quando deveria rir, ri diante do que seria de chorar, tem pânicos sem razão aparente e etc.

Sentimos o que estamos fisiologicamente aparelhados para sentir: não mais, nem menos. É como os nossos ouvidos que ouvem só os sons que somos capazes de ouvir. O cachorro escuta outras freqüências, o morcego escuta com um sonar. Mas nós humanos escutamos todos só sons dentro de determinada faixa de freqüência. Nesse ponto - o dos sentimentos que somos capazes de sentir - todos os humanos normais são absolutamente iguais (3).

Geneticamente, fomos construídos assim e assim somos. Mas isso tudo – digamos - é o nosso estoque de ser. É estático e sem capacidade de interpretação. É como o computador em que escrevo sem os softwares. Para a nossa melhor sobrevivência era necessário que fôssemos dotados de mecanismos da adaptação ao tempo, ao espaço ou a qualquer situação específica que vivamos. Muito bem, todos sentimos amor, nojo, amizade, beleza, mas exatamente em que situações um ou outro sentimento é adequado? Por que as pessoas não sentem igualmente sob circunstâncias idênticas ou diante dos mesmos estímulos? A questão é que os genes nos construíram para sentir as mesmas coisas, sabendo que esse conjunto de sentimentos constitui um "kit" de sobrevivência adequado para a espécie. Só que os genes não podem saber previamente em que lugar ou época viveremos, quais as situações que acontecerão em nossas vidas, o que ou quem conheceremos, etc. Era necessário que fôssemos dotados de um mecanismo de avaliação e memorização de nossas experiências para que sintamos a ajamos de forma adequada e saudável para o organismo e o grupo. Os genes engenheiraram então um fantástico mecanismo de adaptação que é o das memórias de

valores RAM.

Como são e funcionam elas? Da mesma forma que a memória RAM do meu computador é carregada quando digito essas palavras, a nossa RAM é carregada com as experiências que vivemos no nosso dia-a-dia. Imagino que a RAM ocupa uma área de terabites de capacidade de armazenamento. Desde a mais tenra infância vamos registrando as experiências que nos chegam através dos 5 sentidos. O setor ROM está vigilante. Se aquela experiência tem relação com os nossos 3 valores básicos, ele determina o seu registro da memória RAM, tornando-a um valor ou memória de emoção, que nos provocará sentimentos no futuro, quando a experiência for repetida. Caso aquela experiência ou estímulo nos traga informações sem maior importância para os valores ROM, ela será gravada apenas como memória objetiva em outro espaço do cérebro. É o exemplo do cachorro Doberman do vizinho. Se ele não me ataca, ele estará registrado em minhas memórias objetivas como apenas mais um cachorro, o do vizinho, não me causando nenhuma emoção. Mas se o desgraçado é uma ameaça para mim, ele será gravado na RAM e quando eu o vir, sentirei medo. Se ele já me mordeu, eu posso ter medo de qualquer cachorro Doberman que encontrar por me lembrar do desgraçado.

Para efeito didático, vamos supor que quanto maior o espaço ocupado por um valor RAM, mais intenso é o sentimento que dele deriva. Se fosse possível fotografar então a RAM, veríamos milhares de valores que gravamos em função da nossa vivência e experiências, cada um ocupando um espaço diferente na memória. Qualquer novo estímulo captado pelos nossos 5 sentidos passará na RAM, que o analisará segundo os critérios dos valores ROM, e poderá fortalecer ou enfraquecer um valor já existente (aumentar ou diminuir o espaço ocupado), ou criar um novo. Vamos assim enriquecendo o nosso mecanismo de sobrevivência, modificando a nossa forma de sentir – agir, tornando- a mais adequada ao mundo que vivemos. Esses valores constituem, então, memórias de emoção. Valores são memórias de emoção. Vejamos como são os mecanismos de gravação e deleção dessas memórias.

Gravação dos valores RAM.

A grosso modo, haveria duas formas de registrarmos as memórias RAM, as memórias de emoção. Uma é autônoma ou aleatória, a partir das nossas experiências do dia-a-dia e outra é a induzida por terceiros, ou dirigida.

Para gravações de memórias RAM induzidas por terceiros damos o nome de educação, socialização ou aculturamento. Ela se dá pela repetição de idéias, ideais e comportamentos desejados. A forma utilizada para tal é o já nosso bastante conhecido mecanismo de castigo e recompensa. No seio da família somos desde cedo bombardeados com o que nossos pais e familiares acham o certo e o errado: Seja limpo! Coma tudo para ser forte! Não brigue com seus irmãos! Não desarrume a casa! Escove os dentes! O que mais escutamos é nããão! Seu feio! Ah, que lindo! Não raramente as admoestações e elogios verbais vem acompanhados de castigos ou recompensas físicas e materiais. Um tapa, as vezes um presentinho, uma carícia...

Esse processo nos acompanha toda a vida na escola, no círculo de amizades, no trabalho, nos templos, na rua, enfim, no cotidiano da vida. As formas variam, mas o mecanismo básico repete o que o nosso próprio organismo usa conosco: castigo e recompensa. Qualquer grupo do qual participemos vai tentar nos impingir padrões de comportamento. Se os adotarmos nos recompensarão e distinguirão. Se os contrariarmos seremos castigados, podendo chegar até a nossa exclusão do grupo.

Esse comportamento é derivado do valor ROM PROTEJA A FAMÍLIA, O GRUPO A ESPÉCIE, visando o fortalecimento dos grupos. Note que o que essas pessoas querem é nos passar valores RAM. Mas quando uma mensagem dessas se torna efetivamente um valor? Quando nós passamos a senti-la. Pela repetição e, fundamentalmente, pelo uso do castigo e recompensa, a partir de um determinado momento nós incorporamos aquelas mensagens como valores. Ela se torna orgânica, corpórea pela sua gravação na memória RAM. A partir desse momento você sente a coisa. Pode ser um simples "escove os dentes", por exemplo. Durante um bom tempo - anos, às vezes - o não escovar os dentes não lhe incomoda realmente. Mas, de repente, você passa a se sentir mal se não os escova algumas vezes ao dia. Neste momento aquela idéia virou um valor. E, a partir de então, ele vai acionar todo o mecanismo biológico de castigo e recompensa descrito anteriormente.

Esse é um mecanismo essencial para a organização dos grupos, pois as pessoas passam a se autocontrolar ou autocastigar na medida em que obedeçam ou não aos mandamentos do grupo. Não fosse assim, teríamos que manter um guarda atrás de cada indivíduo (e outro guarda atrás dos guardas). O mecanismo é de uma extraordinária eficiência. Normalmente as sociedades partem de uns poucos ideais que vão sendo detalhados através de leis, regulamentos, etiquetas sociais, comportamentos adequados e isso vai sendo forçado sobre os componentes daquela sociedade para que eles tudo incorporem como valores. Alguns determinados valores relacionados com aspectos do comportamento, tais como conduta sexual, honestidade e outros de fundamental importância para a organização da família e da sociedade, são por isso exaltados e reforçados pela cultura, constituindo o que chamamos de princípios morais ou simplesmente moral. Esses valores ocupam um enorme espaço na nossa RAM, gerando fortes reações químicas e conseqüentes sensações de castigo e recompensa, conduzindo o nosso comportamento para o que os 3 valores ROM consideram ser o certo e o errado, o bem e o mal. Falar sobre princípios morais me faz lembrar da diferença entre ética e moral. A ética é a moral sem sentimento. A ética é mais fruto de raciocínio. Códigos de ética normalmente servem apenas para defender grupos de outros.

Quando um médico ou advogado, eticamente não critica o trabalho de outro colega, o que é isso senão defesa de classe? Ao não envolver tanto os sentimentos, a ética dá muito mais liberdade de escolha do que a moral. Contrariar valores morais gera um terrível castigo que é a vergonha. Em nossas sociedades a elite determina o que é moral, mas fica com a ética. O desconforto de contrariar a ética é mais passível de racionalização. A moral é para o povo. Para a elite, o povo deve se comportar segundo padrões morais sem muita discussão. As religiões reforçam os valores morais, pelos quais o povo deve orientar seu comportamento. Pobre aprende religião. Rico estuda teologia.

Tome-se a constituição dos Estados Unidos como exemplo. São poucos artigos que falam em democracia, liberdade, livre iniciativa, etc. O grande desenvolvimento daquele país/sociedade deve-se fundamentalmente ao fato de que os americanos incorporaram todo esse ideário como valores e organizaram sua sociedade em torno deles. A democracia para os americanos é uma coisa sentida. Quando esse valor é ameaçado, há toda uma reação contrária fruto de um sentimento coletivo de ameaça àquele valor. Da mesma forma, os japoneses incorporaram o valor da subordinação hierárquica e do sacrifício individual pelo coletivo, o que facilita extremamente a gestão de suas empresas, conferindo-lhe grande vantagem competitiva sobre as organizações do ocidente. Os suíços são também grandes amantes da ordem e da organização.

Há até uma piada ilustrativa da diferença de valores incorporados por nações distintas, que, no fundo, quer demonstrar a atração do brasileiro pela bagunça. A história era a de que estavam num hotel hóspedes de várias nacionalidades e um deles apostou com outro que faria um francês, um inglês, um alemão e um brasileiro se jogarem à noite na fria piscina do hotel. Aposta feita e o desafiador chamou o francês e disse: "Atire-se na piscina que é a coisa mais chique por aqui!" E o francês mergulhou. Em seguida ele chama o inglês e diz: "Mergulhe também. É a tradição local!" E lá se foi o inglês para dentro da piscina. Ele, então, chama o alemão e determina: "Pule na piscina: é uma ordem!". E o alemão mergulha sem discussão. Restava o brasileiro que ele chama e sussurra em seu ouvido: "É proibido mergulhar na piscina." E o brasileiro mergulha incontinenti. Algumas religiões usam com grande eficiência esses mecanismos para conquistar e manter os seus fiéis. Parte-se de uns poucos mandamentos bastante simples e claros. Para aqueles que os seguem ou não as recompensas e castigos são bastante extremados: de um lado o paraíso, de outro o fogo do inferno. Os fiéis incorporam aqueles valores na sua memória RAM e, visivelmente, os sentem, marcando sua conduta por esses princípios ou valores religiosos.

Não é difícil identificar os valores de uma pessoa porque ela os revela através das emoções que sente diante de uma dada situação. Narro uma experiência simples que vivi. Durante uma viagem fiz amizade com um passageiro europeu. Ao chegarmos no aeroporto ofereci carona no meu carro para o hotel em que ele ia ficar. Dirigindo na avenida Atlântica, em Copacabana, no Rio de Janeiro, cidade conhecida por motoristas que desrespeitam as leis do trânsito, parei em um sinal vermelho. O carro que vinha ao meu lado não tomou conhecimento do sinal: como veio seguiu, sem ao menos diminuir a velocidade. Meu companheiro tomou um susto que lhe tirou a respiração! Eu, acostumado, tive uma pequena reação. A diferença das reações foi uma indicação clara de que ambos tínhamos o valor RAM de "não desrespeitem as leis de trânsito", representado ali pelo sinal vermelho. Só que ele tinha o valor ocupando um espaço de RAM muito maior do que eu, o que lhe fez ter uma descarga química muito mais intensa e, conseqüentemente, uma reação muito mais forte. Por que tínhamos essa diferença? Por que ele estava acostumado a um sistema de punições muito mais rigoroso do que eu no que toca ao desrespeito às leis de trânsito. Na Europa uma pessoa que fura um sinal vermelho pode ir preso, eficiente método de gravação de RAM por terceiros. No Rio de Janeiro um guarda pode assistir passivamente a transgressão, o que é um método eficaz de enfraquecer a RAM da obediência às leis.

Esse é um ponto importante quando refletimos sobre o desenvolvimento das sociedades. Todas as sociedades mais evoluídas usam e abusam do mecanismo de castigo e recompensa. Os anglo-saxãos, por exemplo, são notoriamente rígidos na aplicação de suas leis. Já os países latinos convivem bem com um grau de transgressão muito maior. No Brasil há uma expressão fantástica que é a das "leis que não pegam". São leis que são editadas e que, na prática, ninguém as segue. Se você quiser admoestar alguém com base nelas, esse alguém lhe dirá: "Ah, essa lei não pegou!" E tudo fica por isso mesmo (a não ser pela sua cara de bobo).

No Rio as pessoas pensam se devem ou não seguir as leis de trânsito. Se não houver um guarda por perto, vamos em frente. Na Europa as pessoas sentem que devem obedecer a lei. Isso faz toda a diferença. Se alguém duvida é só lembrar de todas as discussões que já teve na vida com alguém fanático por alguma coisa. Futebol, ideologia política, crenças

religiosas, princípios morais, lembra? Nós todos temos os nossos personagens na cabeça, aqueles que já vinham com uma recomendação do tipo "discuta tudo com ele

menos...". São os tabus de cada um. Há também os complexos: "Fale de tudo, mas não mencione o nariz dele." Há pessoas que se especializam em descobrir os pontos fracos de alguém para espezinhá-lo ou vencê-lo em uma discussão. Nossos irmãos são mestres nisso. Eles sabem exatamente onde dói e lançam farpas certeiras. Minha irmã mais velha tinha problemas sérios de acne. Ela sentava na mesa de almoço e eu soltava: "Ai, que nojo! Assim não dá para comer". Bastava isso para ela chorar e eu fazia isso sempre (acho que irmãos vêm com uma mensagem genética para nos espezinhar: a função biológica deve ser a de nos tornar mais fortes para enfrentar o mundo fora da família).

No caso de minha irmã o valor RAM era o de seja bela, seja atraente, mantenha o poder de sedução, tudo subordinado ao valor ROM MULTIPLIQUE, e que estava sendo contrariado por sua cara com espinhas (espero que ela não chore de novo quando ler isso). No meu caso, a implicância com minha irmã tinha base na eterna disputa de poder entre irmãos, cujo vencedor espera receber mais atenção dos pais, o que está ligado ao valor PROTEJASE/ SOBREVIVA. Quanto mais eu falava de suas espinhas, mais forte ficava aquele valor em sua RAM. Mestres na gravação dirigida de memórias RAM são as organizações militares. Ao lado das organizações religiosas e do Poder Judiciário, os militares dominam a utilização da linguagem simbólica como ninguém. Como é o processo educacional dos militares? Ele começa por submeter o recruta a uma verdadeira lavagem cerebral. Aquelas sessões intermináveis de ordem unida - esquerda, direita, meia volta volver! - não fazem muito sentido à primeira vista, já que nas guerras modernas não se vê ninguém marchando ordenadamente contra o inimigo. O que na verdade acontece ali é a internalização dos dois valores RAM mais importantes para o funcionamento das organizações militares: o valor da obediência aos superiores hierárquicos e o da submissão do indivíduo ao grupo. Há uma voz a qual os recrutas vão se acostumando a obedecer cegamente que é a do sargento que ministra a ordem unida.

Naquele vai e volta aparentemente sem sentido prático a repetição "ad nausean" de palavras e movimentos correspondentes, que se não seguidos causam penalidades graves ao recruta, é um poderoso instrumento de gravação de RAM. Após algum tempo, o recruta estará com a RAM "obediência ao superior" muito bem gravada. E como ele reconhece qualquer superior? Pelos milhares de símbolos visíveis que os militares não sem razão utilizam. Será que alguém acha que aqueles milhares de estrelinhas, escudinhos, espadinhas, cordinhas que eles usam em seus uniformes são meros enfeites culturais?

Da mesma forma a educação militar exalta o sentimento de grupo. O indivíduo não vale nada. Vi um filme ("A Few Good Men" ou "Questão de Honra" no Brasil) em que um "mariner" diz que seus valores mais importantes eram, em ordem decrescente, seu pelotão, o regimento, Deus e a pátria.

No combate com o inimigo o que lhe dará mais chance de sobreviver é realmente o apoio do seu companheiro do lado. Depois você deve contar com os outros pelotões de seu regimento que, provavelmente, estarão na mesma área de combate. Depois disso é contar com Deus, porque a pátria pode estar muito distante de seus problemas. O sistema de gravação de RAM dos militares é forte, eficiente e dos mais duráveis, pela sua eterna repetição em todos os níveis. A partir de um certo ponto de aculturamento no meio, o militar é obediente. A obediência ou subordinação àqueles que ele reconhece como superiores hierárquicos é um sentimento (há todo um processo químico envolvido, portanto) para os militares e não só uma idéia ou raciocínio. E por que esse sistema é tão característico e tão forte?

A razão é simples. O militar está sendo preparado para a guerra, onde matar e morrer fazem parte natural do jogo. Ora, não há sentimento mais anti-ROM do que esses. E o soldado morre por quem? Pelo grupamento de que faz parte e, mais longinquamente, pela pátria. Os heróis militares são mais os que morrem pelo grupo do que os que simplesmente vencem o inimigo. Para ser herói de guerra vivo você deve no mínimo perder um braço. Todo esse condicionamento à obediência é particularmente importante na chamada "hora H". Quando o superior ordena: atacar! o comandado tem que responder instantaneamente ou é o caos para o grupo. É matar ou morrer. Imaginem se nessa hora os subordinados resolvessem discutir a ordem ou fazer uma comissão para debater a questão. Um outro sistema muito rico para estudo da gravação da nossa RAM por terceiros é o do Poder Judiciário. Como o militar, ele é também extremamente rígido no cumprimento da ordem e há uma hierarquia claramente definida de tribunais em instâncias que se sobrepõem. Aqui também há toda uma linguagem simbólica usada no dia-a-dia do funcionamento dos tribunais. O juiz não é um homem, mas uma instituição que julga acima dos homens. Para que isso seja melhor reconhecido e aceito por todos e por ele próprio, o juiz se veste de forma diferente, muitas vezes com roupas e apetrechos, como perucas, que fora daquele contexto seriam consideradas ridículas. Ele senta também de forma a ficar expresso que ele está investido pelo poder. Sua cadeira está num nível superior a dos demais, é quase um trono. O réu fica bem abaixo, simbolizando sua subordinação ao veredicto. O tratamento ao juiz é distinguido: trata-se-lo de "Excelência". Todos levantam à sua entrada na sala do julgamento, ao comando do meirinho. Fica bonito nos filmes americanos...

Todo esse rito e simbologismo serve, em última instância, para facilitar a gravação da RAM "obedeça ao juiz/judiciário", relacionada ao valor ROM PROTEJA O GRUPO, A FAMÍLIA, A ESPÉCIE, já que vem de encontro a uma melhor organização social. Incorporada a RAM, você sentirá o poder do juiz, sentirá medo de desobedecê-lo, acatará

melhor suas determinações, ainda que o contrariem. Um humorista uma vez perguntou: "Por que juiz e réu não se sentam nus lado a lado no julgamento?" A imagem é realmente

engraçada, não? Mas o Judiciário perderia todo o seu poder. A RAM é muito simbólica. Ela não tem a capacidade de gravar algo abstrato como o poder. Ela busca coisas que representem o poder. Precisa de coisas concretas para identificar e gravar, como a cadeira mais alta, a toga, a cabeleira, etc.

No extremo oposto da ordem rígida temos a universidade. Não que as universidades sejam uma bagunça, ainda que por vezes pareçam. Mas a boa universidade, aquela de vida longa, é rígida onde deve ser e flexível nos pontos certos. A universidade valoriza a produção do conhecimento, o ensino e o saber. "Da discussão nasce a luz". A universidade, portanto, não é lugar para dogmas de conhecimento, muito menos de hierarquia funcional. Já militares e religiosos vivem dos dogmas. Há métodos, rígidos até, na atividade de busca do conhecimento. Mas ninguém tem o direito de determinar aos outros qual é a verdade. A verdade deve ser provada de uma forma aberta a todos e vale até prova em contrário. Não há verdades imutáveis na ciência.

A ascensão na hierarquia se dá pelo mérito do saber (ou assim deve ser, pelo menos). Há provas, há concursos, enquanto que nas organizações militares e religiosas a ascensão se dá muito mais pela confiança dos pares e superiores em que aquela pessoa a ser promovida representa bem os valores da instituição. Nas universidades os que sabem mais são distinguidos não só por cargos mas também por títulos e o reconhecimento dos pares. Há os "papas" em determinados assuntos, que se tornam referência obrigatória em

todos os trabalhos científicos sobre aquele tema. Abusa-se também da linguagem simbólica. Mesmo nas universidades mais modernas há uma sala onde reitores e decanos sentam-se, vestem-se e discutem de forma solene em certas ocasiões. A sagração de um doutor "Honoris causa" parece um rito medieval em algumas universidades, como vi recentemente pela televisão na de Bolonha, Itália, que concedeu o título ao nosso presidente.

Para os jovens estudantes o tratamento é mais rígido. Até hoje um ensina e outros devem repetir o ensinamento, submetendo-se a provas de verificação do aprendizado. Os melhores são distinguidos por notas e elogios. Os piores podem até ser excluídos da instituição. A disciplina existe, é claro, mas nem se compara com a das organizações anteriormente citadas.

É interessante notar, por fim, que os membros dessas organizações vão incorporando os valores RAM correspondentes às mesmas. Mesmo fora de seu "habitat" natural, normalmente um juiz é um juiz, um militar é um militar e um professor é um professor, assim como um padre é um padre. Tais valores acabam por impregnar toda a sua forma de pensar e de viver. Para aqueles que apenas passaram por tais instituições ou convivem/conviveram com elas de alguma forma, os valores RAM correspondentes estão presentes de forma mais branda e se expressam apenas quando retomamos o contato. Eu, por exemplo, me porto de forma – digamos - institucionalmente correta quando estou me relacionando com membros dessas entidades, principalmente quando estou dentro delas. Nessas horas a minha RAM faz-me sentir mais ou menos a questão hierárquica, do respeito aos símbolos, da rigidez de postura e linguajar, da criatividade, etc., de acordo com a situação que estou vivendo. Eu acabo "dançando com a música" que está tocando.

Gravação aleatória de valores RAM.

Esse tipo de gravação de valores RAM é aquele que advém das nossas experiências do dia-a-dia. Nós não as controlamos e nem pedimos por elas. Também não há ninguém propositadamente tentando nos impingir aquelas idéias, ideologias, padrões de comportamento, etc., na forma de valores. A gravação nesses casos vem simplesmente através do registro das nossas vivências julgadas relevantes pelos valores ROM. Os exemplos são inúmeros e todos passamos por isso. Um acidente de carro do qual somos parte nos torna mais cautelosos ao dirigir. Uma RAM específica é imediatamente formada, ligada ao ROM PROTEJA-SE/SOBREVIVA. Ao sentar na direção, as primeiras vezes logo após o acidente, nos deixa com medo (a RAM é estimulada e provoca a reação química). Aos poucos vamos retomando a confiança (a RAM pode ir diminuindo a sua força). Se o trauma do acidente é forte podemos nunca mais querer ou poder dirigir pelo pânico ou pela tristeza que nos causa (uma RAM traumática provoca reações descompensadas e é muito difícil de apagar). O passar no local do acidente, o aniversário do acidente, ver um carro igual ao que nos acidentamos, o simples ver um carro qualquer amassado e mil detalhes mais do acidente quando relembrados vão nos dar uma sensação de desconforto ou castigo. É PROTEJA-SE/SOBREVIVA cumprindo o seu papel.

A memória RAM é extremamente detalhista. Ela grava tudo o que está relacionado ao fato importante em questão, tudo o que os 5 sentidos estavam captando no momento. Pode ser o barulho da batida do carro, a música que tocava no rádio, o cheiro da gasolina que derramou ou do sanduíche que se comia, a textura da direção e tudo o que se pôde ver então. É uma torrente de detalhes que serão gravados na RAM em segundos, tudo na forma de memórias de emoção ou valores, e tudo ordenado e gerenciado, no caso, pelo

valor ROM PROTEJA-SE/SOBREVIVA. (Estava exatamente neste ponto do texto quando chegaram amigos para me visitar e saímos de carro pela estrada da fazenda onde escrevo. Passei com o carro rente à traseira de um cavalo e um dos meus amigos disse que um dia ele fez o mesmo com um carro zero km e o cavalo soltou um par de coices na porta do carro amassando-a. Perguntei como ele se sentia quando passava de novo atrás de um cavalo. Ele me respondeu: "tenso". Perguntei há quanto tempo tinha acontecido o fato. Respondeu-me que tinha sido há 2 anos! PROTEJA-SE!)

O olfato é um dos rememorizadores de valores RAM que mais me impressiona. Ele vai gravando as experiências, relacionando cheiro e vivências do dia-a-dia, de uma forma tão sutil que nós não nos apercebemos do fato. De repente o cheiro se repete, longe no espaço e no tempo daquela vivência e tudo volta à mente. Todos já passamos por essa experiência. Morei de 1967 a 1970 em Curitiba, no sul do Brasil, na belíssima casa de minha avó. A casa abrigava um jardim de estilo francês, considerado o mais lindo da cidade. Era mais de um hectare de gramados, fruteiras e canteiros de flores circundados por buchos, pelo qual se passeava por caminhos cobertos por pequenas pedras brancas redondas, daquelas encontradas nos leitos dos rios. Ao fundo havia um bosque com árvores frondosas. Cortava ainda o jardim um riacho que atravessávamos por pontes côncavas, daquele tipo das pontes japonesas dos quadros de Monet. Nos dois lados da avenida principal do jardim havia uma fileira de macieiras e pereiras. Os limites do jardim eram marcados por cercas vivas, esculpidas em formatos diversos, que exalavam um maravilhoso perfume nas primeiras horas da manhã. Está claro que meu programa preferido na casa era o de passear no jardim, cuja estética amava.

Nunca dei maior atenção aos odores que exalavam das inúmeras espécies de plantas e flores, daquele jardim, mas, muito tempo depois, percebi que a minha memória RAM estava vigilante. Voltei a morar no Rio em 70, cidade cujo clima não permite jardins como aquele. Para meu desgosto a casa de Curitiba foi vendida e demolida em 1975. Dez anos depois transferi-me para Teresópolis, no estado do Rio de Janeiro, cidade de clima semelhante ao de Curitiba. Fui morar numa casa também cercada por cerca viva com gramados e flores. Durante todos aqueles anos lembrava-me saudoso do velho casarão de Curitiba e até sonhava que ele ainda existia. Nada se comparou, no entanto, ao que senti na manhã seguinte da mudança para a nova casa em Teresópolis quando saí bem cedo ao jardim. Passando junto à cerca viva senti o gostoso odor que ela exalava. Naquele exato momento toda a lembrança dos jardins de minha avó vieram a minha mente. Não só a lembrança dos detalhes físicos dos jardins: vivi também, por um segundo, as sensações maravilhosas de meus passeios, tudo despertado por um simples odor. O cheiro é um poderoso indexador de memórias RAM.

Contei no início deste livro a história de um conhecido meu italiano que se lembrou de um fato ocorrido com ele 50 anos antes, por sentir um cheiro que não sentira desde então. Eu, todas as vezes que sinto cheiro de cerca viva, lembro-me dos jardins de minha avó. E lá se vão mais de 30 anos!

A gravação aleatória de memórias RAM assim procede. Todas as experiências que passamos que sejam importantes no julgamento dos valores ROM vão sendo gravadas e indexadas para uso futuro na defesa de nossa sobrevivência. Descrevo a seguir alguns outros exemplos que vivi de gravação de RAM sem indução de terceiros.

Um amigo possuía parte das quotas de um hotel em que os quotistas estavam todos brigando pelo controle de sua administração. Havia infindáveis reuniões dos quotistas em

clima de verdadeira guerra, com grande desgaste emocional para todos. A partir de um certo momento até anos depois de terminadas as lutas, todas as vezes que esse meu amigo entrava no hotel ele sofria uma descarga química de desconforto por estar ali, como se o organismo quisesse afastá-lo daquele lugar associado em sua RAM a dissabores, que PROTEJA-SE/SOBREVIVA queria evitar.

Trabalhei em uma empresa que estava estagnada e nossa perspectiva de progredir profissionalmente era nenhuma. Fiquei alguns anos nesta situação em que o que ganhava mal dava para os gastos e sofria do desconforto do sentimento da inutilidade todos os dias, 8 horas por dia. Naquela época, estar fora do local de trabalho era o que me aliviava e eu simplesmente não podia suportar a visão do encontro de qualquer colega fora da empresa. Num fim de semana, esbarrar com um colega na rua causava-me um terrível desconforto. A minha RAM já tinha gravado tudo o que se relacionava com a minha empresa e me castigava para que eu agisse tentando mudar de emprego. Odeio as segundas feiras! Por extensão odeio as tardes de domingo, que para mim começam depois do almoço, seja a que horas for. Almoço nos domingos, o mais tarde que puder, e fico esperando o dia acabar para dormir, sabendo que vou acordar numa segunda feira. É demais! E depois do almoço de domingo o que temos? Os programas de televisão mais chatos do mundo que, vencidos pela inércia, acabamos assistindo em companhia da sogra e daquela tia meio surda que a sua mulher tem. A minha RAM associou as músicas, os "jingles", as chamadas desses programas com essa situação de desespero mental que vivo nas tardes de domingo. E é só eu ouvir um trechinho delas, mesmo em outros dias da semana, que eu me arrepio. Aqui no Brasil temos o Programa do Faustão num dos canais de TV que ocupa toda a tarde dos domingos. Eu sinto um profundo desconforto só de olhar para a cara do Faustão. Engraçado é que o programa dele antigamente era transmitido aos sábados à noite e, naquela época, eu gostava dele! É interessante também que esse desconforto praticamente desaparece quando estou de férias. Às vezes nem reparo que é domingo e os programas da TV e suas musiquinhas até que nem me deprimem tanto.

Do lado das recompensas da RAM tem a música dos nossos tempos! Que "tempos" são esses a que todos se referem? As pessoas adoram começar frases por "no meu tempo...". Invariavelmente esses tempos gostosos são os da juventude em que começamos a nos sentir mais independentes, vivemos os nossos primeiros amores, temos a turma de amigos que saem juntos para "caçar" nos fins de semana e um dos lugares mais marcantes de tudo isso são os bailes. A RAM grava essas sensações gostosas associadas às musicas da época e quando elas tocam de novo, em qualquer época, é aquela descarga de felicidade! Vivi "meu tempo" marcado pelas músicas dos Beatles. É tocar hoje e vem a recompensa, como se meu organismo quisesse que eu me mantivesse sempre jovem ou sempre feliz como naquela época. Cheiro de carro novo (recompensa) e velho (castigo) são exemplos de gravação RAM aleatória muito interessantes, associados ao sentimento de progresso (do ROM PROTEJA- SE/SOBREVIVA) que só não sente quem nunca entrou num carro.

Terminando os exemplos de gravação RAM aleatória, me vem a mente o desconforto que sentia quando passava na frente do banco ao qual devia uma promissória atrasada.Não precisava ser nem na agência que havia me concedido o empréstimo. A visão de qualquer agência, anúncio, símbolo do mesmo banco já me dava o castigo. E que banco danado para ter agências! Parecia que não tinha uma rua na cidade sem um raio de uma de suas agências. Paguei a promissória enfim e, algum tempo depois, aquela RAM desconfortável se apagou.

Rapidez e intensidade de gravação de valores RAM

Quanto tempo leva a RAM para gravar uma memória? E como ela decide qual o espaço e memória que irá ocupar, ou seja, qual a intensidade do castigo ou recompensa que ela dará quando for especificamente acionada?

Durante algum tempo dediquei-me a estudar essas questões observando como acontecia em mim e em pessoas próximas. Meus filhos, amigos e colegas de trabalho foram as minhas "cobaias" principais. A questão da velocidade e da intensidade de gravação de memórias RAM é complexa e eu não pretendo aqui definir regras gerais para ela. Relato apenas as conclusões a que cheguei. Verifiquei gravações instantâneas, onde a RAM gravada passava imediatamente a causar desconforto. Um exemplo é demonstrado por um amigo cuja mulher amada estava com outro. O "outro" era de origem árabe e ele me disse que tinha deixado de comer quibe, que ele gostava muito, só porque lhe lembrava o outro. Ao saber que o carro do "inimigo" era uma van de tal marca e cor, ele instantaneamente passou a sentir um profundo desconforto sempre que via um carro igual. Esse castigo só passou quando ele conseguiu esquecer a sua amada. A gravação foi instantânea ordenada por aquele valor ROM de castigos e recompensas de enorme intensidade que é o MULTIPLIQUE. Já a deleção foi lenta, fazendo sofrer bastante, pois MULTIPLIQUE odeia perder.

Um exemplo oposto - de gravação extremamente demorada - ocorreu com outro amigo. Ele tinha o costume quando criança de fazer cocô nas calças sempre que sua mãe lhe aprontava para sair. Estava de banho tomado, vestido com sua melhor roupa e, na exata hora de sair de casa, pronto: se sujava todo. Esse hábito, de gosto duvidoso sem dúvida, exasperava seus pais, que brigavam muito com ele. Mas o ralhar, por mais veemente que fosse, não surtia efeito. Isso se repetiu durante meses até que um dia seu pai perdeu a abeça e lhe deu uma surra com o cinto. Disse-me esse meu amigo que foi a última vez que ele sujou as calças. Na verdade a gravação pode ser vista como rápida via trauma. O

convencimento por argumentos não funcionou e os pais apelaram para o trauma. Esse tipo de gravação é de grande velocidade - quase sempre instantânea - e de deleção extremamente lenta (esqueci de perguntar ao meu amigo se ele ficou com problema de prisão de ventre). O trauma não se dá somente ou necessariamente por surras, é óbvio. As surras às vezes são absolutamente inúteis no processo de gravação de valores, todos sabemos. Os traumas podem se dar das mais variadas formas, como pela simples visão de uma galinha sendo morta. Uns amigos, quando crianças, assistiram juntos a morte de sua galinha de estimação, que virou o jantar da noite. Nunca mais comeram galinha na vida. Pais, aliás, entendem muito bem de gravação lenta de valores RAM, quando estão na sua função de educar filhos.

Hábitos de higiene, boa alimentação e organização dentro do lar parecem que jamais vão se internalizar como valores nos nossos filhos. Nossa catequese se repete todos os dias e noites e nada! Fazemos ameaças, prometemos recompensas e os progressos educacionais são mínimos. Pior de tudo é que na casa dos outros eles comem de tudo, arrumam a cama, são exemplos de meninos educados. Por que isso? Para mim o que acontece em primeiro lugar é que ameaças de pais não são levadas a sério. Por que uma criança há de comer legumes, como espinafre cozida, se batata frita também lhe mata a fome? Por que arrumar o quarto se a bagunça não lhe incomoda em absoluto? Por que tomar banho se ela nem suou durante o dia? Quem acha que o filho vai morrer desnutrido por não comer legumes somos nós e não o organismo deles. Quem acha que sem aquela

famosa "última colher" todo o resto do almoço do filhinho não serviu de nada é a mãe que o está alimentando.

Nós adultos já internalizamos na nossa RAM, orientada pelo valor ROM PROTEJA-SE/SOBREVIVA, que é importante a diversificação dos alimentos. E o PROTEJA O GRUPO, A FAMÍLIA, A ESPÉCIE leva pais e mães, estas especialmente, ao desespero nos cuidados com a alimentação de seus filhos. Mas a verdade, no entanto, é que ninguém morre por não comer espinafre ou frutas e, mais ainda, jamais vi filho de família com posses suficientes para comprar alimentos ter sua integridade física ameaçada por problemas de nutrição (só por excesso).

Na questão de nutrição nosso organismo se autocontrola muito bem. Até uma certa idade vivemos só com o leite da mãe. A partir do momento em que desmamamos, começamos a comer o que estiver disponível e, dentre estes alimentos, o que mais o nosso paladar apreciar, como balas e chocolates. Na adolescência é que os nossos pequenos selvagens

vão começar a se preocupar mais com o próprio físico, procurando as academias de ginástica, procurando os chamados alimentos considerados saudáveis e nutritivos, porque

entraram numa fase da vida que terão que exercitar o poder de sedução, o que está muito ligado a aparência física. Ou seja, a gravação da questão da importância do que nós chamamos de boa alimentação levou anos para se dar e ocorreu a despeito de todo o nosso esforço para acelerá-la. Não estou defendendo que os pais devam deixar de lado a

preocupação com a alimentação dos filhos, até porque isso seria inútil, tão forte é a nossa RAM que relaciona alimentação e sobrevivência da prole (PROTEJA A FAMÍLIA, O GRUPO, A ESPÉCIE). Mas, na verdade, nosso organismo é muito mais inteligente nessa questão que nós pais.

Os valores RAM ligados às questões de higiene e organização do lar são mais difíceis ainda de serem internalizados nas crianças. Dado, digamos, um estado mínimo de higiene e limpeza, o organismo das crianças não vai se ligar se a cama está arrumada ou não. A partir da adolescência os cuidados de higiene já são bem mais visíveis, pois chegou a hora da caça ao sexo oposto. Os meninos nessa idade passam até horas no banho (o que desconfio que não seja apenas uma questão de higiene). Já arrumar o quarto, nem pensar. Uma pessoa pode ser bagunçada a vida toda e não estar nem aí para isso.

Disse que nossas ameaças não são levadas a sério porque, na verdade, elas não são sérias e as crianças, que não têm nada de bobas, sabem disso muito bem. Ameaças de punição física, de que a criança não vai comer mais nada até o dia seguinte se não comer o legume todo raramente se cumprem, principalmente pelas mães, cujo amor aos filhos as fazem ficar com o coração mole. Já na casa dos outros elas se comportam melhor. Por que? Porque entra em cena um outro valor que é o de ser bem aceito naquele "território estrangeiro", onde as regras e personagens não são bem conhecidos. Lá parece que a coisa é mais séria. Levar bronca do pai ou mãe de um amigo é terrivelmente mais desconfortável do que dos nossos próprios, velhos, conhecidos e moles pais.

A questão da seriedade com que as transgressões às regras serão punidas, jogam um papel fundamental na efetividade e na velocidade de gravação de uma regra qualquer como mais um valor RAM. Sabemos como os filhos de pais rígidos são normalmente mais enquadrados e seguidores das normas. O "exemplo que vem de cima" é também fundamental. Não se pode pregar algo e agir de forma contrária à pregação se se quer gravar um valor RAM em alguém. Nas organizações, por exemplo, as chefias,

principalmente as de nível mais alto, têm que dar o exemplo, ou a regra não pega. Em outras palavras, o "exemplo" acelera a velocidade de gravação da RAM. Aliás, com base em tudo o que vivenciei e estudei, afirmo sem medo de errar: não há processo educacional, de socialização ou de aculturamento eficiente que não se baseie em um bom sistema de castigo e recompensa. Isso é válido para as famílias, para os grupos sociais maiores, para as empresas, para as cidades, países, etc.

Intensidade.

A intensidade da gravação é determinada por uma interpretação dos valores ROM sobre a importância daquela mensagem que será gravada como RAM. A intensidade nada tem a ver com a velocidade de gravação. Uma RAM pode ter levado anos para ser gravada como tal e ser intensa, assim como ter sido gravada instantaneamente e ser igualmente intensa. Graficamente, a memória RAM teria o seguinte aspecto no seu espaço de terabites: Os caracteres representam os vários e distintos valores RAM gravados ao longo da vida de um ser (os animais também tem RAM), ocupando um maior ou menor espaço RAM, o que vai determinar se a reação química a um estímulo recebido gerará um sentimento de maior ou menor intensidade naquele ser. Graficamente, a memória RAM teria o seguinte aspecto no seu espaço de terabites:

XXXXXXX A FF RRR BBBBBBBBBBBBBBBB CC H

MMM OO K YYYYYYYYYYYYYYY SS L V T

ZZZ WWWWWWW 999999999 IIIII G

JJJJJJJJJ DDDDDDDDDD 4 Q 33333 ###########

666666666666 %%%%%%%%% ********* UUUUUUUUU 000 @@@@@@@@@@@@@@@

^^^^^^^^^^^ $$$$$$$$$$$$$$$ @@@@@@@@@@@@@@@@@@ !!!!!!!!!!!

Vamos imaginar que estamos olhando a RAM no microscópio. Suponha que aquele grande espaço ocupado pelo símbolo @ represente a mulher que você ama loucamente chamada ANA. A visão no microscópio seria a seguinte:

07hkg*&jpb%

rrrANAxhb

#tr i4 96+xyz

No meio do espaço está a amada Ana propriamente dita. Em volta dela estão os registros das inúmeras memórias relacionadas diretamente com ela. Pode ser o cheiro do perfume que ela usa, a imagem da sua casa, aquela música que vocês costumam escutar juntos, o carro dela, uma blusa que ela tem, o antigo namorado dela, que você acha que ela ainda gosta um pouco, um cachorro que a mordeu etc., etc., tudo isso que visto, ouvido, cheirado ou apenas lembrado vai lhe dar um sentimento de castigo ou recompensa.

Gravado com uma determinada intensidade, aquele valor RAM poderá ter a sua força aumentada ou diminuída ao longo do tempo, podendo chegar a ser deletado, quando se tornará apenas uma memória de informação, ou seja, aquela que não provoca sentimentos quando estimulada. A reestimulação constante do valor é uma forma que tanto pode aumentar como diminuir sua intensidade. Você, que tem um certo medo de

ratos e baratas, por exemplo, fica preso num local subterrâneo, escuro e úmido, cheio de ratos e baratas.

Pronto: agora você ficou com um medo pânico de ratos e baratas. Aí você procura um psicólogo e começa a tratar esse seu trauma, relembrando-o a cada sessão de análise de

uma forma mais tranqüila e o trauma vai diminuindo, até que você deixa de sentir pânico diante desses bichos nojentos. Mesmo sem a ajuda sistemática de um profissional você pode diminuir o trauma, como por exemplo falando sobre ele de forma natural com seus amigos.

O organismo tem um processo próprio e autônomo de administrar a intensidade das memórias RAM. Ele processa as informações e sensações que coletamos durante o dia concluindo pela pertinência de aumentar ou diminuir a intensidade dessas memórias. Por exemplo, eu era profundamente anti-empresa multinacional/anti-imperialista nos anos 70 e parte dos 80. Não podia ver um posto Shell ou um computador IBM sem um sentimento de desconforto. No meu trabalho em uma instituição governamental de financiamento éramos todos assim. Nossa equipe tinha como bandeira o apoio à indústria nacional substituindo importações. Tínhamos todos incorporado um valor RAM ligado ao ROM PROTEJA A FAMÍLIA, O GRUPO, A ESPÉCIE, que nos impelia a defender o país contra os estrangeiros, simbolizados pelas multinacionais. Era o espaço de luta da esquerda dentro do governo no período da ditadura de direita no Brasil. Acho que o único produto importado que aceitávamos bem era o whisky escocês. Com o passar dos anos, a globalização da economia e o fim do socialismo, fomos naturalmente perdendo esse valor, até que ele praticamente desapareceu em nossa RAM. Ainda defendemos o país, é claro. Mas as multinacionais deixaram de se constituir no inimigo da pátria em nossa RAM. O mesmo ocorreu com o amigo que citei que, traído por um turco, deixou de comer quibe. Passados alguns meses, esquecida a mulher em disputa, ele voltou a conseguir saborear o petisco árabe.

A química.

Recapitulando mais uma vez o modelo de leitura de estímulos externos, temos que:

- o organismo faz uma leitura do estímulo via os nossos 5 sentidos, procurando classificá-lo, num primeiro momento, frente a memórias objetivas de que disponha;

- identificado o estímulo, imediatamente a informação é passada para o "Setor de Valoração" que vai avaliar a importância da mesma buscando referências preexistentes em suas memórias;

- achadas as referências, a informação é passada à "Central de Produção e Controle de Drogas - CPCD", determinando qual ou quais sentimentos o indivíduo deve sentir naquela situação, bem como sua intensidade;

- a CPDC imediatamente lançará tal(is) droga(s) (ou as suprimirá) na "Central de Sensações", produzindo o(s) sentimento(s) determinados na intensidade adequada;

- tal ou tais sentimentos irão gerar ações em resposta, que podem ser imediatas, de curto, médio ou longo prazos.

CPCD – Central de Produção e Controle de Drogas

Falemos agora da parte do nosso aparato de sentir-agir que chamei em meu modelo de "Central de Produção e Controle de Drogas - CPCD". Hoje está mais que provada a base

química dos sentimentos. A descoberta da "química do amor" alardeada por toda a imprensa mundial em 1993 veio dar substância científica a algo que eu defendia, mas era contestado por quase todos. Contei no início deste livro das dificuldades que tive quando ousei expor meu modelo a um grupo de cientistas. Tinha certeza que os sentimentos tinham uma base (bio)química por ver o que acontecia com o sentir de quem usava drogas de várias naturezas.

As anfetaminas, que davam alegria e excitação, a maconha com o seu poder de acalmar e potencializar a "curtição" das coisas que nos cercam e tantas outras mais, cujos efeitos sabemos pelo menos de ouvir falar ou ler. A partir da segunda metade da década dos 80 comecei a ler sobre resultados de pesquisas científicas que apontavam a presença ou ausência de substâncias químicas produzidas pelo próprio organismo diretamente relacionadas com os sentimentos. A convivência com colegas de trabalho especializados em genética durante alguns anos nos 80 também serviu de fonte de reforço das minhas convicções sobre a química dos sentimentos. Lembro-me que tentei convencer alguns cientistas da área a estudarem mais profundamente o assunto, mas não obtive sucesso algum. Estudar os sentimentos não parecia ser coisa de cientista sério, principalmente para os próprios cientistas (segundo o relatodos pesquisadores envolvidos nos estudos sobre a química do amor, eles foram fortemente desencorajados a iniciar tal empreendimento por seus colegas).

Bem, acho que hoje felizmente não precisamos mais perder tempo discutindo se os sentimentos têm ou não base química. É fato provado. Vejamos, então, o que podemos agregar de novo nesse campo.

A ciência pouco sabe sobre o funcionamento completo dessa nossa "fábrica" de produtos químicos, o que nos força a usar a dedução lógica baseada nas evidências, como vimos fazendo em nosso modelo. Sabe-se que a produção não é centralizada em uma só unidade fabril. Há glândulas espalhadas pelo corpo que se encarregam da fabricação de algumas das substâncias já conhecidas, demonstram os cientistas. Mas há de haver um controle central que avalie em cada situação de estímulo qual a substância que deve ser empregada para provocar o sentimento requerido pelo organismo. Lembremos que a resposta de um sentimento a um estímulo é instantânea. Portanto, há que haver um estoque de todas as substâncias necessárias a todos os sentimentos sempre disponível em quantidades adequadas e com a qualidade absolutamente controlada. Em um indivíduo normal não há falhas. Seja o estímulo interno ou externo, há instantaneamente um sentimento correspondente, considerado adequado na qualidade e na intensidade pelo organismo de acordo com os mandamentos dos valores ROM. Isso vai consumir uma determinada quantidade das substâncias empregadas. Estas têm que ser repostas sempre que o estoque baixar do nível de segurança mínimo.

E há falhas? Sim. Observo falhas em alguns casos. A primeira que notei acontece com aqueles indivíduos que chamamos de loucos. Um louco é alguém que se caracteriza justamente por ter sentimentos completamente desproporcionais ou inadequados aos estímulos que recebe. Ele chora quando deveria sorrir, gargalha das coisas mais sérias, sofre de um medo pânico de uma bobagem qualquer. O louco pode ainda não ter qualquer reação frente a algo que causaria a um indivíduo normal uma torrente de sensações. Louco é, assim, uma pessoa com a CPCD lesionada.

Outro caso de falha que observei ocorre com as pessoas que estão sempre de uma determinada maneira. Você não tem um conhecido que está sempre rindo e feliz? Ou um

que está sempre triste? E aquele sempre de mau humor? No mesmo dia em que estava escrevendo esta parte do livro me chegou uma revista com uma reportagem sobre o sentir felicidade, tristeza ou depressão e mau humor de forma crônica. A Organização Mundial de Saúde, diz a reportagem, desde 1995 incluiu a distimia (mau humor crônico) no rol das doenças psíquicas. Segundo um psiquiatra ntrevistado na reportagem a distimia é genética e as pessoas que sofrem desse mal têm desequilíbrio no processo químico de duas substâncias, a noradrenalina e a serotonina, responsáveis pela sensação de prazer e bem-estar do organismo. Afirma o mesmo psiquiatra que o excesso de bom humor também pode ser classificado como doença, chamada de euforia, caracterizada por um sentimento exagerado de otimismo que leva a pessoa a perder o senso de realidade. A distimia não teria cura, obrigando o paciente a ingerir anti-depressivos toda a vida.

Vejo os exemplos como dois lados de uma mesma moeda: o mau humorado crônico tem as duas substâncias em falta e o eufórico as têm em excesso. Que falhas podem ter corrido nesses casos? A CPCD, no caso da euforia, abriu a torneira das substâncias em demasia e não consegue fechála.

No caso da distimia fechou demais a torneira e não consegue abri-la. A falha pode ter também ocorrido na Central de Sensações, que pode estar com problema na parte que vai ser irrigada pelas substâncias em questão, e que provocaria esses sentimentos. Digo isso por ver casos em que pessoas necessitam ingerir quantidades crescentes de drogas para obter o mesmo efeito que a dosagem menor anterior obtinha.

Outro tipo de falha observo com os chamados maníacodepressivos, que ora estão eufóricos, ora deprimidíssimos. Nesses casos parece que a torneira desregulou: ora deixa passar substância demais, ora de menos. Por que as falhas acontecem? Diz a reportagem citada que a questão é hereditária. Acredito que sim, mas creio que a CPCD ou a Central de Sensações podem também sofrer danos ao longo de nossa vida por algum trauma que levou a uma utilização excessiva do mecanismo ou simples desgaste ocorrido com o tempo. A depressão nos idosos, por exemplo, é extremamente comum, o que vejo ser corrigido ou combatido com tratamento químico. Vejamos agora a questão da reposição do estoque de drogas.

Se todos os dias gastamos quantidades maiores ou menores de nossas substâncias químicas naturais e considerando a absoluta improbabilidade de nascermos com estoques para toda a vida, há que se repor os estoques. Correríamos enorme risco de vida se ficássemos um dia que fosse sem as nossas drogas produtoras de sentimentos, pois perderíamos a capacidade de reagir aos estímulos. Como se dá a reposição? O organismo poderia ir produzindo as substâncias na medida em que elas fossem sendo consumidas. Por exemplo, baixou o nível da substância que causa o medo porque o sentimos num determinado momento do dia, a CPCD poderia imediatamente acionar suas fábricas para repor o estoque. Considerando, no entanto, a diversidade das substâncias, necessidade de um perfeito controle de qualidade e de um preciso controle dos níveis de estoque, creio que o organismo estaria se expondo a um perigoso risco de erro nesse processo se ele fizesse tudo isso durante o período em que estamos enfrentando a vida.

Mais apropriado seria fazê-lo enquanto o organismo estivesse em repouso, ou seja, quando a "máquina de sentir" que nós somos não estivesse submetida a tantos estímulos internos e externos, à necessidade de tantas tomadas de decisão, a tanto desgaste de energia, ou seja, quando estamos dormindo. Creio firmemente por indícios que colhi estudando o dormir-sonhar que esse processo se dá quando dormimos, sendo até uma

das razões porque os animais dormem e sonham. Mas isso fica para o capítulo do livro que trata dos sonhos.

Durante o tempo em que vim desenvolvendo essas idéias sobre a química do sentir algumas coisas loucas vieram a minha mente, mas são loucuras daquelas que fazem sentido. Por exemplo, é perfeitamente crível que seja possível fabricar um elixir do amor. Se pensarmos que para sentir basta manipular as substâncias certas no lugar certo, aquele velho elixir, cuja fórmula secreta só as bruxas conheciam, hoje poderia ser fabricado e vendido pela Bayer. Da mesma forma deverá ser possível fabricar num futuro não muito distante elixires do desejo, do ódio, da amizade, da cobiça, da bondade e de todos os nossos sentimentos. Tanto será possível sintetizar a substância que provoca o sentimento como o seu antídoto. Imagine, então, você saindo com aquela menina que você está doido para conquistar e com o elixir do amor para colocar no vinho dela no restaurante. Ela vai sentir amor, a menos que, sabendo de suas intenções, ela tenha o antídoto na bolsa. O problema é por quem ela vai sentir amor. E se for pelo freguês da mesa ao lado? Lembremo-nos que alguns elixires já são fabricados, tais como pílulas com substâncias que levam à depressão ou à euforia. E o Prozac? Não é uma pílula de felicidade? A fabricação das substâncias provavelmente vai se dar por bactérias engenheiradas para produzir determinadas substâncias, como atualmente já produzem insulina. O projeto GENOMA, que está mapeando os genes humanos, deverá determinar quais os genes responsáveis por cada substância que induz cada um dos nossos sentimentos, facilitando a sua transferência para bactérias que produzirão as drogas.

Outra possibilidade maluca é a de se utilizar as substâncias químicas sintetizadas para obter um comportamento desejado em todo um grupo de pessoas. Por exemplo, o elixir anti-cobiça seria ingerido por todos os trabalhadores da Casa da Moeda. O da paciência seria ministrado naqueles que fazem trabalhos repetitivos (ou que trabalham nos balcões de reclamações das lojas). Para os que trabalham em hospitais ou asilos, o elixir adequado seria o da fraternidade. O da criatividade para o pessoal do departamento de marketing e por aí poderíamos ir exclamando "Oh, admirável mundo novo", pois estaríamos vivendo no mundo que Aldous Huxley imaginou nesse seu fantástico livro.

Imagino ainda como será facilitado o processo de domesticação e criação de animais a partir do conhecimento da química do comportamento de todo o reino animal. O Homem ainda não despertou para a questão dos sentimentos dos animais. Citei no início no capítulo 1 como um livro sobre esse tema virou um "best-seller", como se o fato dos animais também terem sentimentos semelhantes aos nossos fosse uma enorme novidade. Veja o que o grande cientista Carl Sagan dizia em seu livro Os Dragões do Éden publicado em 1980: Muitas facetas do comportamento dos animais tendem a referendar a noção de que as emoções intensas são basicamente privativas dos mamíferos e com menor grau da aves. As similitudes das reações emotivas dos animais domésticos e das do homem me parecem óbvias. É de sobra conhecida a notória tristeza que invade as fêmeas de muitos mamíferos quando se lhes arrebatam as crias. Alguns se perguntam sobre a intensidade destas emoções. Acaso os cavalos albergam as vezes sentimentos de fervor patriótico? Experimentam os cachorros como o Homem um certo arroubo parecido ao êxtase religioso? Que outra classe de intensas e recôndidas emoções albergam os animais, que não comunicam (através da linguagem) conosco?"

Central de Sensações

A Central de Sensações na minha concepção reúne o aparato biológico que nos faz sentir, a partir do contato ou da supressão das substâncias químicas que geramos ou ingerimos. O que posso falar dessa parte do nosso organismo, faço por pura especulação lógica, já que algo muito menos desvendado pela ciência e também dá poucas evidências de seu funcionamento. A Central de Sensações seria realmente uma central localizada no cérebro ou sentimos por todo o organismo? Difícil de responder, mas os indícios são para a existência de um mecanismo centralizado no cérebro. Veja, por exemplo, as sensações mais fisiológicas.

Sentimos dor em todas as partes do organismo e sabemos exatamente onde está doendo. Mas o sentimento da dor (ou o castigo que ela provoca para que ajamos para evitá-la) é produzido no cérebro. A anestesia, por exemplo, bloqueia a passagem do sentimento da dor do local onde ela está sendo provocada para o que seria a Central de Sensações. Impulsos elétricos devem vir pelos feixes de nervos até a CPCD que regulará a dosagem da droga adequada ao sentimento que deve ser produzido no caso. A droga em contato com os mecanismos da Central de Sensações irá produzir o sentimento. Imagino a Central de Sensações como uma central telefônica das antigas com vários relés que correspondem aos números dos telefones. Cada sentimento deve ter o seu relé próprio por uma questão de segurança. Se tivéssemos um só relé produzindo todos os sentimentos pela variação das múltiplas drogas, em caso de defeito nesse super relé todo o mecanismo de sentir entraria em pane. É mais crível que tenhamos na Central de Sensações "n" relés especializados em cada diferente sentimento.

Sentir – agir.

Seja como for que funcione ou que se localize o aparato que nos faz sentir, o importante é que ele existe para nos induzir a uma ação. Não há ação sem sentimento e, dificilmente, há sentimento sem ação. Você pode retardar o agir, mas se o sentimento (castigo ou recompensa) é forte, você muito dificilmente conseguirá bloquear por muito tempo a ação que o sentimento quer induzir. Algumas pessoas, especialmente aquelas que trabalham profissionalmente com o comportamento humano, dizem que uma das coisas que diferenciam o Homem dos outros animais é justamente a capacidade racional que o Homem tem de não seguir os seus impulsos para agir. Ou seja o Homem, pelo seu poder de raciocínio, seria capaz de controlar seus sentimentos e agir racional e adequadamente frente a múltiplos estímulos, escolhendo o curso de ação mais inteligente ao caso. Não conheço bobagem maior do que essa afirmação. O quão racional ou emocional é uma ação? Você pode afirmar que o pegar um lápis para escrever é uma mera ação racional. Você sabe que se escreve com um lápis e o pega e começa a escrever, digamos uma receita de preparação de um remédio e acha que tudo isso é só e absolutamente racional.

Não é. Na verdade você tem uma motivação para fazer aquilo, o que é emocional. Você vive de preparar receitas de remédios e você todos os dias vai ao local de trabalho e escreve suas receitas porque você sente que tem que ir. É de lá que você obtém o sustento de sua família e, chateado ou não nas segundas feiras, você comparece ao trabalho. O que você faz é sempre emocional, ou seja tem base nos sentimentos. Como você faz pode até ser racional. Mas nem sempre. A simples escolha entre um lápis mais duro ou mais macio para escrever já tem um componente emocional. Você sabe que escreve mais fácil com o lápis macio e como o seu organismo sempre te induz via o sentimento de preguiça a economizar energia você escolhe o mais macio. Por outro lado, naquele trabalho específico, o lápis duro é mais indicado porque os traços ficarão mais bem definidos e você quer mais qualidade naquele trabalho. Você quer mais qualidade

porque quer impressionar o seu chefe ou os seus colegas, ou simplesmente porque você gosta de fazer os seus trabalhos com qualidade (está na RAM). Tudo isso é emocional. Vai lhe gerar castigos ou recompensas, dependendo do resultado que você conseguir obter. O que seria racional no exemplo é apenas o fato de você saber que resultados pode obter com um ou outro lápis e escolher o mais adequado ao caso.

O Homem, na verdade, é o ser menos racional que conheço. Todas as suas ações são fundamentalmente baseadas em emoções, ou seja, em sentimentos. A própria definição de racionalidade que aprendi na escola de administração, baseada no positivismo que presidiu a formulação das escolas da "administração científica" tem a sua base em sentimentos: "racional é a ação que obtém o máximo de produtos ou resultados com o mínimo de insumos". Se aplicarmos essa definição nas ações que envolvem esforço físico, estaremos sendo induzidos pelo sentimento de preguiça no bom sentido da economia de nossas energias. Aplicada à produção de bens e serviços vemos a preocupação (emocional) com a acumulação de dinheiro ou poder. Podemos ter uma boa visão da separação entre o emocional e o racional nos esportes. Eu jogo tênis. Jogo porque me mantém em forma e porque sou competitivo e gosto de vencer meus adversários (PROTEJA-SE/SOBREVIVA).

Já estourei o braço algumas vezes por forçá-lo demais durante o jogo. O tênis é interessante pela forma como ele exige cálculos do cérebro. Quando a bola vem do adversário temos que calcular sua velocidade, sua trajetória, estudar a colocação do adversário, escolher a melhor resposta em termos de velocidade/força e local da quadra do adversário que queremos lançar a bola, escolher a posição do punho da raquete na mão ("slice" ou "top spin"?), comandar o corpo para se localizar onde possa bater bem na bola e, finalmente, dar o golpe. Tudo isso é feito em uma fração de segundo pelo cérebro, dezenas de vezes durante um "set", o que indiscutivelmente está dentro do campo do racional, já que não envolve sentimentos no processo. De outro lado, a cada bela jogada nossa, a cada ponto, a cada game vencido vem a recompensa. O revés é castigado pela Central de Sensações, nos levando a tentar jogar melhor, a acertar na próxima vez. Erros repetidos ou primários faz a Central de Sensações nos castigar com mais intensidade, podendo levar-nos a um estado de irritação profunda, que pode até nos induzir a abandonar o jogo (e treinar mais no paredão no dia seguinte). A motivação para jogar e o esforço para vencer estão dentro do campo do emocional, envolvendo as necessárias drogas e sentimentos. Voltamos ao exemplo da escolha do lápis para discutir uma questão fundamental no entendimento do binômio sentiragir que é o do conflito de sentimentos. Naquele caso, qual o lápis que escolheríamos? O que mais nos consumiria energia ou o que melhor qualidade traria ao trabalho? Na determinação de um curso de ação a seguir nós normalmente estamos submetidos a mais de um valor e sentimento. A escolha fácil é aquela em que só um valor/sentimento se impõe. Por exemplo, estou com fome, vou comer e como. A escolha, no entanto, pode ser bem mais difícil: - estou com fome e como; - estou com fome, mas ainda não é hora de comer e espero; - estou com fome, mas na geladeira só tem alimentos que engordam, o que eu devo evitar, e não como; - estou com fome e quero comer agora, mas hoje é dia de almoçar com o chefe e espero porque preciso agradá-lo; - estou com fome, o chefe já chegou mas não quero ir a restaurantes que sirvam massa, porque engorda; - estou com fome, estou saindo com o chefe para ir a um restaurante vegetariano, mas vou tentar ir a um que não seja caro, pois preciso economizar; - estou com fome, estou saindo com o chefe para ir a um restaurante vegetariano que não é caro, mas logo aquele que escolhemos está com uma fila de espera enorme e nós não podemos atrasar para uma reunião que haverá no início da tarde; - estou com fome, estou saindo com o chefe para ir a um restaurante vegetariano

que não é caro, não há fila de espera, mas aquela colega que está me acusando de assédio sexual (e com razão) está lá dentro e eu arranjo uma desculpa qualquer para ir ao caríssimo restaurante italiano ao lado (me encho de massa e ainda pago a conta).

Em cada uma das hipóteses agregamos mais um valor que influenciava o curso de ação a seguir. Vários sentimentos foram sendo produzidos em conseqüência, alguns conflitantes como o de querer comer e ter que esperar ou não poder comer qualquer tipo de comida (a dieta é o exemplo mais típico de conflito de valores/sentimentos!). Nesses casos há sempre um vetor resultante. Várias forças estão influenciando um movimento e todas, algumas ou só uma podem ser determinantes do sentido e intensidade do movimento. No exemplo o rapaz que procurava o restaurante mais adequado a sua dieta, ao seu bolso e ao tempo disponível para almoçar, jogou tudo isso para o alto quando viu a colega da qual ele tinha receio no restaurante escolhido. Um sentimento foi muito intenso e fez com que os outros valores/sentimentos não mais pesassem na escolha do local do almoço.

Em praticamente todas as nossas ações há por trás um conjunto de valores que foram acionados ao mesmo tempo para defini-las. São várias RAM subordinadas a um, dois ou aos três valores ROM gerando uma variedade de substâncias químicas que vão, por sua vez, produzir diversos sentimentos e, do complexo de sentimentos, resultará uma ação ou um curso de ações. Podemos ter sentimentos reforçando outros ou até diametralmente opostos influindo na ação. Vejamos alguns exemplos que todos vivemos no nosso dia-a-dia. Comecemos com uma simples escolha do que vamos vestir. A adequação ao clima é um dos primeiros valores considerados. No nosso armário as roupas não adequadas à estação já estão separadas das utilizáveis naquele momento. Nosso mecanismo regulador da temperatura do corpo é muito exigente com o que vestimos. Note-se que nossa temperatura está sempre regulada em torno dos 36,5º C, mais ou menos alguns décimos. Se expomos o corpo ou partes dele a temperatura que o organismo tenha que gastar muita energia para manter a temperatura normal, o castigo é imediato e intenso. Ações corretivas, como colocar ou tirar um casaco, mudar de ambiente, etc., serão imediatamente empreendidas. Preventivamente nosso organismo já nos dá um castigo se apenas considerarmos o uso de uma roupa muito inadequada ao clima: a simples visão de um casaco felpudo num dia de verão escaldante pode nos dar uma profunda sensação de desconforto. Continuemos a escolher a roupa para vestir. Várias roupas adequadas ao clima estão disponíveis em nosso guarda roupa. E agora? Agora o valor ou valores que vão ser considerados podem estar relacionados com o local a que vamos nos dirigir. Trabalho, passeio ou festa? Não usamos gravata para passear (a menos que você seja um cidadão britânico) nem bermuda para trabalhar (idem).

Na empresa em que trabalho tem um posto de serviços bancários. Fica no 5º andar e, quando vemos um colega de bermuda naquele andar, primeiro temos a surpresa e a sensação de desconforto, depois vem logo à cabeça que ele deve estar de férias e só passou lá para ir no banco. Mesmo sabendo disso, o desconforto continua, embora minorado. Na minha RAM (e na de meus colegas) estão gravadas as roupas adequadas para uso no ambiente do trabalho. O ROM PROTEJA- SE/SOBREVIVA orienta-nos para gravar na RAM as formas adequadas do trajar, para que o comportamento derivado desses valores nos leve a ser bem aceitos pelos grupos de que fazemos parte, aumentando as nossas chances de sobrevivência. (Paro de escrever para ver a largada do Grande Prêmio do Brasil de Fórmula Mundial na TV. Dois pilotos brasileiros largam na primeira fila. Torço pelos meus compatriotas. O valor em questão é o ROM PROTEJA A FAMÍLIA, O GRUPO, A ESPÉCIE. O sentimento é o do patriotismo. É dada a largada. É sempre emocionante. Adrenalina. Acidente. Vários carros envolvidos. Mais adrenalina.

Nossos ídolos estão lá nos dando exemplos de coragem. Bandeira amarela. Prova suspensa por alguns minutos. Volto ao livro, mas deixo a TV ligada para escutar o que está acontecendo na corrida.)

Mas hoje é dia de passeio. Tenho várias roupas para passeio. Qual escolho? Agora depende do que vou fazer exatamente e quem vou encontrar. Se vou andar na praia de Ipanema, onde as pessoas são mais chiques e as mulheres mais bonitas, os ROM PROTEJA-SE/SOBREVIVA e MULTIPLIQUE vão pesar na decisão. Quero ser aceito pelo grupo e, se possível, ficar atraente para as mulheres. A moda lá é moleton e tênis importado. Uso o que tiver de melhor. O que é o melhor? Na minha RAM estão gravadas as griffes mais prestigiadas em Ipanema. Uso também algo que se harmonize entre si, como cores que combinam, e com o clima. Se está muito sol, cores claras são mais adequadas, pois atraem menos os raios solares, o que economizará energia despendida pelo meu organismo no controle da temperatura do corpo. Se está nublado e fresco posso usar cores mais escuras. Estou pronto. Olho o efeito no espelho. Se os valores foram atendidos o organismo me recompensa. (Paro de novo. Acidente com 2 dos 6 brasileiros que estão disputando a corrida. Preocupo-me com meus compatriotas (castigo). Tudo bem com eles. Alívio (recompensa). Estou com dificuldade de me concentrar no que escrevo. Esse exemplo da roupa está ficando chato. Estou dividido entre ver a corrida e escrever. Hoje é domingo, dia de cerveja e esporte na TV. Mas tenho que aproveitar os fins de semana, pois é quando tenho mais tempo para escrever. Sentimentos em conflito. Vou buscar uma cerveja na geladeira. Pia cheia de louça suja deixada pelas crianças que

foram almoçar com a mãe (hoje é Dia das Mães). Desconforto e lavo a louça. Pego a cerveja e volto para o computador. Passo pelo banheiro e vejo o piloto do gás aceso. Desperdício. Castigo. Desligo o piloto. Sento e volto a escrever com a TV ao fundo.)

Mas, se meu passeio é na fazenda só com meus cachorros, saio com qualquer roupa. Tenho uma camisa rasgada que é super confortável. Nem ligo para a aparência. Chega a namorada, no entanto, e não me deixa usar a camisa rasgada. Ela se castiga por ver um namorado com sinais de decadência e a ação é sobre mim. Tenho que mudar a camisa. (Na verdade, na ocasião, ela jogou minha camisa no lixo!) (Paro de novo. Tem um piloto brasileiro liderando a corrida. Volto a atenção para a TV. Outra bandeira amarela. A Fórmula Mundial é muito chata com essas paralisações a toda hora! Lembro novamente que hoje é domingo e Dia das Mães. Não liguei ainda para cumprimentar minha mãe. Castiga-me o ROM PROTEJA O GRUPO, A FAMÍLIA, A ESPÉCIE. Odeio os dias-de-qualquer-coisa! Amanhã é segunda feira. Minha depressão dos domingos começa a se manifestar mais fortemente. A TV anuncia para depois da corrida um dos programas que mais odeio. Mas no programa vai se apresentar um conjunto musical que tem uma loura que é um sonho. MULTIPLIQUE quer que eu assista. MULTIPLIQUE é o diabo. Faz-me fazer as coisas mais loucas. Quando penso em ver o tal programa na TV todos os meus outros valores me dão vontade de vomitar. Mas MULTIPLIQUE quer ver e eu não sou louco de desafiar MULTIPLIQUE. Nada provoca dor maior que MULTIPLIQUE contrariado. O speaker da TV diz que faltam 22 voltas para terminar a corrida. O brasileiro continua na frente. PROTEJA A FAMÍLIA, O GRUPO, A ESPÉCIE quer que eu veja a corrida. Já não consigo mais escrever sem pensar na loura e ouvir a corrida. 20 voltas para o final. Não dá mais para escrever. Não vou mais falar de roupa nenhuma. Vista o que quiser e não chateie. 19 voltas e paro.) Voltei a escrever neste ponto algo como 6 meses depois que parei na linha acima. Deu preguiça. Lembro-me que o brasileiro perdeu nas últimas voltas por falta de combustível. Grande castigo para mim através do sentimento de decepção. A equipe vencedora explodiu de alegria como é hábito nessas

ocasiões. O riso é uma forma de alívio da tensão. A explosão de alegria é o alívio de uma grande tensão continuada.

Paro de escrever sobre o assunto das decisões que tomamos baixo a uma situação de conflito de valores ou escrevo mais? Quero que fique tudo bem explicado mas não quero cansar o leitor. Parei esse tempo todo de escrever muito em função desse conflito que estava vivendo. Eu quero que todos me entendam com facilidade. Por outro lado, fico com esse receio de cansar o leitor e também sinto uma certa preguiça de escrever tanto. E se ninguém gostar desta droga de livro? Estou aqui há anos escrevendo e estudando um assunto que talvez ninguém se interesse. Ou, quando publicar, não traga mais novidade alguma. Afinal, hoje já temos a psicologia evolucionária que fala as mesmas coisas que eu, pelo menos nos aspectos fundamentais, como o fato dos sentimentos terem função biológica. Depois de refletir sobre esses meus dilemas resolvi abreviar o final deste livro. Vou escrever sobre alguns sentimentos importantes para o nosso autoentendimento (amor, preconceito e beleza). Falo depois sobre o dormir e sonhar. O homossexualismo é também interessante de abordar baixo uma visão biológica. E, por fim, se eu tiver inteligência suficiente, tentarei dar alguns caminhos novos para que possamos evoluir com base numa compreensão melhor dos nossos impulsos biológicos de comportamento. Let’s go.

Compre:  "Um Novo homem para um Novo Milênio", livro onde o autor explora e aprofunda os conceitos deste texto.

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