Extraído de "A Mente Seletiva" de Geoffrey Miller
A tese central do livro do G. Miller é a de que o cérebro humano evoluiu pelo mesmo princípio que evoluiu a cauda do pavão: Devido à seleção sexual. A seleção sexual é, em geral, uma forma de escolha de parceiro, feita pelas fêmeas, por uma ou mais características fenotípicas do parceiro. Estas características serviriam de parâmetros de seleção e não necessariamente deveriam estar relacionados com a capacidade de sobreviver do indivíduo.
Transcrevo, abaixo, alguns trechos interessante do livro:
Na Pag 77 "O triunfo da Seleção Sexual :
"Em poucos anos, a seleção sexual tornou-se a áea mais quente da biologia evolutiva e das pesquisas do comportamento animal.... Uma vez rompido este circulo vicioso por John Maynard Smith, George Williams, Amotz Zahavi, Robert Trivers e outros pioneiros , a idéia favorita de Darwin estava livre para prosperar. Este revival da seleção sexual foi rápido, dramático e singular. Esta pode ter sido a única teoria científica importante aceita após um século de condenação, negligência e interpretação incorreta.... A seleção sexual tornou-se a idéia mais produtiva na ciência emergente da psicologia evolutiva. Depois de cem anos de negligência, 'The Descendente of Man' era lido novamente - e não apenas pelo que tinha a dizer sobre evolução humana."
"...O século de exílio da seleção sexual da biologia teve custos substanciais para outras ciências.... Os psicologos tiveram pouco 'insight' de caráter evolutivo sobre a sexualidade humana, e sua disciplina foi dominada pelo freudismo durante décadas. Quase toda psicologia do século XX desenvolveu-se sem considerar a possibilidade de que a seleção sexual pela escolha do parceiro poderia ter exercido um papel na evolução do comportamento humano, da mente humana e da cultura ou da sociedade humana. Depois de Marx, as ciências sociais davam mais importância ao modo de produção de uma cultura do que ao seu modo de reprodução....Também nas outras ciências humanas - arqueologia, ciências políticas, sociologia, linguística, ciência cognitiva, neuro-ciência, educação e política social-, houve um ponto cego no qual a teoria da seleção sexual deveria ter estado".
"... sem a teoria da seleção sexual, a ciência do século XX teve grande dificuldade para explicar os aspectos da natureza humana mais envolvidos com exibiçõe físicas, status e imagem. Os economistas não puderam explicar nossa sede por artigos de luxo e consumo desbragado. Os sociólogos não conseguiram explicar porque os homens buscam a riqueza e o poder mais avidamente que as mulheres. Os psicólogos educacionais não puderam explicar porque os alunos tornavam-se tão rebeldes e ligados a modismos após a puberdade. Os cientistas cognitivos não conseguiram imaginar por que a criatividade humana evoluiu. Em cada um desses casos, uma falta aparente de "valor para a sobrevivência" fez com que o comportamento humano parecesse irracional e não-adaptado."
"..Atualmente, a biologia evolutiva proclama que o antigo mapa da evolução estava errado. Ele colocou peso demais sobre a sobrevivência do mais apto e, até a década de 1980, virtualmente ignorou a seleção sexual pela escolha do parceiro. Contudo, nas ciências humanas, ainda estamos usando o velho mapa, e ainda não sabemos de onde viemos ou para onde vamos. Os próximos capítulos oferecem um novo mapa da evolução, que nos ajudará a encontrar o caminho."
Na Pag. 100 "Saltando do Navio"
"...Do ponto de vista dos genes em qualquer corpo masculino, o corpo em si mesmo é como um navio-prisão à deriva. A morte chega a todos os corpos, mais cedo ou mais tarde. Ainda que o homem tenha dedicado toda a sua energia a sobreviver, armazenando imensas reservas de gorduras e se escondendo em uma cela subterrânea blindada, as estatísticas garantem que um acidente o matara, mais cedo ou mais tarde."
"...Esta estratégia sobrevivencialista paranóica não serve para espalhar os próprios genes para a população. O único modo de garantir a continuação dos genes é por um tubo de escape que chegue a um corpo feminino que traga em si um ovulo fértil. Os genes podem sobreviver a longo prazo apenas saltando do navio e gerando filhos. Em espécies que se reproduzem sexualmente, o único modo de fazer filhos é misturar os próprios genes com os de um outro indivíduo. E o único modo de fazer isso, para os homens, é atraindo uma fêmea da espécie pela sedução. É por isso que os machos da maioria das espécies evoluem para agir como se a copula fosse o ato mais importante da vida. Para os genes masculinos, A CÓPULA É O PORTÃO PARA A IMORTALIDADE. É por isso que os machos arriscam suas vidas por oportunidades de cópula - e é por isso que um louva-a-deus continua copulando mesmo depois que a fêmea comeu sua cabeça."
"...Também para uma fêmea - ou para uma mulher -, o corpo é um navio que afunda, mas tem quase tudo que é necessário para produzir mais corpos : óvulos, útero, leite. A única coisa que falta é um pacote de DNA de um homem. Contudo, existem muitos doadores dispostos a cedê-lo. Encontrar um parceiro geralmente não é um problema. Existem , com frequência, tantos homens ou machos dispostos que a fêmea pode dar-se o luxo de ser seletiva. A qualidade torna-se o mais importante. Cada um dos filhos de uma mulher herda metade de seus genes, não importando o homem que ela escolher. Se escolher um homem acima da média, seu filho terá genes acima da média e, portanto, estará mais propenso a sobreviver e reproduzir-se. A evolucção da escolha do parceiro pelas fêmeas ocorreu por este motivo...."
"...Uma vez que investem muito pouco em seus filhos, os machos da espécie não tem razão para recusarem-se a copular com quaçquer fêmea. É por isso que a escolha do parceiro pelo macho é mais rara entre as espécies e menos discriminadora dentro de cada espécie que a escolha do parceiro pelas fêmeas. E, a medida que os machoa não são sexualmente seletivos, as fêmeas não precisam se dar ao trabalho de criar ornamentos sexuais pela evolução.....
Na pag.114 "Copia de Erros"
"...No começo, esta combinação de DNA chamada "sexo" provavelmente não era muito seletiva. Ela era a forma mais conveniente de garantir que nem todos os filhos herdariam suas mutações. Na evolução , geralmente, as mutações são algo ruim. Uma vez que quase todas as mutações são perigosas os organismos criam mecanismos sofisticados de reparo do DNA para a correção das mutações. Naturalmente, a longo prazo, as mutações são necessárias para o progresso evolutivo ...Contudo os organismos não planejam a longo prazo. Para os organismos , as mutaçõe são simplesmente uma cópia com erros - cometidos na tentativa de espalhar o DNA para a produção de filhos....Elas prejudicam a eficiência biológica chamada aptidão. A menos que haja algum modo de eliminá-las, elas serão acumuladas, geração após geração, corroendo gradualmente a aptidão dos filhotes. Em um trabalho muito recente, os biólogos Adam Eyre-Walker e Peter Keightley calcularam que o ser humano médio tem 1,6 mutação nova e perigosa que nenhum dos pais possuia...."
"...A reprodução sexual provavelmente surgiu como um modo de conter o dano causado por mutações. Misturando seu DNA com o de outro indivíduo para produzir filhos, você garante que metade das mutações que tenha serão transmitidas para seus filhos. Seu parceiro sexual terá mutações também, mas ela quase que certamente serão diferentes e em diferentes genes. Como os filhos tem duas cópias de cada gene, a versão normal herdada de um dos pais com freqüência mascara a os fracassos da versão com mutação herdada do outro membro do casal.... A dominância, contudo, muitas vezes não é perfeita e , na verdade, é apenas uma solução a curto prazo. Dois genes normais às vezes ainda é melhor que um. Além disso, esconder os efeitos das mutações permitem que elas se acumulem a longo do tempo de evolução. Para evitar que as mutações acumulem-se ao longo do tempo, a reprodução sexual assume alguns riscos. .... A maioria dos filhos herdara quase o mesmo número de mutações dos pais. Contudo, alguns podem ter sorte: Eles podem herdar um número abaixo da média de mutações do pais e um número abaixo da média também da mãe. Eles terão genes muito melhores que a média, e devem sobreviver e se reproduzir muito bem. Seus genes livres de mutações serão difundidos pelas gerações futuras. Outros filhos podem ter muito azar: eles podem herdar uma carga de mutações acima da média de mutações de ambos os pais e podem não se desenvolver absolutamente, ou podem morrer na infância. Quando morrem, levam um grande número de mutações consigo, para o esquecimento evolutivo. Este efeito é extremamente importante. Dotando a próxima geração com número desiguais de mutações, a reprodução sexual garante que pelo menos alguns dos filhos terão genes muito bons.....Como a evolução a longo prazo é uma - c o m p e t i ç ã o - e m - q u e - o - v e n c e d o r - l e v a - t u d o, é mais importante produzir alguns filhos que terão uma chance de se saírem bem do que um número maior de filhos medíocres."