Prefácio do Livro de Diógenes Magalhães -"ACUSO"
Críticos de Sigmund Freud atacam sua inexpugnável fortaleza teórica
Uma curiosa 'ciência' que nasceu polêmica
O apóstata transformado em um líder sacrossanto
FREUD FRAUDE?
Os seis casos mais documentados
Censura contribuiu para o mito do herói fundador da psicanálise
Biógrafo recente discorda das acusações
A psicanálise é o avô de todas as psicoterapias pseudocientificas, secundada apenas pela Cientologia como campeã de afirmações falsas sobre a mente, a saúde e a doença mental.
Há cerca de 100 anos, mas precisamente na década de 1890 nascia a Psicanálise, a "ciência dos processos mentais inconscientes", idealizada e desenvolvida por Sigmund Freud, Médico Neurologista, ela se enraizou em nossa sociedade de tal forma como uma religião. Arrebanhando e arrebatando legiões de fieis seguidores,subvertendo o espírito criador do homem, deformando o pensamento vivo de áreas significativas da sociedade, em todo o mundo ocidental. Popularizou-se tornando-se uma ‘visão de mundo", pregando uma doutrina revolucionária, teoricamente simpática, extremamente explicativa logo tornou-se uma "filosofia de vida", propagada como a dona da verdade no domínio conceptual da mente humana, nada passa pelo seu crivo sem antes receber uma interpretação . Invadiu as universidades empolgando os meios intelectuais e a mídia "mestrou e doutorou" os sábios, Satanizou com o incesto as relações familiares, hipersexualizou as crianças (perverso polimorfo),interpretou obras de arte, filmes, literatura, psicanalizou Deus e o mundo, impregnou a psiquiatria com seu parasitismo romântico-explicativo e pouco terapêutico, gozando do prestígio milenar da Medicina, até que fortalecida pudesse então , propagar os seus feitos milagrosos no terreno da terapêutica. Reivindicou um status de ciência, padecendo de amaurose para o método cientifico e miopia para a verdade .Seus discípulos se espalharam pelo mundo, se auto- analisaram, criaram sociedades, combateram entre si pelo amor do pai , ídolo maior, onisciente ,onipresente e onipotente - SIGMUND FREUD = "O todo poderoso" "Dono do mundo" e buscam alucinadamente encontrar o caminho que os leve de volta a casa do pai casa do pai .Construíram suas igrejas acreditando que são os depositários fieis de sua palavra, merecedores de todo o seu amor., ,.Pregam a busca incansável pela verdade do inconsciente, mas são cegos para perceberem que oficializaram a mentira, criaram-na e nela passaram a acreditar veementemente e hoje reconhecer que sua estrada não da a lugar algum é extremamente penoso, difícil, a mentira lhes dá o sustento, o status, o poder, são na verdade prisioneiros do próprio desejo de ser Deus. Embora tenham sido complemente desmoralizados, em decorrência do fracasso na aplicação pratica de sua "Pseudociência" e pelo desenvolvimento tecnológico racional e objetivo ,.não querem "dar o braço a torcer", admitindo que a psicanálise morreu e por causa destes ela está infelizmente ,custando a ser enterrada ,.É Compreensível, esse "apego material " ,fruto de centenas de horas e vultuosas quantias aplicadas em terapias baseadas no método psicanalítico e evidentemente não querem perder o que investiram .É natural portanto, que reajam quando se lhes mostra que tal teoria é desprovida de qualquer fundamento cientifico, afirmando que tais investidas ,na verdade são resistências a verdade,ao auto-conhecimento e recalques da mente de seus críticos, pior ainda:" As cinzas de Auschwitz ainda bloqueiam nossa visão intelectual e qualquer um que proclame que o mais importante fator, na determinação da personalidade e do comportamento está nos genes, corre o risco de ser rotulado de neonazista" A crise pela qual sempre passou a psicanálise nada mais é do que o reflexo do caos interno que habita a mente de seus discípulos e seguidores, que inertes e aprisionados num discurso estéril, não encontram forcas para regressar ao mundo racional e consciente. A poesia da vida existe, compreende-la não é sinônimo de ter que abdicar da verdade, ela é a verdade.
Alguns iluminados se consideram guardiões da moralidade e da SANTA PALAVRA PSICANALÍTICA (SPP), se proclamando freudianos ortodoxos para que aos olhos dos ímpios sejam vistos como os filhos amados, são "oficialmente formados",criteriosos com os neófitos do oficio santo verbo psicanalítico e para tanto instituíram a analise didática que só pode ser realizada por um mestre da igreja universal da torre de babel, grande guru conhecedor de todo o segredo santo . Os iniciados pagam seus dízimos 3 á 4 vezes por semana para o santo analista excomungar seus capetas, demônios ,caboclos, pontos cegos em suas personalidades que os impedem de atingir o nirvana, enfim tudo mais que constitua obstáculo a doutrina e uma vez formados fundam suas próprias igrejas e vão fazer com os outros aquilo que lhe fizeram
Existe também os traidores do santo oficio psicanalítico que foram expulsos do jardim do éden por comerem a LACAN (maçã) do amor e se tornaram insignificante diante do significante discurso do inconsciente, Homo sapiens livres, criaram os passes , a garantia, os cartéis, nó borromeano, foraclusão, paliçada semântica de linguagem hemética,gongórica e polissemica ,talvez criadas num desses não raros episódios delirantes de conteúdo surrealista de seu criador. Essa história de passe e garantia é a institucionalização dos fiadores da psicanálise,se Freud garante, Lacan garante, eles garante e nos garantimos!. Instituíram a máxima " O analista se autoriza por si mesmo" criando uma verdadeira lacanagem no mundo .Mas afinal de contas o que é psicanálise? Para responder essa pergunta não precisamos filosofar, nem rebuscar um discurso de conteúdo difícil para o leitor, basta que busquemos o testemunho e a casuística de nossos pacientes que foram tratados anteriormente pelo método psicanalítico. No sentido de me assegurar da não radicalização de meu discurso e de que não sou o único que assumo uma posição contrária á doutrina psicanalítica, gostaria de citar alguns pontos que considero importante neste preambulo:
- O CFM não reconhece a psicanálise com especialidade médica e é terminantemente contra o anuncio do tipo Médico-psicanalista, constituindo-se séria infração ao código de ética médica, quem assim o faça. A psicanálise não é reconhecida como profissão, Não existe no Brasil e em outras partes do mundo nenhum órgão fiscalizador do exercício e do oficio do psicanalista, assim sendo qualquer indivíduo pode se auto intitular psicanalista; pois segundo estes , o analista não pratica Medicina, mas a Psicanálise, e que o corpo erógeno ou corpo desejante ,especifico do saber psicanalítico, é distinto dos corpos elaborados pela Medicina e Psicologia .Esse principio foi defendido pelo Dr., Freud em 1927 em "A questão da analise leiga" O American Board of Psychiatry and Neurology"orgão oficial da profissão médica nos EUA,que concede certificados de especialistas em todos os campos relativos às doenças mentais certifica que:" Não há banca formal para dar certificados no campo da psicanálise. A psicanálise ,como especialidade ,não é reconhecida por este Board, nem por qualquer outro pertencente ao Advisory Board for Medical Specialties."
Atualmente proliferam-se as escolas de formação em psicanálise, muitas delas, já não exigem curso superior como pré-requisito, bastando possuir o segundo grau para realizar sua matrícula,são cursos ministrados nos finais de semana,uma ou mais vezes no mês, muitos são apostilados e que num prazo de 02 anos formam o psicanalista clínico. Tudo pela socialização da pratica psicanalítica! (O que diria o Dr., Freud sobre este fato?, cultura de folhetim? almanaque Fontoura?, A disseminação da peste como outrora falou? ou a socialização do saber? Há pouco tempo somente médicos e psicólogos podiam candidatar-se á formação psicanalítica , mas hoje os tempos mudaram ,engenheiros,advogados,filosofos clínicos, metalúrgicos, assistentes sociais, sociólogos e etc.., ávidos por psicanalisar, aventuram pelos caminhos da psicanálise fatos que deixariam Dr. Freud muito preocupado e com certeza faria uma reunião de emergência para rediscutir o tema da analise leiga, ou será que concordaria?. Não quero dizer com isso que os médicos devam ter o monopólio da psicanálise, muito pelo contrário é que a abandonem definitivamente, não a ignorando, mas reservando para esta um lugar no museu de tudo o que a mente fértil de um o homem é capaz de fazer para se manter ocupada.
Neste final de século em que as relações humanas se agudizam nos conflitos pela sobrevivência do eu e do nós na sociedade globalizada, em especial o relacionamento com os pacientes, que numa atitude de reivindicação por resultados práticos e imediatos ,como uma cura magica para seus males, tornam-se presas fáceis de pessoas inescrupulosas. Urge que nossa pratica seja fundamentada em princípios éticos e bioeticos rígidos, para impedir que nossos pacientes( Razão de ser de nossa profissão) sejam usados como "massa de manobra" de "pesquisas" eticamente duvidosas e charlatanice, constituindo-se ao meu ver verdadeiros laboratórios de experiências psíquicas no divã. A última edição do Tratado de Psiquiatria de Kaplan e cols.reserva á psicanálise somente um pequeno capitulo, como se fora um museu para ser lembrado e ao mesmo tempo é bem claro naquilo que diz respeito á sua aplicação terapêutica: Cara, dispensável ,comparada ao efeito placebo, alcance terapêutico cada vez mais restrito,com muitas contra-indicações ,infinitamente inferior a terapia cognitiva, comportamental e outras terapias psicológicas...
No Brasil a atividade psicanalítica foi tão penetrante que, "num recente concurso público para médicos-psiquiatras, constavam, apenas questões referentes à escola psicanalítica freudiana".(Cauby Araújo, psiquiatra-JB, ideais,pg.4 de 22/04/90) .Apesar das expectativas até idealistas de alguns, a psicanálise ,felizmente não passou de uma tentativa frustada. Logo evoluiu para uma lucrativa superstição, realimentada pêlos crescente interesse pecuniário .Metamorfoseou-se em uma forma cara e sofisticada de curandeirismo,propondo-se a resolver todos os problemas da mente com "papoterapia",exigindo que os pacientes exibam suas intimidades, num desnudamento verborrágico inútil da alma. Ela não é hoje senão mais um dos meios que a cupidez humana encontrou para explorar a miséria e o sofrimento alheio.Quem cai nas suas garras é porque está desorientado, com problemas e precisando de ajuda, o que o torna vulnerável .De nenhuma forma a psicanálise suprime o mal estar da humanidade. Apenas gera o entusiasmo por uma solução imaginária. Para escapar das tensões sociais de uma sociedade extremamente competitiva e fragilizada há uma procura desenfreada por alivio, Ela fez uma armadilha para si própria, prometendo cura ,sem se interrogar sobre os fundamentos da doença mental ou o fazendo apenas baseada em especulações ,sem qualquer lastro cientifico. A Psicanálise desde de sua criação vive uma crise de identidade, despersonalizada, angustiada na sua existência, em busca de si mesma, sonha com os Prozacs a destituindo do seu trono da sabedoria, seus discípulos e seguidores insones vêem o fantasma do desemprego, pura alucinação!. Centenária da falácia, hoje preenche todos os critérios de uma Pseudociencia.
P.F.R, Engenheiro formado pelo ITA e Mestre em Engenharia pela PUC, uma das vítimas da Psicanálise, relata que por sua filha sofrer de autismo, precisou estudar psicanálise de uma forma extremamente crítica para compreender a desestruturacão que esta causou no íntimo de seu lar. O psicanalista que a atendeu convenceu sua esposa de que sua filha "se encapsulara" por que fora rejeitada pelo pai, que queria um filho homem e isto quase separou o casal, causando um enorme constrangimento, ao invés de uni-los em busca de uma solução ou conforto. Refere que foi aconselhado a estimular sua filha brincar com fezes sob a justificativa de que isto a faz distinguir o ‘eu’ do ‘não eu’, primordial para o amadurecimento dela. Instituindo a coproterapia psicanalítica .Segundo P.F.R muito do sucesso da psicanálise se deve a três fatores ponderáveis:
* Alimenta a idéia cristã e coerente com os nossos princípios democráticos de que nascemos todos iguais e nos tornamos diferentes, bons ou maus, por culpa do meio;
* Satisfaz o desejo irreprimível do ser humano, de fugir de suas responsabilidades e transferir suas culpas para outros, ainda que sejam seus o pais;
* Atende a volúpia, que a maior parte das pessoas tem de falar de si mesma e desabafar seus problemas, como fazem os cristãos no confessionário.
Os colégios de padres e a missa aos domingos ainda existem. Mas ao longo das ultimas décadas, pessoas supostamente esclarecidas passaram a trocar o confessionário pelo divã do psicanalista. A psicanálise entusiasmou, inicialmente porque prometia uma solução mágica. Criando inacreditáveis oportunidades de intervenção e prevenção, liberava os psiquiatras do fatalismo da crença de que a hereditariedade e a biologia determinam o destino e, portanto, na maioria dos casos, de que há pouco a fazer e menos ainda a se esperar.. Vista sob este angulo,a psicanálise prometia incríveis oportunidades de intervenção e prevenção dos distúrbios mentais, o que entusiasmou ate os mais incrédulos. Não podemos, também ignorar as implicações simbólicas que assumiram respectivamente a psicanálise e a Psiquiatria. Enquanto que a primeira associada a um distúrbio emocional ,em que o paciente é visto como vítima de um trauma ,cujo tratamento dá ate um certo "status", a visita ao psiquiatra é imediatamente associada à loucura, motivo de vergonha e escárnio. Mas esta sim é uma verdadeira ciência.
Gostaria de citar o prefácio do livrro de Diogenes Magalhães em sua segunda edição chamado "ACUSO" cujo conteúdo reflete o ‘Felling" de um paciente psicanaliticamente ‘ tratado’ Durante 15 anos em função de um transtorno psiquiátrico:
PREFÁCIO
A intenção do autor deste livro é desmascarar a farsa da psicanálise, é denunciar os crimes por ela cometidos. A psicanálise não é ciência, não resolve o caso de ninguém , não dá a ninguém a paz interior que todos desejam: a psicanálise é mentira habilidosa, que alguns embusteiros encontraram , de tomar impunemente o dinheiro dos pobres-diabos que os procuram.
O assaltante que vai agir na rua sabe perfeitamente o que o espera: se não tiver sorte ,poderá ser preso, espancado, e até linchado; leva grande parte da vida nas prisões, e nunca fica rico, não sai da miséria, não tem futuro ,não tem aposentaria, não tem nada.
O psicanalista, pelo contrário: não se arrisca, tem a certeza da impunidade, fica rico, sente-se tranqüilo quanto ao futuro. A polícia não lhe bate á porta, ele não dá satisfação á ninguém dos seus atos , e nunca se vê na contingência de ter de defender-se perante os tribunais. Não conheço nenhum caso de psicanalista processado por não ter cumprido as promessas que faz, de curar neuróticos.
São iguais os objetivos dos assaltantes e dos psicanalistas: arrancar dinheiro dos incaultos.Os métodos são ,porém ,diferentes. A psicanálise é muito mais lenta, e a violência que aplica é de cunho psicológico. O psicanalista agride, porém não com armas brancas ou de fogo, e sim com palavras: chama suas vítimas de covarde, mentiroso ,homossexual, gramático, etc.; e não deixa vestígios. Se eu disser que fui agredido por um psicanalista, ninguém acreditará : Todos querem ver as equimoses—e eu não posso mostrá-las, porque estão na alma.
Paguei durante mais de doze anos, para ser insultado, vilipendiado, desmoralizado por um sujeito
Que se dizia cientista e era apenas traficante: de ciência não conhece nada. Quem ler este livro até o fim há de ver quais são as tolices que o psicanalista diz, com voz solene e grave ,para encobrir as falhas abismais da sua precária erudição.
Quando o cliente emite um argumento irrespondível, o psicanalista cala-se, porque não está no consultório para alimentar polemicas ;se o cliente lhe contar um caso verídico, o psicanalista nega tudo, porque não acredita em nada do que lhe dizem; e quando chega o momento de ele próprio dizer alguma coisa, o psicanalista diz o que lhe ocorrem no momento: frases sem sentido ,algo que não vem ao caso, palavras que formam conceitos absurdos....."O mar é o inconsciente...."(Pergunta-se: E daí ?Daí nada.)
‘A pessoa teme o que deseja" .( quando temo um sujeito ,é porque o desejo. Boa doutrina!)
"Quem agride está com medo."(Combinando-se esta com a frase anterior ,vê-se quanto absurdo anda por aí, com a gravidade serena das sentenças.")
Mas o que psicanalista gosta mesmo é de negar. Acho que ele nega tudo por que teme enfrentar a realidade. Em vez de deter-se como faria qualquer cientista de verdade, para examinar os fenômenos e provar as teses, prefere negar –negar sempre ,na esperança,talvez,de que a realidade se esfume, e ele deixe de sofrer por causa dela. É uma atitude psicologicamente semelhante á do avestruz: quando perseguida ,aquela ave-reconhecidamente estúpida-cava um buraco no chão , e nele enfia a cabeça. Ao negar sistematicamente, o psicanalista imita a avestruz.
Se eu for ao instituto médico- legal, verei cadáveres, cadáveres, cadáveres. Mas o psicanalista dirá: "São feitos de plástico: ninguém morre violentamente em nenhum lugar do mundo. As notícias que aparecem nos jornais são invenções dos jornalistas".
Mas eu afirmo com toda a segurança: Nenhum jornalista possui imaginação tão forte que faça aparecer cadáveres nas pedras do instituto: aqueles corpos são autênticos, e não feitos de plástico; são das vítimas dos assassinos; são das pessoas que morreram de acidente, ou que se suicidaram.
O psicanalista, que se intitula cientista, vive no universo da fantasia; eu, que sou neurótico, me preocupo com a realidade; ele cogita de quimeras, sonhos de vigília, estereótipos, e coisas semelhantes; eu estou sempre de olhos abertos para os fatos; ele não tem senso da realidade ( exceto quando chega o momento de receber o dinheiro das mãos das suas pobres vítimas ); eu sempre quero chegar ao caso concreto, embora saiba que nem sempre se pode conseguir isso.
Como estas coisas sejam assim, nunca pode haver um resultado satisfatório no fim da "analise". Mas é que o psicanalista não deseja resultados satisfatório: deseja que os clientes voltem ao consultório muitas vezes, para que ele ganhe mais dinheiro.
Esclareço que não procuro a verdade- virtude; não amo a verdade por Ter horror à mentira, nem por desejar conquistar um lugar no céu; procuro a realidade porque não me acomodo bem com a mentira, porque não sei mentir, porque prefiro a realidade à fantasia. Vejam bem: não se trata de querer ser bom, virtuoso, impecável; não se trata de religiosidade: gosto mais dos fatos concretos do que da ficção. E o psicanalista quer justamente o contrário: quer a ficção.
Assim, pois volto a dizer que este livro se propõe denunciar a malícia dos psicanalistas. Não posso, evidentemente, provar nada do que aqui se relata ;dou apenas a minha palavra de neurótico- de que tudo quanto escrevi nestas páginas é absoluta realidade. Pode o leitor ficar tranqüilo: Não inventei nada para escrever aqui: tudo se passou como descrevo . Se consultado, o psicanalista negará tudo quanto aqui se denuncia, pois nega tudo quanto se lhe diz; e ‘INFORMARÁ" que sou mais mentiroso do que o Barão de Munchchausen. Estará sendo apenas coerente consigo mesmo .Que se pode esperar de quem vive da burla e da exploração da desgraça alheia?. São abutres da alma , esses tais : Não analisam almas, e sim exploram almas.
Os capítulos deste livro correspondem a cartas que eu gostaria de Ter endereçado ao ‘psicanalista"; neles se reproduzem tudo (ou quase tudo) quanto disse a ele na terceira fase do "tratamento". Noutras palavras: transformei em cartas- capítulos quase todos os comentários que fiz no "consultório", e portanto na presença do "psicanalista".
Empreguei a linguagem mais simples que me foi possível, sem cair na gíria ,nem no palavrão ,nem no jornalismo. Fui muito cuidadoso neste ponto, e certas expressões que podem parecer arrebicadas ( como, por exemplo, "cento por cento"," vezes sem conto", "mais mínimo" ) são clássicas, absolutamente corretas, e até populares em certas regiões onde se fala português.
Cuidadoso fui, também, com a pontuação: em vez de seguir o processo medievais, segundo o qual o leitor é que supre as notações sintáticas, apliquei tudo quanto necessário para dar a máxima clareza ao texto(parênteses ,travessões ,dois pontos ), mas sem o excesso da pontuação meramente gramatical de que usava Rui Barbosa . O lema foi , sempre : clareza simplicidade e correção (em primeiro lugar a clareza, e em último a correção). Se nem sempre alcancei este objetivo foi por incapacidade, e não voluntariamente.
As aspas foram utilizadas exatamente como ensinam os manuais de pontuação: ou para indicar citações, ou para dar tom irônico as palavras. Assim , ;e lógico , as palavras "consultório" ,"psicanalista" ," tratamento" ,etc., são postas entre aspas, a fim de que o leitor saiba que as emprego ironicamente.
Há repetições neste livro: algumas intencionais ( porque desejei; dar mais ênfase a certos aspectos); outras porque os assuntos me voltavam sempre à mente, e eu não me esforcei para escorraçá-los ; e ainda outras porque a seqüência da narrativa exigiu que determinados pontos fossem comentados a partir de vários ângulos. Não se trata, porém, de mero exercício literário, de meras variações de temas, ou de pura demonstração e capacidade estilística: tudo é conseqüência da angústia, do sofrimento, da miséria psicológica. Aqui fica, portanto, o meu depoimento. Se eu conseguir salvar alguém das garras dos almas- negras que se intitulam psicanalistas, considerar-me-ei pago e satisfeito o esforço que despendi ao escrever.
Diógenes Magalhães
- M.R.A, 23 anos de idade, solteira, estudante universitária, 04 anos de análise, com queixas de cansaço, fadigabilidade ,pressão na cabeça, tonturas, refere que não tem animo mais para viver, sente-se inútil, seu rendimento escolar está prejudicado por dificuldade de prestar atenção, há cerca de 11 meses iniciou um ritual de compulsão e obsessão, sua mente permanecia ocupada com pensamentos "estranhos "repetitivos do tipo "será que eu fechei a porta do meu carro", algumas vezes lavava as mãos várias vezes pois as sentia suadas ,sujas e pegajosas. Havia uma inquietação interna na sua mente, tentava disfarçar mas os pensamentos sempre voltavam ,com maior intensidade e freqüência, apesar de ser virgem e nunca Ter tido contato sexual de espécie alguma , já havia realizado teste laboratorial de gravidez várias vezes, pois temia engravidar pelo suposto esperma do seu irmão mais velho. O Psicanalista firmou o seguinte diagnostico: Desejo incestuoso pelo pai representado pelo seu substituto seu irmão , ódio pela mãe para ficar com o pai, anorgasmia de objeto do pênis do pai. Paciente abandonou a analise ,o psicanalista vociferou : você não quer enxergar a verdade! .Peregrinou pelos terreiros de umbanda, igrejas, centro espiritas e etc... Diagnóstico psiquiátrico : Transtorno do espectro obsessivo compulsivo em paciente portadora de depressão prévia, baseado no DSM-IV da APA - Associação Psiquiátrica Americana e CID 10 da OMS-Organização Mundial de Saúde .Foi submetida a terapia psicofarmacológica com antidepressivo tríciclico do tipo Clorimipramina e psicoterapia cognitiva comportamental e após 03 meses de tratamento refere: "Minha vida mudou, não tenho mais aqueles pensamentos ridículos e parasitas da minha mente, hoje posso ocupa –la com meus estudos ,minha família e meu namorado. Não sei por quanto tempo vou Ter que tomar esse remédio e fazer essa nova terapia, mas o importante para mim e estar bem comigo mesma".
A seguir gostaria de transcrever alguns artigos que criticam abertamente os princípios da doutrina psicanalítica.
Críticos de Sigmund Freud atacam sua inexpugnável fortaleza teórica
No sexagésimo aniversário do início de seu exílio e a um ano de completarem-se 60 anos de sua morte e o centenário de 'A Interpretação dos Sonhos' , os méritos do pai da psicanálise passam por uma revisão severa
Der Spiegel
Quando garoto, Sigmund Freud sonhava ser ministro ou general. Seu ídolo era o guerreiro cartaginês Aníbal, inimigo de Roma que atravessara os Alpes com seu exército e 37 elefantes. Em vez disso, estudou Medicina, especializando-se em neurologia. Seus feitos não se realizaram em campos de batalha: o fã de Aníbal jamais esteve na guerra e só conheceu os Alpes nas férias de verão. Mas o criador da psicanálise nunca renunciou às suas fantasias de cabo de guerra. Aos 43 anos escreveu: "Não sou cientista, tenho o temperamento de um conquistador e a curiosidade, a audácia e a perseverança de um aventureiro".
A um ano de completarem-se os 60 anos de sua morte e celebrar-se a publicação de A Interpretação dos Sonhos, o revolucionário da alma vai aos poucos perdendo a auréola, que, por muito tempo, o defendeu dos ataques constantes. Uma nova geração de críticos, mais radical do que as anteriores, está derrubando o monumento a Freud e transformando em cinzas sua doutrina psicanalítica. Mais grave: segundo seus adversários atuais, a implosão não requer muitos explosivos, pois, há tempos, a outrora soberba fortaleza do rei Édipo já se tornou ruína, não deixando nenhum aspecto da psicanálise a salvo de críticas bem fundamentadas.
O psicólogo suíço Klaus Grawe considera "totalmente ultrapassado" o modelo tripartido do "aparelho psíquico", com sua divisão esquemática em id, ego e superego. O mesmo valeria para a concepção psicanalítica dos "estágios instintivos durante o desenvolvimento da criança: anal, oral e edipiano. Para Grawe, esses são conceitos que não "frutificaram" na teoria e na prática terapêutica.
Na doutrina freudiana dos desejos e instintos reprimidos, que dirigem o comportamento humano como "regentes secretos" da obscuridade do inconsciente, o Deutsche Universitätszeitung ressalta "ecos de uma época contrária ao prazer". Para muitos, Freud aparece tão nu quanto o personagem da lenda dos roupas novas do imperador. O historiador britânico Richard Webster diz que ele não passou do "criador de uma complexa pseudociência, que deveria ser considerada uma das grandes loucuras do civilização ocidental".
Conto-do-vigário - Ao contrário, porém, do que acontece na lenda, em que a observação da criança abriu os olhos do povo deslumbrado, os veredictos dos críticos de Freud, até agora, permaneceram sem efeito. Há vinte anos, o médico ganhador do Prêmio Nobel, Peter Medawar, declarou que a psicanálise era "o mais terrível Conto-do-vigário do século", prevendo seu breve desaparecimento. Os mitos freudianos, no entanto, cravaram-se profundamente no consciente coletivo.
Nas brigas familiares, na TV, nas conversas de mesa de bar surgem como que espontâneos os conceitos básicos que interpretam ou condenam socialmente o comportamento de nossos semelhantes. Manfred Pohlen e Margarethe Bautz-Holzherr, psicoterapeutas de Marburgo, queixam-se da "máquina de interpretação" criada por Freud. Não há um só recanto da cultura ou da sociedade que escape "à mania do esclarecimento" da psicanálise. Até mesmo os já mortos, de Goethe a Karl Marx, de Nietzsche a Schopenhauer, de Stalin a Hitler, todos podem ser traduzidos de acordo com as regras da interpretação psicanalítica, das quais não escapam nem sequer heróis míticos da Antigüidade ou religiões de culturas estrangeiras. Segundo Pohlen e Bautz-Holzherr, a psicanálise tornou-se um "poder colonialista" espiritual, subjugando todo o mundo.
Tal como outros iconoclastas, Freud passou de rebelde a criador de uma "nova ortodoxia", uma doutrina de salvação terrena, que ostenta claros aspectos das "tradições judaico-cristãs". No recém-publicado Why Freud Was Wrong, Richard Webster tenta explicar como o neurologista vienense - racionalista e agnóstico convicto - tornou-se o fundador de uma religião e guru de um movimento espiritual universal. Sua resposta: ambição desmedida e messianismo foram as forças-motrizes daquele que, no fim da vida, gostava de comparar-se a Moisés.
Cedo amadureceu em seu espírito o sentimento de ter uma missão superior. Jacob, pai de Freud, um mercador de tecidos viajante, mudou-se com mulher e filhos para Viena, em 1860, como tantos outros milhares de migrantes judeus do leste do império austro-húngaro. Todas as esperanças da família, que com dificuldades se adaptou ao novo ambiente, concentraram-se sobre o filho Sigmund, nascido em 1856. O menino, o mais velho de oito irmãos, não os decepcionou. Formou-se nos estudos secundários aos 17 anos e com 24 anos tornou-se doutor em medicina. Aos 29 anos, já era livre-docente da universidade.
Favoritos - A mãe endeusava-o ("Sigi, meu menino dourado", costumava dizer), o que ele interpretava como sinal de ser um escolhido, algo de que se recordaria por toda a vida. Em 1917, anotou que os que foram os favoritos de suas mães jamais perderiam "aquele sentimento de conquistadores", garantia de sucesso. Esse entranhado desejo de vencer orientou Freud e levou-o a descaminhos. À procura de temas de pesquisa originais, o jovem médico fez experiências com cocaína. A sugestão viera de um médico militar prussiano que galvanizara seus recrutas estafados com a droga.
Depois de ter experimentado cocaína, Freud teceu-lhe loas num artigo, chamando-a de verdadeira panacéia. Elizabeth Thornton, pesquisadora americana da obra do pai da psicanálise, acredita que ele foi cocainômano por um longo tempo. Os indícios estão nas cartas algo desvairadas que enviou à sua então noiva e futura mulher, Martha Bernays. Pouco depois, participou, com igual entusiasmo, das pesquisas de um amigo médico chamado Wilhelm Fliess, para quem havia um relação estreita entre os órgãos olfativos e os sexuais. Partindo dessa premissa exótica , Fliess, um otorrinolaringologista , tratava distúrbios sexuais com operações nasais. Freud ficou tão impressionado com as dúbias experiências do colega que se deixou operar por ele várias vezes, no afã de livrar-se de patologias neuro-sexuais. Só se distanciou dessa sangrenta terapia sexual depois de ter quase perdido (matado?) uma paciente, vítima de uma intervenção nasal malograda.
Histerias - Freud seguiu à caça de descobertas sensacionais. Outro colega, o clínico geral Josef Breuer, despertou seu interesse pela histeria, doença da moda no fin de siècle, que podia provocar paralisias ou alucinações ( hoje, por motivos ignorados, esse mal não existe mais). Breuer queria curar mulheres histéricas por meio de hipnotismo e Freud entusiasmou-se com a idéia, não tardando a aplicá-la em seu consultório. Com a tenacidade de um inspetor de polícia, investigou em suas histéricas motivos sexuais secretos, que ele considerava como causas da moléstia.
Em maio de 1895, junto com Breuer, Freud publicou os Estudos sobre Histeria. Para Webster, os relatórios terapêuticos do chamado "livro fundamental da psicanálise" são contos de fadas. O pesquisador comprovou que nenhuma das cinco pacientes mencionadas foi definitivamente curada. Em sua opinião, a maioria nem sequer sofria de histeria. Nem mesmo "Emmy von N.", que Freud apresentou como seu exemplo mais significativo.
Gagueira - "Emmy von N.", em verdade Fanny Moser, procurou o médico com toda a sorte de dores. Era viúva de um industrial e uma das mulheres mais ricas da Europa. Sua fala era entrecortada por estalos de língua involuntários e, quando excitada, seu discurso era interrompido por gagueira e um tique nervoso que retorcia suas feições. Freud metralhou a paciente com perguntas sobre a infância, de cunho sexual, para, depois, declará-la curada. No entanto, segundo Webster, ele poderia ter reconhecido que a sra. Moser sofria da síndrome de Tourette, um complexo de sintomas que aparece depois de uma meningite. O mal, já bem conhecido, revela-se pelos indícios da doença de Fanny.
Os motivos que levaram Freud a desconsiderar esse diagnóstico óbvio, a despeito de conhecer pessoalmente o descobridor da doença, o francês Gilles de la Tourette, levam o pesquisador britânico a afirmar que os fundadores da psicanálise operavam no limite da charlatanice. Os magros resultados da terapia de Freud não prejudicaram sua fama de psicanalista. Em 1900, ele era considerado o último recurso para doentes nervosos desenganados pela medicina tradicional.
No início, Freud conquistou sobretudo as mulheres das famílias judias vindas do Leste, que sofriam a perturbadora coerção de terem que se adaptar rapidamente aos padrões culturais da Europa Ocidental, um problema de assimilação que ele conhecia por experiência própria. Quando, todos os domingos, visitava sua mãe, Freud era acometido por cólicas estomacais. Seu pai, Jacob, sempre se esforçou para integrar-se à sociedade, mas nunca conseguiu sucesso como comerciante, em Viena.
Assim, o filho, Sigmund, bem-sucedido em sua ascensão, manteve-se dividido entre dois mundos. Freud era atormentado por temores neuróticos de pobreza e surgiu para muitos judeus como o líder capaz de dirigi-los pelo labirinto da psique, fazendo de sua própria vida íntima o mais importante fator de orientação. E, assim, o pretenso complexo de Édipo universal, mito central de sua doutrina psíquica, espelha sua própria história familiar.
Paixão materna - Em 1897, ele escreveu: "Também em mim observei a paixão pela mãe e o ciúme pelo pai, considerando-os hoje um acontecimento generalizado da tenra infância". O psicanalista procurou verdades universais até mesmo em seus próprios sonhos. Em Interpretação dos Sonhos, ele revelou o truque que lhe permitiu convencer os outros do acerto de suas conclusões subjetivas. No início de seu compêndio sobre os sonhos, Freud pede ao leitor: "Torne seus os meus interesses, procurando aprofundar-se nos menores detalhes de minha vida". Somente os que fossem capazes de tornar suas as visões do autor aprenderiam a encontrar os chamados rastos "do significado secreto dos sonhos".
"Um bom psicólogo é capaz de colocar-se em sua própria situação, sem o menor esforço", ironizou-o o satirista Karl Kraus, que considerava o esforço de convencimento sugestivo de Freud um refinado engodo. Posando como cientista irredutível, o egocêntrico Freud conseguiu aumentar ainda mais sua fama junto ao leitor bem formado. O filósofo Ludwig Wittgenstein declarou seu espanto pelo fato do pai da psicanálise suspeitar da existência de motivos sexuais em quase todas as imagens de sonho, sem, no entanto, jamais descrever sonhos eróticos, "mesmo que estes sejam tão freqüentes como chuva".
Clinicando até altas horas da noite num beco vienense, o neurologista proclamava que a psicanálise não era apenas uma terapia, mas uma necessidade, a ser praticada por todos. Para o historiador John Farrell, a sua incansável disposição para pressupor a existência de um significado mais profundo e secreto em todas as manifestações, de sonhos a equívocos cotidianos, revela traços patológicos. Farrell vê a desconfiança contra tudo e todos como uma marca da obra e da vida do psicanalista, atestando-lhe paranóia, com os sintomas característicos: megalomania, mania de perseguição, hostilidade, egocentrismo e a tendência a responsabilizar os outros pelos próprios erros e fraquezas.
Mas o desenvolvimento da sua "ciência" era implacável e a procura pelo auto-conhecimento tornou-se a palavra de ordem dos freudianos, um programa que resgatava a psicanálise do gueto da cura de doentes e a entronizava como um amplo e inesperado movimento de massas. Então, Freud considerou secundárias as qualidades terapêuticas.
Sessão cara - Certa vez, confiou ao discípulo e amigo Sándor Ferenczi a sua opinião sobre o poder terapêutico de seus métodos e o que achava de seus clientes neuróticos: "Os pacientes são um populacho, difícil de ser ajudado". Freud cobrava US$ 10 ou 50 coroas austríacas por hora de sessão, pagos à vista em notas bancárias, na época, um honorário bastante elevado. Quando seu cliente americano Joseph Wortis tornou-se inadimplente, o mestre interrompeu o tratamento.
Na turbulenta década de 20, Freud tornou-se realmente célebre. A psicanálise passou a ter fama de movimento de libertação, superando os tabus sociais da época imperial, em especial as inibições sexuais de um mundo que naufragava. Em nome de um esclarecimento científico sério, o "grão-mestre da análise conseguiu falar sobre tudo o que, geralmente, nem era mencionado", observa o filósofo Peter Sloterdijk, de Karlsruhe. Para ele, os efeitos dessa invasão foram revolucionários, mas também hilários.
Já Webster alega que, no fundo, é "profundamente tradicional" a posição da psicanálise ortodoxa diante da natureza instintiva do homem. Para o pesquisador, o que Freud pretendia nada tinha de violento: ele queria trazer à tona as manifestações instintivas, que se encontravam reprimidas e rumorejando perigosamente no inconsciente, a fim de discipliná-las, colocando-as sob o comando do ego consciente. Uma concepção que também pacificava os ânimos burgueses, o que em muito favoreceu a popularização da psicanálise.
Até sua morte, resultante de um câncer e ocorrida em setembro de 1939, Freud manteve uma férrea vigilância sobre o avanço bem-sucedido do movimento analítico. É longa a relação daqueles que, tendo sido seus discípulos ou correligionários, mais tarde se tornaram dissidentes, acabando por ser expulsos da comunidade psicanalítica, sob os insultos do mestre ("Stekel, aquele porco", para lembrar apenas um deles). Encabeçada por aquele que deveria ter sido o príncipe herdeiro, Carl Gustav Jung, essa lista inclui Ferenczi, Wilhelm Reich, Wilhelm Stekel e Alfred Adler. O desprezo e o ódio de Freud perseguiu alguns deles mesmo depois de mortos.
Quando Adler morreu, em 1937, Freud, indignado, rejeitou pêsames do escritor Arnold Zweig, escrevendo-lhe: "Não consigo entender suas condolências por Adler. Para um rapazote judeu, nascido num subúrbio de Viena, a morte em Aberdeen, na Escócia, pode ser considerada uma carreira incrível, comprovando o quanto ele realizou".
(Tradução de João Marschner)
Uma curiosa 'ciência' que nasceu polêmica
Para adversários, idéias freudianas eram um retrocesso nos padrões metodológicos do século 19
LUIZ ZANIN ORICCHIO
Há mais de um século, Sigmund Freud já usava a palavra psicanálise para designar um novo método de terapia das neuroses. Já publicara, junto com seu colega Joseph Breuer, os Estudos sobre a Histeria, um conjunto de estranhos casos clínicos que causou certa polêmica nos meios médicos de então. E estava preparando A Interpretação dos Sonhos, livro que seria colocado nas livrarias entre 1899 e 1900, na virada do século, e que, para os entendidos, significou o verdadeiro pulo do gato, o momento em que uma nova maneira de pensar o ser humano ganhou sua forma consolidada.
Curiosa ciência, se o termo cabe, pois mal surgia já era combatida pelo establishment teórico. De modo que a psicanálise, no entender de seus adversários, começou a morrer no exato momento em que nasceu. Ou melhor, seria uma natimorta típica, já que, para os padrões metodológicos do século 19, representava um franco retrocesso. De fato, Freud atribuía importância a tudo que parecia acessório no contexto da atividade mental: o sintoma físico das histéricas, uma incongruência incômoda no corpus médico oficial; os sonhos, o que o colocava em pé de igualdade com o charlatanismo do presente ou a feitiçaria do passado; os chistes e atos falhos, fenômenos tidos como desprezíveis ou simplesmente indignos da curiosidade científica.
De modo que a psicanálise nasceu marginal e assim seguiu, até constituir, ela própria, uma ortodoxia à parte, o que, possivelmente, não estava previsto em seu plano de vôo inicial. De fato, nada há de menos dogmático que a ensaísta de Freud. Eclético, ele mobilizava em sua argumentação a sabedoria científica da época, mas, quando esta não bastava, procurava recursos na cultura ocidental, que dominava, e mesmo nas antigas crendices, naquelas que acreditavam serem os sonhos portadores de algum sentido oculto.
O fato de ser onívora, abriu para a psicanálise um leque de possibilidades muito mais amplo do que o da prática terapêutica. Tornou-se uma ferramenta de interpretação não apenas do indivíduo, mas de uma cultura doente. Funcionou como termômetro de determinado estágio da História - aquela época angustiada, de incertezas, de guerras, magnificamente analisada em O mal-estar na Civilização, ponto mais alto do ensaísmo freudiano, ao lado de O Futuro de uma Ilusão e Moisés e o Monoteísmo.
Em 1909, quando Sigmund Freud estava indo aos Estados Unidos, para apresentar aos norte-americanos suas descobertas, disse Jung, que o acompanhava: "Coitados, eles não sabem que estamos lhes levando a peste". A frase, excelente, mostrou ser uma das mais falsas de todos os tempos. Nos Estados Unidos a psicanálise transformou-se rapidamente em tecnologia da busca da felicidade, em ferramenta de adaptação do indivíduo às expectativas da sociedade. Perdeu sua inspiração inicial. Aquela mesma que fazia um nada modesto Freud comparar-se a Copérnico e Darwin, dois dos mais poderosos destruidores das ilusões do homem sobre si mesmo.
Na verdade, a psicanálise incorporou-se ao dia-a-dia de pessoas que nunca se deitaram em um divã ou leram uma única linha de Freud. Banalizou-se, em mais de um sentido. E perdeu seu tônus vital quando foi reduzida a um método de normalização do indivíduo. Mas é curioso como, neste fim de milênio, tão frágil do ponto de vista teórico e tão melancólico em seu comodismo, os grandes textos de Freud ainda pareçam inovadores, atuais, estimulantes.
Um retorno às idéias inciais de Freud foi tentado, nos anos 50 e 60, por Jacques Lacan. Talvez seja oportuno voltar, mais uma vez, a esse autor incômodo, que considera o homem um ser sem centro definido, sem eixo de referência palpável, um estranho em sua própria casa. Mas encontrará ele leitores interessados, neste tempo ávido de certezas, num pouco de segurança e alguma consolação de fundo religioso?
O apóstata transformado em um líder sacrossanto
Continuação do artigo revela os desdobramentos funestos da mistificação do neurologista vienense
Der Spiegel
Como se não bastassem os ataques enfurecidos de Freud a antigos companheiros de armas, ele saudou com entusiasmo patriótico a eclosão da violência em agosto de 1914 ("Minha libido pertence por completo ao império austro-húngaro"). Mais tarde, quando a mortandade da 1ª Guerra Mundial chegou ao fim, mais do que nunca ele se convenceu de que o homem passa pela vida e pela história movido basicamente por impulsos irracionais.
Nos anos 30, a elite dos psicanalistas europeus refugiou-se nas parte do mundo livres dos nazistas. Há 60 anos, em junho de 1938, após a anexação da Áustria pelos alemães, Freud também foi obrigado a deixar sua pátria. A bordo do Expresso Oriente, viajou para Paris, passando por Munique, seguindo até Londres, onde foi acolhido com reverência pelo governo britânico.
No bairro elegante de Hampstead, estabeleceu sua residência, numa villa luxuosa em Meresfield Gardens. Ao instalar-se, agradeceu Hitler por lhe ter propiciado um belo escritório, onde recebeu visitantes ilustres como Salvador Dalí, H. G. Wells e o líder sionista Chaim Weizmann. Mas a maioria dos discípulos de Freud emigrou para os Estados Unidos, país ridicularizado por ele, que, após visitá-lo, caracterizou-o como "um grande equívoco".
Apóstolos - Os freudianos não tardaram a conquistar considerável influência nos EUA, graças também ao apoio de simpatizantes judeus. Conseguiram, então, concretizar aquilo que jamais lhes foi dado na velha Europa, ou seja, cargos importantes nas clínicas psiquiátricas. Freud, que jamais se convenceu plenamente dos efeitos terapêuticos de sua doutrina, sempre evitou tratar pacientes nervosos esquizofrênicos ou maníacos-depressivos. Seus apóstolos na América submeteram psicóticos a interrogatórios analíticos o que, de acordo com Shorter, muitas vezes prejudicou pacientes e a ciência psiquiátrica.
Os analistas, adversários ferrenhos da psiquiatria biológica, pouco valor atribuíam aos diagnósticos, organizados pela primeira vez pelo psiquiatra alemão Emil Kraepelin (1856-1926). Com sua nomenclatura erudita, como diziam os analistas, nada se faz pelos pacientes. Quando muito, são rotulados, para serem desclassificados como doentes mentais.
Já os freudianos afirmavam que, no fundo, e pelo menos em parte, todo mundo é um pouco louco. No caso dos doentes nervosos, esse estado só é mais intenso. A causa, porém, do mal sempre se encontra nos conflitos psíquicos da tenra infância, que devem ser superados durante o processo de análise, um projeto que se propunham a experimentar nas clínicas psiquiátricas.
A partir de então, faltou empenho no diagnóstico da psiquiatria dos EUA e as curas atingiram seus índices mais baixos. Herman van Praag, psiquiatra nova-iorquino, observa que nas clínicas dirigidas por psicanalistas foi introduzida a distinção entre pacientes bons e maus. Os bons - ou seja, os que respondiam à terapia - , geralmente eram brancos, jovens, educados, da classe média, que, em resumo, seriam supostamente mais capazes de acompanhar mentalmente os complexos cursos de pensamento dos psicanalistas. Numa triagem analítica, eram separados negros, trabalhadores, velhos, alcoólatras e dementes, para quem conceitos como complexo de castração ou narcisismo seriam incompreensíveis como grego antigo.
Muitos desses "maus" pacientes foram parar nas seções de neurologia, tratados com choques elétricos ou operações no cérebro (lobotomias), até regressar ao seio familiar como aleijados mentais apáticos. As concepções de tratamento freudianas, talhadas para os mais abastados, sensíveis e educados, garantiu uma boa fonte de renda para os especialistas em doenças nervosas, até então mal remunerados, bem como círculos de clientes em eterna expansão.
A imagem positiva do analista como um bondoso doutor sapiente, logo foi reproduzida nas telas de cinema por cineastas como, por exemplo, Alfred Hitchcock. Em seu clássico Quando Fala o Coração (1944), que aborda um trauma de infância reprimido, o mestre do suspense tem como detetive um psicanalista de aparência freudiana, com cavanhaque e óculos de lentes redondas. O cineasta Woody Allen também foi analisado por longos anos. No divã do analista, esse talentoso feixe de nervos recebeu não apenas assistência espiritual, mas uma série de inspirações artísticas. Em seus filmes, são freqüentes as menções aos aspectos cômicos da auto-análise.
"Sem ascetismo não há cultura", pregava o sábio vienense, cujo único vício era fumar charutos em série. Aos 27 anos, escreveu à sua noiva: "O populacho vive a vida, enquanto nós renunciamos. Reservamo-nos para alguma coisa que não sabemos o que seja. Esse hábito da constante repressão de instintos naturais leva-nos ao refinamento". Durante sua vida, Freud defendeu um ideal de cultura aristocrático. Como pôde essa doutrina vingar justamente nos EUA, país em que a busca da felicidade individual é um preceito constitucional?
Corrupção - Isso se deu, assegura Erich Fromm, porque a psicanálise não tardou em ser fundamentalmente corrompida na América. Para Fromm, ela permitiu "racionalizações confortáveis" numa sociedade consumista, a partir de reflexões como: "Já que as neuroses se formam à medida que se inibem as necessidades, tolhendo sua concretização, há que se evitar a todo custo as frustrações".
A psicanálise retornou à Europa após a guerra, estabelecendo-se rapidamente, sobretudo na ex-Alemanha Ocidental. Arrogando-se a tarefa de contribuir para a superação do passado nazista de alemães cheios de culpas, ela adquiriu um crédito moral que até hoje a sustenta.
Nazistas - Freud, que escapou dos nazistas na hora certa (quatro de suas irmãs foram assassinadas em campos de extermínio), era sacrossanto na década de 60, quando, com apoio oficial, Alexander Mitscherlich proclamou a fundação do Instituto Sigmund Freud, em Frankfurt. Esse centro de pesquisas, onde também se deveriam estudar os resultados psíquicos do terror nazista, reuniu, em determinado período, intelectuais críticos como Jürgen Habermas e Heinrich Boll.
Muitos desses simpatizantes freudianos aliaram-se à nova esquerda, que, por volta de 1968, se preparava para arejar o bolor deixado pela era Adenauer. Mas os estudantes revoltados de então simpatizavam com Wilhelm Reich, o teórico do orgasmo, expulso da comunidade psicanalítica por Freud, em 1934, como esquerdista transgressor das regras e que terminou sua carreira no deserto do Arizona, tentando fazer chover.
A redescoberta do quase esquecido e genial outsider anunciou o desenvolvimento de uma sociedade terapêutica pós-modernista: sua palavra de ordem libertária era "anything goes", vale tudo. Cerca de 600 institutos estabeleceram-se desde então na Alemanha, num "psicomercado" caótico, em que a psicanálise clássica desempenha um papel secundário, por ser longa e custosa. Ainda assim, os críticos reconhecem que foi Freud quem abriu os portões do labirinto terapêutico, à medida que tratou de eliminar as fronteiras entre saúde e doença psíquica, convidando a transformação de todos em seres conscientes e vigorosos, por meio do autoconhecimento analítico.
Mas isso, avisa o psicoterapeuta Manfred Pohlen, de Marburg, só levou a uma "patologização" geral do normal e a uma tomada de poder totalitária dos psicoterapeutas. O psiquiatra Herbert Will confirma: "Hoje só podemos chamar de saudável, quem ainda não foi suficientemente examinado".
Marx e psicanálise - Freud, que também gostaria de ser ministro, jamais se esqueceu da política. Para ele, o movimento psicanalítico representava um poder, que, acreditava, revolucionaria também a sociedade. Após a revolução russa de 1917, analistas socialistas tentaram conciliar as doutrinas de Marx e Freud. Em 1926, fundaram uma escola pré-primária psicanalítica em Moscou que, segundo consta, foi freqüentada também pelo filho de Stalin, Vassili.
Quatro anos depois, o ditador soviético proibiu seu funcionamento, quando a psicanálise passou a ser considerada uma falsa doutrina burguesa. Mas ela voltou à Rússia em 1996, assim que o presidente Boris Ieltsin assinou um decreto reconhecendo-a oficialmente como terapia. Um raio de luz para a comunidade psicanalítica ocidental, cujo desaparecimento vem sendo vaticinado por críticos como Pohlen e Webster.
Alguns especialistas crêem que o neurologista vienense só deu o título de ciência à psicanálise a fim de salvar as aparências e garantir respeito pela doutrina. Na verdade, ele teria apenas criado mitos modernos, com seus coloridos casos exemplares e teorias dramáticas sobre parricídio, incesto e inveja do pênis, de acordo com o modelo da Antigüidade, quando o mundo e os deuses eram explicados por lendas e contos de fadas.
"O mito - escreveu Wolfgang Marx - pôde, com a psicanálise, criar seu nicho ecológico no progressista e anti-mítico século 19, do qual até agora não foi expulso por qualquer ciência natural. E ele aí permanece, constantemente sitiado, sem, no entanto, estar esgotado".
Publicado em O Estado de São Paulo - 11/07/98
FREUD FRAUDE?
O norte-americano Frank Sulloway mostra um novo Freud, ambicioso e avesso à metodologia científica
por Álvaro Pereira JR.
Um bombardeio inclemente sobre o edifício freudiano vem do Instituto de Tecnologia de Massachussetts, nordeste dos EUA. O historiador Frank Sulloway, do MIT, esquadrinhou os relatos de casos tratados pós Sigmund Freud (1856-1939) e concluiu: pelo menos 99% da teoria psicanalítica estão errados. O pouco que se salva, como o conceito de transferência, nada tem de novo - deriva da biologia do século XIX.
Através das lentes críticas de Sulloway, 44, desaparece o Freud gênio solitário, que erigiu uma ciência baseado em dados empíricos e uma heróica auto-análise. Surge o clínico ávido por propagandear sua capacidade de cura, sem pudor de manipular fatos, datas e recorrer a uma enganadora habilidade retórica.
À Folha, Sulloway recusou o rótulo de "basher" (o que bate, em inglês - por extensão, o crítico). "Eu não quero só bater. Quero esmagar". Seu ponto principal: os relatos de casos são os pilares da psicanálise. Se têm furos, todo o campo desmorona. O establishment freudiano refuta o argumento. O psico-historiador Peter Gay disse por telefone, de sua casa em Connecticut (nordeste dos EUA), que as teses de Sulloway "são típicas de sua maneira arrogante de escrever". Gay, 57, professor da Universidade Yale, acha que a psicanálise não se formou só com casos bem descritos, mas "com outros milhares", mal documentados.
Só que de acordo com pesquisador do MIT, nenhum estudo prova que a psicanálise "cura mais do que falar com o cachorro, com o canário, com um tio ou comigo, desde que eu não seja um completo idiota".
Dos seis casos que discute em texto para a última reunião da Associação Americana para o Progresso da Ciência (AAAS), Sulloway reserva acidez máxima ao do "Homem dos Ratos", supostamente a primeira cura freudiana. Em 1908, no 1º Congresso Psicanalítico Internacional (Salzburg, Áustira), Freud alegou ter "curado" o paciente de sua obsessão por roedores. Se fosse verdade, a cura teria surgido em três meses - muito menos do que os métodos psicanalíticos postulam. Uma semana antes do simpósio, Freud escrevera a Carl Jung que não tinha "caso completo que pudesse ser visto como um todo".Gay, autor da volumosa biografia "Freud, uma Vida para Nosso Tempo", garantiu não se lembrar da carta, que está na página 141 do livro americano "The Freud/Jung Letters".
O caso de Anna O. - clássico de histeria psicanalítica - não faz sentido, para Sulloway. Segundo ele, um artigo de 1987, da psiquiatra Alison Orr-Andrawes (da Universidade Cornell), prova que Anna O. tinha uma lesão cerebral. A causa de seus sintomas era não-psíquica.
A auto análise de Freud, quando ele teria descoberto a sexualidade infantil, é desmerecida pelo historiador do MIT, Sulloway afirma que Freud já falava em sexualidade das crianças dez meses antes de começar a auto-análise, em cartas para o médico Wilhelm Fliess, seu amigo de 1887 a 1904.
A amizade Freud-Fliess é um embaraço para os psicanalistas. As teses de Fliess (pai dos biorritmos) são hoje vistas como ultrapassadas, pseudocientíficas. Versão oficial: Freud precisava de um confidente para ajudá-lo na auto-análise. Qualquer um serviria - até Fliess. Para Sulloway, o intercâmbio intelectual entre os dois foi muito intenso e influente sobre Freud.
Os seis casos mais documentados:
Pequeno Hans: O garoto de cinco anos tinha fobia por cavalos. Freud só o atendeu uma vez. Era filho de Max Graf, discípulo freudiano. Freud tentou explicação edipiana para o caso, ignorando o fator mais óbvio: um acidente de charrete que Hans assistiu.
Mulher homossexual: Tratamento falhou. Para ela, homossexualismo não era problema. Só procurou terapia forçada pelos pais. A análise não passou da fase de avaliação do caso.Tratamento falhou. Para ela, homossexualismo não era problema. Só procurou terapia forçada pelos pais. A análise não passou da fase de avaliação do caso.
Daniel Schreber: Achava que sua cabeça estava sendo comprimida, que o peito era esmagado. Freud o "analisou" a partir da autobiografia, concluindo que era homossexual de relacionamento problemático com o pai. Ignorou que as sensações de Schreber eram idênticas às experimentadas quando testava aparelhos de postura inventados pelo pai, ortopedista.
Homem dos Ratos: Tinha medo obsessivo de ratos. "Curado" por Freud em poucos meses. Uma semana antes de anunciar a "cura" no 1º Congresso Internacional de Psicanálise, Freud tinha escrito a Jung: "Não tenho nenhum caso completo, que possa ser visto como um todo".
Homem dos Lobos: Longo tratamento com Freud e outros. Ao todo, 60 anos de terapia. Obsessão por lobos. Jamais se curou, entrando em estágio avançado de paranóia.
Dora: Histérica. Perdia a fala, entre inúmeros outros sintomas. Nenhuma evidência histórica de melhora no curto tratamento. Abandonou a terapia por causa dos "modos enervantes" de Freud.
Censura contribuiu para o mito do herói fundador da psicanálise
O modus operandi que garantiu a mitificação de Freud, segundo Frank Sulloway: a destruição da história. Epígonos e exegetas empenharam-se fundo na censura de detalhes comprometedores - ao menos na visão de seus discípulos - do passado do psicanalista. A correspondência Freud-Fliess foi vítima preferencial. A primeira edição das cartas, sanitizada por Anna Freud e Ernst Kris, rivaliza com a Rádio Bagdá em falsificação histórica.
A frase "eu durmo durante as análises da tarde" , cândida confissão de tédio profissional, sumiu na edição (de 1950) da correspondência. Também volatilizou-se boa parte dos elogios que Freud fazia à atividade científica de Fliess - "Kepler da biologia", em referência ao revolucionário astrônomo. Se dependesse de Anna Freud e Ernst Kris, ninguém saberia também que, para Freud, as pesquisas sobre ritmos biológicos de Fliess - hoje desacreditadas - desvendavam "os mistérios do universo e da vida".
Conversas sobre as teses de Fliess que relacionavam o nariz com distúrbios genitais também foram expurgadas da primeira edição. Um caso especialmente chocante acabou omitido. Fliess achava que podia curar neuroses cauterizando um osso da cavidade nasal. Freud mandou que uma paciente sua fosse operada. Fliess esqueceu meio metro de gaze no nariz da moça, depois da cirurgia. A cavidade infeccionou. A paciente quase morreu de hemorragia.
De acordo com Sulloway, "em vez de admitir que o amigo tinha feito um sério erro médico, Freud atribuiu os sangramentos da mulher a uma necessidade histérica de amor e atenção". Essa história só apareceu na segunda edição das cartas, integral, de 1985.
O pesquisador do MIT qualifica a censura como peça-chave na solidificação do mito Freud-herói, gênio isolado. Sulloway ironiza a obsessão pelo segredo que domina os Arquivos Sigmund Freud. "Uma carta de Joseph Breuer (imagina-se o que ela possa ter de tão especial) deve esperar até o ano 2102 para ser examinada - 177 anos depois da morte de Breuer".
Para Sulloway, Freud foi o primeiro a cultivar a redoma de mistério em torno de si. Em 1885 e 1907, o psicanalista mandou para o lixo incontáveis manuscritos, diários, cartas e cadernos. Aos 28 anos, justificou seu rompante de defenestração: "Não poderia amadurecer ou morrer sem me preocupar com quem ficaria de posse desses antigos escritos...Quanto aos biógrafos, deixe que se preocupem, não quero facilitar demais para eles. Cada um deles estará certo em sua opinião sobre 'a formação do herói' e já antecipo vê-los perder o rumo".
Tanta pretensão em um jovem de 28 anos indica só uma coisa: vocação para o mito. Palavra de Frank Sulloway.
Biógrafo recente discorda das acusações
O biógrafo Peter Gay, da Universidade Yale, duvida que Anna Freud e Ernst Kris tenham censurado as cartas de Freud a Fliess (as de Fliess a Freud sumiram; Frank Sulloway diz que Freud as destruiu). No máximo admite que eles possam ter sido "zelosos demais, deixando de fora trechos desagradáveis ou dolorosos".
Incisivo, Gay chama de "modo ridículo de raciocinar" a tese de Sulloway de que houve omissões para preservar Freud de uma influência (Fliess) incômoda na ótica da ciência contemporânea. Sobre os motivos que levaram a cortes específicos, Gay comentou: "E daí? Não vejo que importância isso possa ter".
O professor de Yale contesta a idéia de que, se os relatos de casos têm falhas, a psicanálise, criada a partir deles, se torna imprestável. Ele julga impossível que uma profissão tenha conseguido se estabelecer a partir de só cinco casos. Para Gay, a influência das observações de pacientes sobre a psicanálise foi menos crucial do que Sulloway supõe. "Quando os relatos de casos apareceram, a teoria já estava quase completa".
O historiador afirma que boa parte das críticas a Freud vêm "dos próprios psicanalistas". Como exemplo, cita um livro dos anos 70 só com ataques à teoria freudiana da sexualidade feminina. Era uma coletânea de artigos da revista da Associação Psicanalítica Americana. Gay diz que ele mesmo foi um dos que apontaram falhas no relato do caso do "Homem dos Ratos". Segundo ele, as correções pouco mudariam o que Freud concluiu.
Na entrevista, Gay usou várias vezes frases do tipo "eu não sei", "é uma questão muito complicada". Desculpou-se, garantindo não estar "fugindo das perguntas". O historiador acabou não contestando a essência das críticas de Sulloway a Freud. Repudiou as aparentes certezas de seu rival em uma área ainda permeada pela dúvida.
*Publicado na Folha de São Paulo. 5 de abril de 1991.
Sulloway doutorou-se em história da ciência pela Universidade Harvard (EUA) em 1978. Um ano depois, publicou "Freud, Biologist of the Mind" assunto de capa na revista de cultura "The New Republic". Hoje ele é pesquisador no Departamento de Ciência, Tecnologia e Sociedade do MIT. Diz que já esgotou "todas as bolsas entre aqui e Júpiter", desde 1978. Antes do MIT, passou pelo Instituto de Estudo Avançado de Princeton e pela Universidade da Califórnia. De 1984 a 1989, teve bolsa da Fundação MacArthur, conhecida nos EUA como "a bolsa dos gênios".
Leituras sobre o caso Freud/Fraude:
- "Freud, Biologist of the Mind", de Frank Sulloway, Harper Torchbooks, 1983.
- "Freud, the Self-made Hero", de Frank Sulloway, na revista "New Republic", 25 de agosto de 1979.
- "The Case of Anna O.: a Neuropsychiatric Perspective", de Alison Orr-Andrawes, no "Journal of the American Psychoanalytic Association", vol.35, nº2, 1987.
Psicanálise
A psicanálise é o avô de todas as psicoterapias pseudocientificas, secundada apenas pela Cientologia como campeã de afirmações falsas sobre a mente, a saúde e a doença mental. Por exemplo, em psicanálise, esquizofrenia e depressão não são desordens neuroquimicas, mas sim desordens narcisistas. Autismo e outras desordens cerebrais não são problemas químicos do cérebro mas problemas com a mãe. Estas doenças não requerem tratamento farmacológico. Requerem terapias de "conversa". Posições semelhantes são tomadas para a anorexia nervosa e o sindrome de Tourette. (Hines, p. 136) Quais as provas para esta visão psicanalitica e para o seu tratamento? Nenhumas.
Tratava uma perna partida com terapia de "conversa"? Claro que não. Imagine a reação de um diabético se lhe dissesse que a sua doença se devia a um "conflito masturbatório" ou "eroticismo deslocado." Também podemos dizer que o paciente está possuído por demônios. Exorcismo de demônios pelo padre, exorcismo da infância pelo psicanalista: qual a diferença? Então porque é que há quem defenda que desordens neuroquimicas ou outras físicas são causadas por experiências traumáticas ou sexuais (ou ambas) na infância que foram reprimidas ou sublimadas? Provavelmente pelas mesmas razões que levam os teólogos a não abandonarem os seus elaborados sistemas de pensamento face à evidência de que os seus sistemas de crenças não são mais que treta metafísica. Conseguem o reenforço institucional para os seus papéis e idéias criados socialmente, muitas das quais não resistem a testes empíricos. Se essas noções não podem ser testadas, não podem ser negadas. O que não pode ser negado, e tem por trás uma instituição poderosa, pode durar séculos como respeitável e válida, não obstante o seu vazio fundamental, falsidade ou capacidade para prejudicar.
O conceito mais fundamental da psicanálise é a noção de que o inconsciente é um reservatório para memórias reprimidas de acontecimentos traumáticos que influenciam continuamente os pensamentos e o comportamento conscientes. Falta a prova cientifica destas noções de um "inconsciente" e de um mecanismo de "repressão", bem como qualquer prova de que o pensamento ou o comportamento conscientes são influenciados por memórias reprimidas. Relacionado com estas assunções questionáveis da psicanálise existem dois métodos questionáveis de investigar as alegadas memórias escondidas no inconsciente: associação livre e interpretação dos sonhos. nenhum dos métodos é capaz de formulação cientifica ou de testes empíricos. Ambos são cheques em branco metafísicos sem qualquer coberturas da realidade.
Investigações cientificas de como a memória funciona não apoiam os conceitos de memórias traumáticas (de infância ou não) reprimidas para o inconsciente. Há ampla prova científica de que existe um tipo de memória da qual não estamos conscientes , mas que é recordada. Os cientistas referem-se a esse tipo de memória como memória implícita. Há provas de que para termos memória se torna necessário o desenvolvimento extensivo dos lobos frontais, o que falta às crianças. Também as memórias devem estar codificadas para serem duradouras. Se isto falta temos a amnésia, bem como no caso dos sonhos. Se a codificação á fraca, as memórias fragmentadas e implícitas é tudo o que restará da experiência. Ou seja, a possibilidade de recordações de infância de abusos, ou outra coisa, é próxima do zero. Memórias implícitas de abusos acontecem, mas não debaixo das não debaixo das condições assumidas como base para a repressão. Memórias implícitas de um abuso acontecem quando a pessoa fica inconsciente durante o ataque e não consegue codificar a experiência profundamente. Por exemplo, uma vitima de violação não consegue recordar que foi violada. O ataque foi feito num pátio de tijolos. As palavras "tijolo" e "pátio" surgem-lhe na memória mas não as liga à violação. Fica perturbada quando a levam ao local, mas não se lembra do que aconteceu aí. [Schacter, p. 232] Não é provável que hipnose, livre associação, ou outras terapias ajudem a vitima a recordar. Ela não tem memória explicita porque não foi capaz de codificar o trauma devido ao ataque a ter feito perder a consciência. O melhor que um psicanalista ou outro terapeuta de memórias reprimidas pode fazer é criar uma falsa memória na vitima, abusando dela mais uma vez.
Ligado essencialmente à visão psicanalitica da repressão é o assumir que o tratamento dos pais, especialmente a mãe, de uma criança é a fonte de muitos, se não todos os problemas dos adultos, desde desordens de personalidade a problemas emocionais a doenças mentais. Não se duvida de que se uma criança é tratada cruelmente a sua vida de adulto ficará afetada por tal tratamento. Mas é uma grande salto conceptual passar deste fato para a noção de que todas as experiências sexuais da infância provoquem problemas no futuro, ou que todos os problemas do adulto, incluindo os sexuais, são devidos a problemas de infância. As provas para estas noções não existem.
A terapia psicanalítica baseia-se na busca do que provavelmente não existe (memórias de infância reprimidas), um assumir do que provavelmente é falso (as experiências de infância provocam os problemas do paciente), e uma teoria terapêutica quase sem possibilidade de estar correta (que trazer as memórias reprimidas ao consciente é essencial para a cura). Claro que isto são as fundações de um conjunto de elaborados conceitos cientificamente sonantes que pretendem explicar os profundos mistérios da consciência, pensamento e comportamento. Mas se as fundações são ilusórias, qual pode ser o futuro desta ilusão?
Copyright 1998 Daniela.
Por
SÍLVIO PENA - Neurocirurgião - Chefe da Clínica de Neurocirurgia do Hospital Naval Marcilio Dias- RJ ,Especialista em Neurocirurgia, Neurologia e Psiquiatria.