Empatia e Solidariedade
Rede Globo: Instinto Humano 01.05.2005



Empatia e solidariedade

Levante a mão quem nunca ajudou uma pessoa em apuros! Quando alguém vê uma pessoa com dor, o sentimento é de compaixão. É quase como se as pessoas sentissem a mesma dor.

Isso é empatia. Uma emoção que nós, humanos, experimentamos de forma instintiva. Empatia é o tema do último capítulo da série Instinto Humano.

A empatia é uma coisa tão importante para a raça humana que a gente nasce equipado com um mecanismo superespecializado para dividir as nossas emoções com os outros. É o nosso rosto. A anatomia da face humana é única no mundo animal. A gente tem 47 músculos no rosto que trabalham juntos para transmitir e revelar nossas emoções: alegria, raiva, tristeza, nojo.

Mas por que desenvolvemos essa capacidade de revelar nossas emoções? A resposta é simples: saber o que outra pessoa está sentindo pode ser muito útil. Afinal, a expressão no rosto dela é capaz de revelar se ela está gostando da nossa companhia ou não.

E é muito fácil saber quando a gente não está agradando. Basta olhar pra cara feia dos outros.

O cinema, aliás, sempre soube usar muito bem a capacidade humana de transmitir emoções. Na época do cinema mudo, então, a expressão no rosto do ator era tudo!

Milhares e milhares de anos atrás, antes dos nossos ancestrais aprenderem a falar, as expressões faciais eram formas primitivas de comunicação.

Assim como no cinema, as primeiras formas de comunicação entre os humanos não tinham fala. Os nossos ancestrais deram um grande salto quando começaram a falar. Da mesma forma que o cinema.

"O cantor de jazz" foi o primeiro filme falado da história do cinema. Depois dele, nunca mais o cinema voltou a ser mudo. A comunicação verbal é uma das características mais fascinantes do ser humano.

Lembra do bebezinho que apareceu no primeiro capítulo da série Instinto Humano? Ele apareceu para mostrar que o choro de um bebê é tão alto quanto o barulho de uma britadeira: 97 decibéis.

Agora, aos nove meses, ele já está começando a falar as primeiras palavras. Ele já domina todos os sons de vogais da língua dele, o inglês.

Crianças têm uma facilidade incrível para aprender a falar: aos quatro anos, elas já tagarelam que é uma beleza.

Em todas as culturas, é principalmente por meio da fala que os humanos se comunicam. Falando, conversando, trocando experiências, nós evoluímos e nos desenvolvemos. O fantástico conhecimento acumulado pela raça humana nos levou a explorar até o espaço. E esse conhecimento faz com que o desafio da vida seja sempre encontrar o equilíbrio entre razão e emoção, entre cultura e instinto.

No dia 11 de setembro de 2001, aconteceu a tragédia de que ninguém se esquece: o atentado às Torres Gêmeas de Nova York. Foi um dos maiores eventos documentados na história da humanidade. Naquele dia, alguns sobreviventes do ataque tiveram uma medida exata de como nossos instintos são poderosos.

Mike Benfanti e John Cerqueira trabalhavam numa das torres que desabaram. Tina Hanson estava no escritório dela, no 68º andar.

"De um segundo para o outro, tudo mudou. O prédio começou a tremer de uma forma que eu nunca tinha sentido antes", lembra Tina.

Mike e John estavam no 81º andar, acima de Tina e logo abaixo da área de impacto.

"A sensação que eu tive foi a de um terremoto. Eu só via o fogo e os escombros desabando", conta Mike.

"Pela janela, eu vi uma coisa horrível: corpos caindo", diz John.

Imediatamente, John e Mike começaram a descer a escada de incêndio. No meio do caminho, se depararam com Tina e duas outras pessoas, que tentavam ajudá-la a descer com sua cadeira de rodas.

Eles nunca tinham visto Tina na vida, mas não hesitaram um único segundo: resolveram carregá-la 68 andares, até o chão.

"Eles não pensaram duas vezes. Não senti a menor hesitação", comenta Tina.

Ao ajudar Tina, Mike e John puseram em risco as próprias vidas. Afinal, o prédio desabou pouco depois.

Quando chegaram no 18º andar, encontraram um grupo de bombeiros, que deram a eles a idéia de deixar Tina por ali, porque eles se encarregariam de levá-la. Nem assim eles mudaram de idéia.

"Minha primeira reação foi de concordar, mas antes que eu pudesse falar, Mike disse que não, que se a gente já tinha chegado até ali, que era para ir até o final", conta Tina.

"Eu olhei pro John, ele olhou pra mim, e a gente decidiu continuar. Até o fim", recorda-se Mike.

Depois de uma hora de luta, eles conseguiram sair do prédio. Dois minutos depois, a torre desabou. Dois minutos.

No momento mais difícil de suas vidas, Mike e John arriscaram tudo para salvar uma pessoa que nunca tinham visto na vida. Eles mesmos ficaram impressionados com esse instinto heróico que surgiu dentro deles.

Ao longo dos últimos quatro meses, a série Instinto Humano procurou mostrar o quanto nos nossos comportamentos foi herdado de nossos ancestrais, os primeiros homens das cavernas. Milhões de anos de evolução depois, por mais que tanta coisa tenha mudado, parece incrível, mas a gente ainda tem muita coisa em comum com eles.

http://fantastico.globo.com/Jornalismo/Fantastico/0,,AA955053-4185,00.html

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