Genética pode determinar fidelidade, diz pesquisa
As traições do arganaz-do-campo seriam causadas pelos seus genes
Nicholas Wade escreve para o “New York Times”:
Alguns arganazes-do-campo machos são pais dedicados e parceiros fiéis, enquanto outros são menos satisfatórios em ambos os quesitos. O espectro de comportamento é moldado por um mecanismo genético que permite rápidas mudanças evolucionárias, relataram dois pesquisadores da Universidade Emory na edição de sexta-feira (10/06) da "Science".
O mecanismo depende de uma seção altamente variável do DNA envolvido no controle de um gene.
Os pesquisadores da Emory que o descobriram, Elizabeth A.D. Hammock e Larry J. Young, detectaram este mecanismo na seqüência do DNA humano, mas ainda não sabem como pode influenciar uma pessoa.
O arganaz-do-campo, que não deve ser confundido com a toupeira, é um roedor com pêlo mais escuro e cauda mais gorda. A seção de controle do DNA deles expande e contrai ao longo da evolução, de forma que membros de uma população selvagem de arganazes-do-campo, descobriram os pesquisadores da Emory, portarão seções de muitos comprimentos diferentes.
Os arganazes machos com uma longa versão da seção de controle são monógamos e dedicados às suas crias, enquanto aqueles com versões mais curtas são menos.
A seção de controle afeta a atividade de um gene que determina como o arganaz-do-campo responde ao hormônio vasopressina.
As pessoas possuem a mesma variabilidade em seu DNA, com uma seção de controle que aparece em pelo menos 17 comprimentos detectados até o momento, disse Young.
Assim, será que mulheres que desejam um parceiro confiável por longo prazo devem buscar homens com a região de controle de DNA mais longa possível, na esperança de que, assim como os arganazes-do-campo dos pesquisadores, tais homens exibam "uma maior probabilidade de preferir uma parceira familiar a uma nova fêmea estranha"?
Young disse que espera que tal efeito seja verdadeiro para os homens em geral, mas que seria difícil prever o comportamento de qualquer indivíduo a partir de sua herança genética porque a cultura provavelmente compensaria qualquer efeito genético.
O mecanismo de controle também está presente em dois outros primos próximos dos humanos, o chimpanzé e o bonobo (chimpanzé pigmeu). Isto envolve a controvérsia entre os primatologistas sobre qual das duas espécies mais se assemelha aos seres humanos.
Os chimpanzés operam sociedades baseadas em território controladas pelos machos, que realizam investidas freqüentemente letais contra grupos vizinhos. Os bonobos, que se parecem muito com os chimpanzés, são governados por hierarquias de fêmeas que reprimiram a agressividade masculina e facilitam quase toda interação social com quantidades abundantes de sexo.
A seqüência de DNA dos humanos, chimpanzés e bonobos geralmente é muito semelhante, mas os pesquisadores da Emory encontraram diferenças significativa na seção que controla a resposta à vasopressina.
As versões humana e bonobo são muito semelhantes, e diferem significativamente da seção do chimpanzé. Apesar de não ser possível deduzir muito a partir de um único gene, o resultado mostra que os bonobos devem ser considerados muito seriamente como referenciais para o comportamento humano e que o chimpanzé não é o único modelo, disse o dr. Frans de Waal, do Centro Nacional Yerkes de Pesquisa de Primatas, em Atlanta.
De Waal, que está escrevendo um livro chamado "The Inner Ape" ("O Símio Interior"), disse que o último ancestral comum de todas as três espécies presumivelmente possuía elementos tanto do comportamento do chimpanzé quanto do bonobo, e que os humanos também "unem todos estes aspectos".
Os efeitos da vasopressina no comportamento destes três primatas superiores não é bem compreendido, mas tem sido estudado nos arganazes há muitos anos. O hormônio, gerado pela glândula pituitária na base do cérebro, leva os arganazes-do-campo a laços monógamos, mas não tem efeito semelhante no arganaz-da-montanha, que é decididamente polígamo.
Os pesquisadores da Emory descobriram recentemente que em sua colônia de arganazes-do-campo, alguns pais passavam mais tempo com suas crias e alguns menos. Eles rastrearam a fonte desta variabilidade às suas raízes moleculares, uma variação no comprimento da região do DNA que controla um certo gene.
Este é o gene para o receptor de vasopressina, o dispositivo usado pelos neurônios para responder à vasopressina. Os arganazes com segmentos de DNA longos, comparados aos com segmentos curtos de DNA, apresentam mais receptores de vasopressina em algumas áreas do cérebro e menos em outras, um padrão que presumivelmente mudou sua resposta à vasopressina.
Os segmentos longos e curtos de DNA diferem em apenas 19 unidades de DNA, a maioria delas as mesmas duas unidades repetidas várias vezes. Estas repetições são notórias por confundir o aparato de cópia do DNA, que em um intervalo de algumas poucas gerações pode inserir uma repetição adicional ou excluir.
Estas mudanças aleatórias têm gerado um espectro de comprimentos na população dos arganazes, que por sua vez apóia a variabilidade no comportamento dos arganazes-do-campo, disseram os pesquisadores da Emory.
Eles provaram o argumento ao separar os arganazes com comprimento mais curto e mais longo de DNA, e mostrando como suas crias diferiam em comportamento.
Young disse suspeitar que muitos outros genes que influenciam o comportamento, nos arganazes e outras espécies, podem ter caído sob sistemas de controle semelhantes. Como as repetições de DNA são tão variáveis, elas geram diversidade mais rapidamente do que a maioria dos outros tipos de mutação.
E a população cujos indivíduos demonstram uma variação de comportamento apresenta maior probabilidade de incluir alguns que podem se adaptar melhor a uma nova situação.
O dr. Gene Robinson, um especialista em comportamento social da Universidade de Illinois, disse que o novo resultado é "um avanço significativo na sociogenômica", uma tentativa de explicar a vida social em termos de DNA, por mostrar como o comportamento pode ser alterado não apenas pelo laborioso processo evolucionário de alteração dos genes, mas por meio de uma forma mais fácil de mudar a atividade de um gene.
Por muito tempo os pesquisadores presumiram que o controle genético do comportamento seria um problema muito complexo para ser abordado. "O bom nesta história é que diz que não é complexo", disse Young.
(Tradução: George El Khouri Andolfato) (Uol Mídia Global, 10/6)