Conflito sexual explica menopausa
RICARDO BONALUME NETO


Conflito sexual explica menopausa

Para britânicos, interrupção da fertilidade evoluiu em humanos para reduzir competição entre fêmeas

Dupla de biólogos agora vai usar dados de estudo para pesquisar genes ligados à menopausa precoce e outras falhas de fertilidade

Reuters - 7.out.2005

Shirley MacLaine (dir.), que interpreta a avó de Cameron Diaz (esq.) no filme "Em Seu Lugar'

RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL

Dois pesquisadores no Reino Unido propuseram uma nova hipótese para explicar um dos maiores mistérios da vida sexual do ser humano: por que as mulheres entram em menopausa e perdem sua capacidade reprodutiva? A resposta estaria no "conflito reprodutivo" entre fêmeas de idades diferentes.

Faz meio século que o biólogo George C. Williams propôs a "hipótese da avó" para explicar a sobrevivência das mulheres além da sua idade reprodutiva -algo que não acontece entre outros animais vertebrados de vida longa (há baleias que continuam férteis aos 90 anos).

Apesar de não terem mais filhos, as avós ajudariam suas filhas a sobreviver e a se reproduzir, melhorando assim a sua própria aptidão em deixar descendentes -pré-requisito da evolução darwinista.

"Mas, se as hipóteses atuais podem explicar a sobrevivência continuada de fêmeas pós-reprodutivas, elas têm dificuldade em explicar porque elas pararam de se reproduzir em primeiro lugar", escreveram os biólogos Michael Cant, da Universidade de Exeter, e Rufus Johnstone, da Universidade de Cambridge, na revista científica "PNAS", publicada pela Academia de Ciências dos EUA.

Os dados disponíveis mostram que a vantagem para as avós nem é tão grande assim, comparada com a possibilidade de continuar tendo filhos.

Os dois pesquisadores foram então analisar se haveria potenciais custos sociais em caso da reprodução continuada.

"Nós colocamos o foco no conflito entre fêmeas porque ele é onipresente em outros vertebrados que cooperam na reprodução, mas tem sido ignorado na teoria da evolução da história da vida humana até agora", disse Cant à Folha.

Para Cant e seu colega, a menopausa é uma adaptação que minimiza a competição reprodutiva entre as gerações de fêmeas de uma mesma família.

Mesmo em tribos de caçadores-coletores sem acesso à moderna medicina, as mulheres param de se reproduzir em torno da meia idade -apesar de poderem viver além dos 60 anos. Em média, nessas sociedades, o primeiro filho vem aos 19 anos de idade e o último aos 38 -ou seja, a avó pára de se reproduzir na época em que sua filha lhe dá o primeiro neto.

Segundo os pesquisadores, o ser humano mostra um índice "extraordinariamente baixo" de coincidência entre as fases reprodutivas das gerações, ao contrário do que acontece com os primatas próximos, como chimpanzés e orangotangos.

Cant e Johnstone ressaltam que a hipótese do "conflito reprodutivo" não veio substituir, mas sim complementar, a "hipótese da avó".

A "competição reprodutiva" em outras espécies favorece as fêmeas mais velhas, dominantes, que retêm status reprodutivo e procuram suprimir a reprodução das mais novas. No homem o padrão foi revertido.

Genes da fertilidade

Isso também ajuda a explicar porque na escolha do parceiro é comum ver homens mais velhos com mulheres mais novas. "Eu acho que é mais fácil entender a preferência dos machos por fêmeas mais novas como uma conseqüência da menopausa, em vez de ser a sua causa", declara Cant.

Como os machos permanecem férteis após 50 anos mas as fêmeas não, "isso leva a uma intensa competição pelas fêmeas, e nessa competição o sucesso do macho é muitas vezes dependente de recursos -isto é, riqueza-, que geralmente é acumulada por machos mais velhos", diz o pesquisador.

Agora, a dupla começa a usar seu modelo para pesquisar quais genes afetariam o precoce término da fertilidade e por isso tenderiam a se acumular no genoma. "Isso poderá no futuro ajudar a dar pista sobre as bases genéticas da falha prematura ovariana e outras doenças da baixa fertilidade", diz Cant.

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