Genismo, crenças e realidade
Por : João Carlos Holland de Barcellos ( agosto/2003 )

Há algum tempo atrás me disseram , na forma de uma crítica construtiva, que o genismo era uma doutrina elitista. Na época, eu discordei pois, em principio, qualquer pessoa poderia segui-la independente de condição econômica, racial ou cultural. Mas não religiosa , claro, pois o genismo é uma doutrina atéia.

Posteriormente, contudo, eu entendi aquela crítica como uma mensagem dizendo que não seriam todos que estariam "aptos" a segui-la pois nem todos poderiam estar em condições satisfatórias de cumprir seu papel gene-perpetuativo. Mas, uma crença, uma idéia, ou um meme cultural qualquer deveria ser rejeitado, ou não , apenas porque não satisfaz nossos gostos pessoais? Seria sensato rejeitar uma verdade apenas porque não satisfaz nossa própria ideologia?

Eu sempre achei muito estranho - para não dizer um completo absurdo - as pessoas escolherem suas crenças (religiões) como quem escolhe as roupas que irão se vestir :

" Esta não me vai bem porque proíbe carne de porco, que eu gosto tanto ", "Aquela outra não serve porque após a morte poderei ir ao purgatório", "Ah , e tem esta que me oferece 70 lindas virgens depois da morte ! Fico com ela!"

Ou seja , a cultura permite, e até mesmo incentiva, às pessoas a acreditarem naquilo que lhes dêem mais prazer, naquilo que lhes seja mais conveniente, independentemente de qualquer vínculo com a realidade , com a verdade ou com a honestidade para si própria.

O Genismo não compactua com este estado de coisas. O genismo é uma doutrina, antes de mais nada, compromissada com a verdade por mais insossa , insípida, sem graça, ou dolorida que esta verdade possa ser. É inadmissível para um genista acreditar ou desacreditar de alguma coisa simplesmente porque isso o faria se sentir melhor. A realidade, como um fato, não pode estar a mercê de gostos ou ideologias pessoais, mas sim ser aceita e este é o primeiro passo necessário para , quem sabe, poder mudá-la.

É interessante notar que foi no genismo que pela primeira vez a importância da verdade foi submetida ao imperativo da felicidade. Mostramos que a verdade é importante apenas , e somente porque, pode trazer mais felicidade. Somente por esta razão as falsas crenças deveriam ser rejeitadas.

No século XIX, o filósofo Feuerbach criticou as religiões por provocarem a alienação. Feuerbach tinha razão. Ao fazer-nos acreditar que temos uma alma imortal e que viveriamos eternamente felizes num plano metafísico, o que representaria 80 ou 200 anos de vida neste planeta? Perante a eternidade, isso não é nada. Além disso, muitas apontam que o caminho do paraíso deve ser alcançado através da pobreza , da humildade e, principalmente, da negação dos valores e bens materiais. Desta maneira as religiões desempenham importantíssimo papel na manutenção do poder dominante e tendem também a manter os fiéis sempre humildes e , muito convenientemente, longe da disputa pelo poder.

Acho que não há dúvida de que os mais pobres e humildes conseguem, mais conforto e esperanças para suas mazelas nas religiões, por isso os mais religiosos costumam ser das classes menos favorecidas. Entretanto, não percebem que, entorpecendo-se com a ilusão, estão, a longo prazo, patrocinando a má distribuição da renda, a desigualdade social e a injustiça.

Como um ramo do ateísmo, o genismo sabe que toda fonte de felicidade e prazer deve ser conseguido aqui, neste universo, em nosso próprio planeta. Além disso, a riqueza , o poder , os bens materiais etc são importantes meios para aumentarmos as chances de sobrevivência de nossos filhos e parentes e, portanto, de nossos genes. Se quisermos a felicidade teremos que lutar por ela aqui, em vida, e não esperarmos, inutilmente, o paraíso no pós morte. O genismo então implica pela justiça na Terra, e somente aqui ela poderá ser feita.

O genismo também é ciência. É uma afirmação refutável e científica que o genismo faz ao estabelecer que a felicidade só é conseguida pela trilha da perpetuação genética. Não há como escapar, é fato. Fomos evoluídos assim. E, sendo realidade, não podemos nega-la.

A falta de recursos , a fome, o desemprego etc.. sempre foram fatores redutores da felicidade, muito mais ainda na nossa sociedade capitalista moderna onde a cultura exalta, e nos martela diariamente com anúncios, cientificamente elaborados, para nos mostrar que a felicidade só pode ser conseguida consumindo este ou aquele produto desta ou daquela marca. Os valores da sociedade capitalista estão alicerçados, não nos genes mas, principalmente, nos prazeres sensoriais que o indivíduo pode conseguir : estamos no apogeu do individualismo. As pessoas lutam para conseguir prazer mas não alcançam a felicidade. Não sabem onde ela está. Para os genistas os recursos materiais também são importantes, mas tem sua importância relativizada ao poder "gene-perpetuativo" que eles potencializam.

Assim, o genismo representa, não apenas um perigo para quem utiliza a boa fé dos pobres e humildes para se manterem no poder , ou naqueles que se enriquecem vendendo bilhetes para o paraíso mas, sobretudo, uma razão de luta por nossos genuínos interesses.


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