Argumentos
Referentes à Existência de Deus
por Edmílson Bento da Silva
Ateísmo, o termo é oriundo do grego aqeoV: a, a = sem, e qeoV, théos
= deus; e quer dizer sem deus, a ausência de deus.
No sentido filosófico, o ateísmo designa os sistemas
de pensamento que sobre a base de seus postulados não necessitam fundamentá-los
emum ser absoluto, incondicionado e eterno, e nem em uma causa transcendental
para explicar os fenômenos da realidade. Contudo, no sentido corrente
do termo é a posição que nega que haja qualquer ser sobrenatural e transcendental.
O ateísmo é classificado em ateísmo teórico e ateísmo prático. O ateísmo
teórico por sua vez, é dividido em 1) ateísmo dogmático: que nega categoricamente
a existência da divindade; 2) ateísmo céptico: quando questiona as provas
fornecidas sobre a existência da divindade e; 3) ateísmo crítico: quando
propõe explicações alternativas para a existência e a crença em um ser
divino. O ateísmo prático compreende:
1) o incrédulo, o qual acredita que a divindade exista
e intervenha na natureza e na sociedade mas, não propicia cultos, dons
e ofertas à divindade; 2) o deísta, o qual acredita que a divindade
exista mas sustenta que ela não interfere na natureza e, sobretudo,
na sociedade; e 3) o agnóstico, que sustenta que não há modo algum de
decidir se a divindade existe ou não existe. Todavia, o ateísmo teórico
e o ateísmo
prático muitas vezes estão vinculados. Neste curto ensaio, iremos tratar
especificamente do ateísmo teórico porque, este tipo de ateísmo fornece
argumentos valiosos para a reflexão filosófica. Pessoalmente, prefiro
considerar este ensaio como um exercício de Lógica, iremos expor os
principais argumentos que pretendem sustentar a existência de um Ser
supremo e as técnicas de demolição de tal intento. Como é um exercício,
as técnicas utilizadas aqui também são válidas para analisar qualquer
outro argumento que sustente a noção de uma idéia vaga e imprecisa,
sem relação com o mundo empírico, e não sujeita a questionamento.
A partir desta definição, podemos falar em religiões atéias, isto é,
religiões que descartam a existência de deuses pessoais (dotados de
personalidade e consciência de si) e de deuses transcendentais, capazes
de criar o Universo.
Na mitologia germânica, os deuses principais Odin, Tor, Freia não criaram
o Universo; eram considerados entidades muito poderosas, de grande longevidade
mas, podiam morrer. No pensamento religioso tupinambá não existem deuses;
os tupinambás consideram a natureza eterna, as entidades sobrenaturais
da florestas (gênios e assombrações), não são superiores aos homens
e sustentam a crença em um "herói
civilizador", uma espécie de feiticeiro poderosíssimo quem criou
o humanidade e lhes deu os costumes e tradições. Na filosofia da antiga
China, séculos V e VI antes de nossa era, os sábios fundamentaram os
seus pensamentos sobre uma moral absoluta, e sobre a noção da transcendental
dignidade original da natureza humana, que foi expressa quase duzentos
anos após Confúcio por Mêncio. Outro grande confucionista da antiga
China, Hsün-Tzu, afirmava que as normas morais são criadas pela sociedade,
a qual exerce uma influência civilizadora sobre os indivíduos. Na Índia,
o pensador Samkhia (o antigo filósofo do número), era denominado anisvara
(sem deus), assim como os sistemas jainistas e budistas que professavam
um ateísmo naturista, onde a energia universal denominada karma, era
a responsável pelo movimento do Universo e a causa da matéria.
O principal movimento ateu da antiga Índia foi o materialismo de Carvaca,
o lendário fundador da escola que teria vivido no século VI antes da
Era cristã. A doutrina materialista era também denominada locayata,
isto é, a doutrina que nega a existência do além, o mundo empírico loca,
e, a concepção filosófica naturalista svabhavavada (literalmente: doutrina
segundo a qual as coisas são o que exatamente aparecem ser). No breve
período do movimento antibramânico, como o jainismo e o budismo, a escola
atéia tendeu sobremaneira a criticar a religião, as crenças e as instituições
hindus. Os fenômenos do mundo eram explicados pelo jainismo e pelo budismo
ao público mediante o recurso ao princípio do karma, ao no lugar da
interpretação pela intervenção divina preconizada pelo bramanismo. A
escola atéia rejeitou tais concepções, inclusive a crença na alma e
no renascimento, além disso, desenvolveram argumentos que sustentavam
que a consciência não era diferente do corpo. Dessa forma, o surgimento
da consciência era explicado por propriedades físicas que emergem em
um modo particular de combinação de elementos materiais - a analogia
era feita à força e ao movimento que surge quando o álcool é adicionado
à água -. A escola atéia possuía também especialistas capazes de reproduzir
o ritual e os truques bramânicos de modo a esclarecê-los ao público
e críticos mordazes que combatiam a posição privilegiada das castas
superiores. A escola esteve ativa desde o 6º século antes de Cristo,
e permaneceu importante até o período medieval, quando subitamente desapareceu.
Os textos clássicos da escola Carvaca desapareceram propositadamente,
entretanto, houve parcas sobrevivências no 7º século da Era cristã,
relatada na doutrina tattvapaplasimha (literalmente: o ataque de leão
a todos os princípios filosóficos).
Como podemos, então, concluir o tema da existência de um Ser supremo,
quem cria o Universo e tudo o que ele contém, é um problema do pensamento
europeu, que necessita fundamentar suas asserções em um postulado absoluto
e incondicionado.
I - ATEÍSMO DOGMÁTICO.
"As religiões são como pirilampos: só brilham na escuridão."
(Sebastião Faure, 1959)
O ateísmo dogmático dirige as suas reflexões sobre os atributos da natureza
do divino, sustentando que estes atributos são absurdos e incompatíveis.
Os ateus dogmáticos são geralmente racionalistas e se opõe à concepção
da divindade dada pela revelação. Para os crentes cristãos, o mundo
que percebemos e que pensamos é obra da criação; para os racionalistas,
o mundo é eterno e funciona por si só. Os crentes admitem que o ser
humano é a obra-prima de toda criação, cuja alma é sobrenatural; já
para os racionalistas, o ser humano é um ser natural, um animal racional
e a alma humana identifica-se com a psique, com o intelecto. A razão
humana, segundo os crentes, é uma faculdade dada por Deus aos homens
para que eles possam escolher apenas entre o bem e o mal, e a razão
é uma faculdade inferior à fé; para os racionalistas, ao contrário,
a razão é uma faculdade superior do homem orientada para escolher entre
o belo, o perfeito, o justo, o certo, o prático e o virtuoso. O ser
absoluto dos crentes é uma divindade a qual deve ser respeitada, temida
e cultuada; é pessoal, transcende à natureza e é incompreensível (é
um deus com três pessoas co-eternas, um é o pai da outra, etc.); já
os ateus dogmáticos e racionalistas até admitem a existência de um ser
absoluto que rege o Universo mas, este ser absoluto é uma força da natureza,
impessoal, imanente, perfeitamente racional e compreensível; é uma espécie
de lei natural que condiciona todas as coisas e não tem consciência
de si, porém, não precisa ser temida e venerada.
Os ateus dogmáticos, apoiados no seu racionalismo,
observam que os crentes e teístas utilizam a filosofia para comprovar
a fé, e quando a fé se torna irracional e insustentável, declaram, então,
que tal assunto era uma questão de mistério e que a razão deveria submeter-se
a fé, aceitando os preceitos religiosos sem questioná-la. A teologia
cristã unificou aquilo que a filosofia havia outrora separado: a razão
do mito.
Geralmente, os teístas e crentes definem o Ser supremo com os seguintes
atributos. I) Infinito: existência própria, não depende de nenhuma outra
coisa, a não ser a si mesmo, isto significa que a) não foi criado e
nada pode destrui-lo; b) é eterno e sem início/fim. II) Perfeitíssimo:
nada há de melhor e superior, e sendo perfeito é a)imutável, b) muitíssimo
sábio, c) absolutamente feliz, d)infinitamente poderoso, e) bondoso
e amoroso. III) Criador: criou o Universo e tudo o que ele contém, isto
significa que a) aquilo que foi criado permanecerá para sempre coisa
criada, b) a humanidade jamais tornar-se-ia deus, c) a criatura depende
para a sua existência
contínua do criador, d) o Universo tem origem em um deus. IV) Providência:
age e interfere segundo sua vontade no Universo. V) Sagrado: é muitíssimo
superior as criaturas, é altíssimo, misterioso, imaterial, intocável,
inalcançável.
A partir destes atributos que os teístas, crentes e religiosos conferem
ao Ser supremo, o ateísmo dogmático utiliza a lógica para demonstrar
a incompatibilidade dessa definição.
1- Criador.
1.1 - Não pode criar porque do nada, nada provém. No Universo, nenhuma
coisa é criada e sim transformada; os seres vivos não são criados, eles
se desenvolvem, os elementos químicos não são criados, eles são recombinados,
ninguém cria um automóvel, ele é produzido; ninguém cria uma casa, ela
é construída; ninguém cria uma obra literária, ela é composta, etc.
etc. (Sebatião Faure, 1959, p.: 54).
1.2 - Entre o puro espírito e o Universo há uma grande diferença. Onde
estava a matéria quando o Ser supremo criou o Universo? Ou a matéria
estava fora da divindade ou a matéria estava na própria divindade (a
não ser que queiram encontrar um terceiro lugar), por conseguinte, se
a matéria estava fora da divindade, não teve necessidade de criá-la,
visto que já existia; se a matéria estava na divindade, então, a matéria
é a própria divindade, assim, a divindade não é puro espírito pois,
é constituído de matéria e a divindade simplesmente fê-la sair de si
(Sebastião Faure, 1959, p.: 56-57).
1.3 - O perfeito não pode criar o imperfeito. O Ser supremo, que é tido
como infinito, imutável e imaterial, provoca um efeito contrário e oposto,
isto é, um Universo finito, mutável e material. (Sebastião Faure, 1959,
p.: 58).
1.4 - O Ser supremo contraria três de seus atributos: sua atividade,
sua imutabilidade e sua necessidade. Se pressupõe que milhões e milhões
de séculos se passaram antes que o Universo começasse, o Ser supremo
estava inativo; pressupõe que, então, antes de criar o Universo, o Ser
supremo era completamente desnecessário, e se presume que não é imutável,
uma vez que muda de inativo e desnecessário para ativo e necessário.
(Sebastião Faure, 1959, p.: 60-62).
1.5 - Não há um só motivo para a criação do Universo.
O Ser supremo não pode ter desejo algum, visto que sua felicidade é
infinita; não precisa perseguir objetivo algum, visto que nada lhe falta
a sua perfeição; não é necessário arriscar-se a nenhum desafio pois,
nada lhe é superior; não precisa fazer qualquer coisa, visto que não
tem nenhuma necessidade. (Sebastião Faure, 1959, p.: 64-65).
2- A Natureza.
2.1 - A essência imaterial é irracional. Tudo o que existe ocupa uma
determinada posição no espaço e transcorre um determinado período no
tempo, como também é dotado de propriedades físicas, isto é, a capacidade
de atuar sobre as outras formações materiais mediante a comunicação
dos objetos em movimento; disso é concluído que uma entidade fora do
espaço e fora do tempo significa um Ser que não se encontra em nenhum
lugar do espaço e que não possui nenhum volume, e significa um Ser que
não está um nenhum instante do tempo e que não tem idade; e se um Ser
que não tem propriedades físicas, significa que não atua sobre as outras
formações materiais e está isolado do resto do Universo, esta entidade
não seria real, mas uma entidade abstrata, apenas concebida, uma produto
da imaginação. Pressupor tal entidade imaterial é o mesmo que pressupor
o absurdo de um corpo incorpóreo e um movimento sem deslocamento.
3- Providência ou administrador.
3.1- O conceito de Deus-criador nega o conceito de Deus-providência.
Se o Ser supremo, que é perfeitíssimo, criou o Universo tão complexo,
deduz que o sublime criador foi capaz de produzir uma obra assaz perfeita,
e então, nada mais restaria do que abandonar o Universo já que este
por si só contornaria todos os seus acidentes, logo, não há necessidade
de uma Providência. Por outro lado, se o Ser supremo administra o Universo,
isto significaria que no ato da criação nem tudo foi planejado, o que
revela que o Ser supremo é um incompetente. (Sebastião Faure, 1959,
p.: 76).
3.2 - A multiplicidade de deuses e religiões só demonstra que não há
validade de nenhum deles. Visto que alguns negam a existência da divindade,
outros a ignoram completamente, e ainda outros a opõe com divindades
alternativas, logo é concluído que as múltipla religiões são todas espúrias,
ou então, se a divindade revelou-se a alguns, era porque foi incapaz
de se revelar a todos. (Sebastião Faure, 1959, p.: 78).
3.3 - A questão do poder infinito. Se a divindade interfere no mundo,
isto demonstra o seu poder infinito, mas, a existência de uma poder
ilimitado nega a existência de um Ser supremo: se a divindade é capaz
de criar um objeto que seja tão pesado a ponto de ela mesma não conseguir
movê-lo, então o seu poder não é infinito, já que é incapaz de mover
o objeto: se o divindade não é capaz de criar um objeto tão pesado a
tal ponto que não consiga mover, é porque também não é tão poderoso
assim.
3.4 - A questão do mal. A existência do mal, seja físico ou moral, não
é incompatível com a existência de um Ser supremo, mas é incompatível
com a existência de um divindade infinitamente bondosa e infinitamente
poderosa. Com efeito, se o Ser supremo não livra o Universo do mal é
porque, ou não tem o poder suficiente para fazê-lo, ou porque não deseja
fazê-lo. (Sebastião Faure, 1959, p.: 81).
4- Garantia de Justiça.
4.1 - A humanidade não pode ser responsabilizada pelos os seus atos.
Toda a humanidade é irresponsável: os homens não escolheram nascer,
não foram consultados para traçar o seu destino, não tiveram a mínima
chance para optar pelo seu sexo, saúde, beleza, grau de inteligência,
condição social, etc. (Sebastião Faure, 1959, p.: 86-87).
4.2 - Juiz indigno. Sendo a humanidade irresponsável, porque lhe falta
a compreensão total do Plano Divino, o Ser supremo imaginado pelos que
nele crêem, erigisse acima de toda a humanidade e advoga ser o seu juiz
supremo, castigando ou recompensando a humanidade irresponsável pelos
seus atos, não é mais do que um ursupador, que arroga-se um direito
arbitrário, usando contra todos um senso de justiça que só ele pode
cumprir. (Sebastião Faure, 1959, p.: 88).
Poderia objetar-se que a concepção fornecida acima não é de um Deus
"verdadeiro" e sim uma caricatura intelectual. Por outro lado,
supondo que o Deus dos crentes e religiosos é um Ser inconcebível, transcendente,
muito superior a uma representação racional, então, da mesma maneira
os crentes e religiosos não podem concebê-lo adequadamente; todas as
suas representações do divino Ser estão equivocadas.
Assim, reconhecendo que a razão não pode conceber
adequadamente a representação de Deus, tão pouco podem os crentes e
religiosos compreendê-lo, explicá-lo, demonstrá-lo para os outros, e
não têm o direito de afirmar a sua existência.
II - ATEÍSMO CÉPTICO.
"Os homens cessarão de negar Deus quando outros cessarem de afirmá-lo".
(Edmílson, 1999)
O ateísmo céptico levanta dúvidas sobre as provas fornecidas a respeito
da existência de Deus, e assim, negando qualquer relação que o divino
possa ter com o mundo. Os argumento no qual o ateísmo céptico combate
são aqueles que são usados para demonstrar que Deus existe para ser
o fundamento para outros argumentos e teorias. Muitas dessas outras
teorias são concernentes, por exemplo, aos tipos de
ações que devemos praticar em relação ao próximo, as formas de pensamentos
que precisamos afastar, etc. Esses argumentos são usados para explicar
a origem do Universo e o significado da existência do Homem dentro do
esquema geral de coisas. Os deístas têm necessidade de fundamentar seus
argumentos em uma idéia eterna e não sujeita a questionamento.
Os teístas, religiosos e crentes armam-se de provas e argumentos para
sustentar a existência de um Ser supremo. Estas provas são divididas
em I) Provas subjetivas. II) Provas cosmológicas. III) Provas ontológicas.
IV) Provas morais.
1- Provas Subjetivas.
As provas subjetivas da demonstração da existência de um Ser supremo
são os argumentos mais fracos de toda a coleção de provas, porém, pessoas
desarmadas de senso crítico geralmente aceitam-nas como convincentes.
1.1 - Argumento da Revelação. Utilizada como prova a favor da existência
de Deus, o argumento baseado na experiência pessoal e imediata é uma
argumento fraquíssimo, consiste em admitir que:
Há uma inteligência perfeitíssima e sublime que transcende qualquer
explicação, e que escapa à compreensão humana, mas se revela por meio
da intuição, do estado da graça e da beatitude
Consoante as críticas dos ateus cépticos, o argumento
é fraquíssimo porque:
a. experiências subjetivas só podem revelar à pessoa, mas não à coletividade;
b. o argumento nada diz a respeito da natureza da fonte da revelação
transcendente, ou seja, não há certeza se é realmente algo divino;
c. as experiências subjetivas dependem muito da crença e das referências
culturais ao qual o indivíduo está submetido, e muito menos de circunstâncias
objetivas;
d. como as experiências subjetivas lidam com emoções e sentimentos,
a própria pessoa não tem controle e certeza sobre tais fenômenos;
e. há explicações alternativas para este fenômenos tais como a psique
despreparada em busca de auto-ajuda, a auto-sujestão, a mentira inconsciente,
a ilusão enganosa de uma má observação e a charlatanice.
1.2 - Apelo ao senso comum. É um argumento que muitas vezes é repetido
para demonstrar que Deus existe. O fundamento deste argumento é que
a idéia de um Ser Supremo ou de uma divindade é comum a todas as sociedade
e em todos os tempos. Quem pela primeira vez valeu-se deste argumento
foi Cícero (séc. I a. C.). Há duas formas:
Nenhum povo é tão ímpio e nenhum homem é tão incrédulo que não tenha
indícios da crença em deuses. Cada cultura e cada civilização sempre
acreditaram em algum tipo de divindade. Segue-se que deve existir algum
Ser Sobrenatural.
* * *
A maioria das pessoas acreditam em algum tipo de crença religiosa, portanto,
o fundamento de suas crenças deve ser verdadeiro.
Ambos os argumento partem de dois princípios: primeiro,
consideram a crença religiosa uma faculdade constituitiva da natureza
racional do homem, isto é, idéias inatas; segundo, utiliza o senso comum
para ser a autoridade da questão. As falhas encontradas em ambos argumentos
são os seguintes:
a. não existe idéias inatas, ou um princípio racional que a humanidade
descobre em direção ao monoteísmo;
b. o argumento não está baseado em qualquer tipo
de evidência ao qual a humanidade apoia-se na crença da existência de
um ser sobrenatural;
c. baseia-se em crenças não é evidência suficiente para apoiar uma suposição,
do contrário, teríamos de aceitar a existência de dragões, já que de
longa data populações do Japão, China, Europa e América acreditam em
tal crença;
d. o argumento do apelo ao senso comum evoca o consenso geral, a humanidade,
para julgar esta questão, entretanto, a humanidade não é autoridade
competente no assunto pois, conhecemos situações históricas cuja humanidade
esteve muito errada quanto a certas opiniões (a forma da Terra, por
exemplo).
2 - Provas Cosmológicas.
Os argumentos cosmológicos são baseados em "demonstrações"
a posteriori, ou seja, a partir da conclusão que há um motivo ou uma
causa para a ordem do mundo. São os mais conhecidos, contudo, são os
mais fracos em sua persuasão.
2.1 - Argumento teogênico. Seguramente o leitor já ouviu-o, é o mais
popular. É fundamentado na tese segundo o qual o Universo tem um criador.
É apresentado de uma maneira geral assim:
Ao constatarmos a perfeita organização do Universo, perguntamo-nos a
origem de tudo e o motivo da precisa regularidade dos fenômenos; daí,
a conclusão que o Universo tenha uma autor é tão razoável quanto supor
que uma fechadura encontrada no meio do deserto tenha um criador.
O argumento teogênico (de teo, deus; e gênico, origem) é um argumento
analógico, está baseado na comparação da capacidade humana de produzir
artefatos com a idéia de que o Universo foi produzido por alguém. Por
ser uma analogia, o argumento possui as seguintes deficiências:
a. há muitos artefatos humanos mas, apenas um único Universo, logo,
não há outros exemplos que apoiem esta suposição;
b. podemos observar facilmente autores humanos em atividade, e de fato
observamos autores humanos em ação mas, não com o autor do Universo;
c. os autores humanos quando produzem alguma coisa, empregam para isso
instrumentos (mãos, ferramentas, energia) e também empregam matérias-primas
que já existem
anteriormente, então, baseado nisso, com o que trabalhou e com qual
material o Universo foi feito?;
d. um único artefato humano possui vários autores,
é razoável supor que o Universo também tenha tido vários autores (diversas
outras divindades);
e. os artefatos humanos sobrevivem à morte de seus autores, baseado
nisso, é lícito supor que o autor do Universo esteja morto agora;
f. nossa limitada percepção do Universo e os recursos disponíveis do
atual conhecimento não nos permite concluir em definitivo que o Universo
tenha um autor.
2.2 - Argumento do primeiro movimento. Este argumento está baseado na
tese segundo o qual por trás de cada movimento ou processo na natureza
há um agente causador, um primeiro motor.
Tudo que move é movido por alguma coisa. Ora, se
aquilo que move é movido por outra coisa, esta outra coisa por sua vez
é movida por outra coisa e assim sucessivamente. Mas é absurdo afirmar
que a série continue até o infinito. Por isso, é necessário parar e
postular o primeiro motor que é a origem de todos os movimentos, e este
não é movido por coisa alguma e, este primeiro motor é Deus.
O argumento sustenta que a série de movimentos não
podem suceder até o infinito. Por exemplo: árvore balança, o que move
a árvore é o vento, o vento é movido pelo deslocamento do ar, o deslocamento
do ar é movido pela mudança de pressão atmosférica, a mudança de pressão
atmosférica é movida pela alteração da temperatura... e assim
em diante. É impossível retroceder até o infinito, e o argumento, então,
conclui que deve haver um primeiro movimento.
O argumento do primeiro movimento é um pensamento
linear reducionista e por isso, possui os seguintes defeitos apontados
pelos ateus cépticos:
a. se o argumento admite a ignorância do primeiro movimento,
é um contra-senso concluir um agente para este primeiro movimento;
b. há coisas reconhecidamente que movem por si mesmas, por exemplo,
os objetos que tendem para o centro da Terra, a chama que tende para
a atmosfera, etc. (na teologia, admite o movimento dos anjos, da alma,
etc.);
c. há uma distância enorme entre o evento remoto e o evento imediato
e, no entanto, o argumento faz um salto conclusivo e generaliza;
d. não podemos concluir pelo acontecimento remoto a causa do acontecimento
imediato, visto que a causa do acontecimento imediato é o seu acontecimento
direto, e, por
causa disso;
e. é um absurdo afirmar a causa de todo conjunto, visto que já antes
foi demonstrada a causa de cada elemento contido no conjunto.
2.3 - Argumento causal. A idéia central do argumento é a mesma do argumento
do primeiro movimento:
Tudo que se move é causado por alguma coisa, mas
nem todas os efeitos não devem encontrar a sua origem em causas naturais.
O argumento conclui que há um agente, não necessariamente
no fim de uma séria de eventos, que pode ter origem imaterial ou sobrenatural.
As críticas feitas ao argumento do primeiro motor também servem para
o argumento causal, incluindo:
a. o argumento é incapaz de demonstrar como o sobrenatural age sobre
causas materiais;
b. o argumento apenas conclui um primeiro agente, mas, não conclui que
o primeiro agente é uma divindade.
2.4 - Argumento da hierarquia de valores. É o argumento fundamentado
na tese que há uma hierarquia de valores no Universo, ascendendo até
o bem supremo, e este bem supremo é Deus.
Não podemos negar que alguns seres são mais belos do que outros, e que
alguns seres são mais perfeitos do que outros. A razão nos permite admitir
que há um Ser tão excelente e perfeito que não há outro Ser que lhe
seja superior, caso contrário, a razão admitiria que o número desses
Seres prosseguiria até o infinito. Mas como isto é
absurdo, deve haver um Ser superior tal que não possa estar subordinado
à nenhuma outra coisa como inferior.
Segundo os ateus cépticos, desconsiderando a conclusão errônea que o
"bem supremo é a mesma coisa que a divindade" como conclui
os argumentos 2.2 e 2.3, o argumento da hierarquia de valores precisa
demonstrar que 1o existe uma hierarquia no Universo, 2o o grau "bem
supremo" seja o ápice para qual todas as coisas apontam.
a. o argumento parte de uma premissa indemonstrável de como um valor
é superior a um outro: isto é, superior em perfectibilidade ou excelência
em relação ao quê?;
b. não é possível sustentar que haja uma hierarquia de valores no Universo,
pois que esses valores provém, na verdade, da perspectiva humana;
c. o argumento só leva em consideração a idéia de bem e de perfeição
que há no mundo, olvida da existência de imperfeições que há na natureza;
d. a idéia de "bem" é tomada como um valor absoluto para todas
as coisas, não devemos esquecer que uma coisa tanto pode ser boa quanto
pode ser má, dependendo do contexto.
2.5 - Argumento teleológico. É a tese segundo a qual há uma mente que
planejou a ordem de todo o Universo.
Todas as coisas no Universo possuem um objetivo,
uma finalidade. As estações do ano se sucedem com regularidade, a chuva
rega a relva, a relva alimenta os animais do campo, etc., etc. Tudo
ocorre como se fosse projetado por uma inteligência, ao qual dá sentido
para cada coisa dentro do esquema geral do Universo.
É fácil perceber que o argumento possui a mesma estrutura do argumento
teogênico: é um raciocínio por analogia, só que aqui a divindade é tratada
como um planejador.
a. o argumento baseia-se em poucas evidências de fenômenos extraídos
de seu contexto;
b. o argumento presume que a "razão de ser" das coisas e fenômenos
não estão nelas mesmas mas, em algo exterior e transcendente, cujo argumento
não consegue provar;
c. o argumento não considera o fato da natureza ou do Universo exibir
imperfeições, incoerências e catástrofes;
d. sustentar que cada coisa possui uma finalidade
é sustentar que ratos foram feitos para alimentar gatos e escravos existem
para prover os seus amos, em uma perfeita ordem eterna.
3- Provas Ontológicas.
Os argumentos ontológicos são argumentos inversos aos cosmológicos,
porque são baseados em "demonstrações a priori", a partir
da prioridade lógica da necessidade de um Ser supremo existir, do contrário,
a não-existência seria irracional e ilógica.
Este tipo de prova foi o mais fecundo na história dos debates entre
deístas e ateístas, a estrutura de raciocínio destes argumento é do
tipo reductio ad absurdum.
3.1 - Argumento da mente universal. Foi formulado por George Berkeley
(1685-1753), bispo da Igreja Anglicana. A tese principal deste argumento
é se alguma coisa existe, existe porque é percebida. Segundo Berkeley,
"existir é ser percebido" e, por conseguinte, aquilo que não
é percebido não existe. A organização deste argumento é mais ou menos
assim:
Tudo o que existe, existe porque é percebido por alguma consciência,
e o que não é percebido por alguma consciência não existe. Contudo,
para evitar o paradoxo de que objetos só existam quando a humanidade
de alguma forma os percebe; como por exemplo, o fundo do mar, que existe
quando uma expedição marítima resolve fazer um levantamento para depois
desaparecer, quando a expedição se retira; o objeto não percebido pela
humanidade, entretanto, existe e existe porque é percebido por uma consciência
contemplativa, um espírito infinito
E George Berkeley conclui que o espírito infinito é Deus. O argumento
de Berkeley possui quatro problemas graves que os cépticos apontam como:
a. o argumento possui um erro de dedução, não há como derivar a conclusão
"algo existe" da proposição "existe pela percepção de
outro ser (ou pela sua natureza necessária)";
b. no postulado segundo o qual "existir é ser
percebido" há uma contradição lógica, porque o argumento trai a
sua própria tese ao aplicá-lo ao espírito infinito, isto é, se a humanidade
não percebe o espírito infinito, este, portanto, não existe - ao menos
se o próprio espírito percebe a si mesmo, mas aí, como a humanidade
perceberia isso?
c. o argumento não é muito claro no que vem a ser "percepção";
segundo Berkeley, Deus sabe o que seja dor, embora não sofra, sabe o
que é fome, mas não passe por esta privação, conhece a morte mas, é
imortal, tem ciência dos objetos do mundo e contudo, não sente-os com
os nervos - se existência é igual a percepção, e a percepção consiste
no ato da consciência realizar procedimentos como o querer, o sentir,
o entender, o sofrer, etc. - e se essas percepções da divindade não
forem exatamente como as percepções humanas, então, o que é essa "existência"
da divindade?
d. o argumento da mente universal comete a falácia da equivocação esta
ocorre quando uma palavra (a palavra "percepção") é utilizada
várias vezes com mais de uma acepção.
3.2 - Argumento da essência. É um argumento interessantíssimo, fundamentado
na tese segundo o qual o conceito de um ser implica em sua existência.
Foi formulado pela primeira vez por Anselmo de Aosta (1033-1109), considerado
um santo pela Igreja Católica. Anselmo se indignou com o Salmos X, 4
e Salmos XIV, 1. Recusava possibilidade de haver pessoas, os néscios
e os ignorantes que desconheciam a existência de Deus. De uma maneira
bem geral, o argumento é o seguinte:
Todos concordam que o conceito de Deus é um conceito de um ser perfeitíssimo,
e possuindo todos os atributos da perfeição, é o maior de todos os seres
e não se pode conceber outro ser maior do que ele; se este outro ser
concebido estivesse somente no intelecto e não na realidade, seria razoável
conceber outro ser que fosse mais perfeito do que o primeiro, e mais
ainda, de existir na realidade. Portanto, este
segundo ser seria maior do que o primeiro, o qual disséramos que não
poderíamos conceber um maior do que ele, o que é absurdo. Não há dúvida
de que aquilo de que não se pode pensar nada de maior exista tanto no
intelecto quanto na realidade.
O que Anselmo de Aosta pretende provar é que mesmo aqueles que nunca
ouviram falar em Deus, acreditam em Deus ou podem ter o discernimento
intelectual suficiente para concluir que ele exista. Este argumento
inspirou diversos filósofos teístas, por isso,
encontramos outras versões do mesmo raciocínio.
O raciocínio de Giovanni Fidanza Boaventura (1221-1274), teólogo da
ordem dos Franciscanos é semelhante ao raciocínio de Anselmo de Aosta:
Si Deus est Deus, Deus est. (Se Deus é Deus, Deus existe).
Já filósofo Wilherm Gottlieb von Leibniz (1646-1716) monta o argumento
da essência da seguinte forma:
Um Ser absolutamente perfeito, se é possível, é um Ser existente, porque,
do contrário, não seria um Ser absolutamente perfeito.
O filósofo deísta René Descartes (1596-1650) parte da mesma tese. O
seu discurso e bem mais elaborado, e procede assim:
Deus é uma idéia de um Ser imutável, perfeito, infinito, etc. Nada provém
do nada; tem de haver uma causa que põe em nós a idéia de Deus. Não
sou eu próprio e nem outro objeto, ser humano ou fato que coloca esta
idéia. Logo, há um Ser que causa essa idéia e que possui as propriedades
mencionadas. Ora, a existência objetiva é mais perfeita que a existência
subjetiva. Portanto, a causa da idéia de Deus, é mais perfeita que a
idéia que tenho de Deus.
Em resumo, o que estes raciocínios pretendem provar
é que não pode existir um Ser que seja tão perfeito, que possua todos
os atributos da perfeição, inclusive o da existência, e este só exista
no pensamento; tal Ser tem de existir também na realidade.
O argumento da essência é um raciocínio de "círculo
vicioso", uma tautologia, e por causa disso, apresenta as seguintes
deficiências:
a. há grande diferença entre uma coisa, um Ser, e
o seu conceito (das propriedades de um conceito não se deduz a existência
do seu Ser, assim como das propriedades de um
animal mitológico, o unicórnio, por exemplo, não se deduz que tal animal
exista);
b. a enunciação de uma propriedade não confirma a existência, para confirmá-la
é necessário a demonstração;
c. o argumento ontológico da essência é impreciso
nas definições dos atributos de Deus, afinal, o que vem a ser "existência"?;
d. e por último, o argumento sofre da falácia da petição de princípio,
ou seja, primeiro supõe a existência da divindade para depois tirar
disto a sua "existência", dá como prova precisamente o que
seria necessário provar: é um círculo vicioso.
3.3 - Argumento do Ser necessário. É a terceira prova da existência
da divindade fornecida por Tomás de Aquino (1225-1274) em sua Summa
Theologica.
Encontramos, no mundo natural, coisas que podem ser ou deixar de ser,
pois são geradas e se corrompem e, conseqüentemente, é possível que
sejam e não sejam. Mas é impossível que essas coisas sempre existam,
pois aquilo que pode não ser, em um dado momento, não é. Logo, se tudo
é possível de não ser, houve um tempo em que nada poderia ter existência.
Ora, se isso fosse verdade, mesmo agora nada existiria, pois aquilo
que não existe só começa a existir a partir de algo já existente. Se
em algum momento nada existia, seria impossível que algo começasse a
existir; e até agora nada existiria - o que é absurdo. Logo, nem todos
os seres são simplesmente possíveis, mas deve haver alguma coisa cuja
existência é necessária.
É considerado um argumento "forte", isto
é, um argumento muito inteligente e, a primeira vista, de difícil refutação.
O cerne do argumento de Tomás de Aquino é a tese segundo a qual "para
cada coisa, houve um momento em que não existiu" e "houve
um momento em que nada existiu", a conclusão é a necessidade de
um Ser que gerou todas as coisas. Entretanto, devemos considerar que:
a. o argumento não considera a possibilidade lógica de as coisas terem
existido sempre, apenas se transformando;
b. o argumento comete a falácia de composição, a qual
consiste em atribuir que as partes é igual ao todo - o enunciado "para
cada coisa houve um tempo em que não existiu" constitui uma referência
e, o enunciado "houve um momento em que nada existia" pertence
a uma outra referência; são referências de natureza diferentes e sem
relação entre si.
4 - Provas Morais.
As provas morais são afirmações que a existência da divindade cumpre
uma finalidade salutar: a garantia de tudo o que há de excelente no
mundo, sobretudo, no mundo humano. São baseadas em "provas"
psicológicas como a atitude ética, consensual e moral, procurando demonstrar
que a finalidade da existência do Ser supremo é desejável e conveniente
à vida social (à ordem, à legalidade, à solidariedade).
Por conseguinte, as provas morais estão baseadas em raciocínios persuasivos,
descartando os processo de dedução intelectual para alcançar algum tipo
de conclusão.
4.1 - A explicação de Kant. Immanuel Kant (1724-1804) foi um grande
filósofo da teoria do conhecimento. Kant examinou diversas formas de
argumentos relativos à existência de um Ser supremo, algumas de suas
brilhantes observações são utilizadas neste ensaio. Immanuel Kant invalidou
todos os argumentos racionais para ater-se ao fundamento moral que a
crença em uma divindade é conveniente. Seu raciocínio é bastante complexo,
mas podemos transcrever que:
Qualquer intento, seja ele científico, filosófico ou religioso, para
definir a realidade, para alcançar o conhecimento transcendental (fora
da consciência) é inútil, pois, para cada tese (afirmação) que a consciência
formula, é possível opor uma antítese (negação) igualmente válida. Sendo
assim, é impossível concluir a afirmação ou a negação sobre os atributos
da realidade: se existe ou não existe Deus; por meio dos métodos normais
do conhecimento. Não obstante, a razão sempre é mais favorável à opção
da primeira hipótese, a tese, isto é, a existência de Deus. É uma questão
de verdade da crença, da consciência ética; é uma necessidade de ordem
moral para garantir a felicidade.
O argumento supracitado é deveras complexo e merece alguns esclarecimento.
Immanuel Kant concorda que o conhecimento humano, as idéias que estão
em nós, são formadas através da experiência sensível. Conhecemos a cadeira,
a montanha, as pessoas, etc. porque as sentimos e as percebemos; contudo,
há certas idéias no qual para formá-las não entramos em contato com
coisa alguma, por exemplo, a idéia de democracia, liberdade, de justiça,
etc. Kant sustenta que há na razão humana idéias a priori que permitem
a formulação de tais idéias.
As críticas que geralmente os ateus cépticos dirigem ao raciocínio de
Kant são as seguintes:
a. a questão da confirmação de uma hipótese não se
prova ou refuta na teoria (ou na consciência), mas se verifica na prática
(ou na realidade), é na experimentação e na
demonstração que se refuta a hipótese;
b. a possibilidade cognitiva da humanidade está sujeita à transformação
e ao desenvolvimento histórico, para Kant, os conceitos que a humanidade
formula são fixos e são propriedades universais da mente humana;
c. de acordo com Kant, cada indivíduo formula em sua consciência o conceito
do divino, Deus é o postulado da razão prática, uma condição a priori
do conhecimento objetivo cuja fonte é a moralidade - ao contrário, o
conhecimento é fruto das indispensáveis práticas sociais humanas;
d. na verdade, não há moralidade universal e absoluta necessária para
todos os homens e todos os povos, a moral muda constantemente na história;
e. para Kant, a existência do conceito de divindade em nossa consciência
é o fundamento do dever moral, a garantia de felicidade, Kant olvida
que crença alguma é garantia de felicidade pois, pode estar carregadas
de valores ideológicos;
f. conseqüentemente, a fonte da moralidade não se
encontra na consciência mas, deve ser buscada na sociedade.
4.2 - A aposta de Pascal. Este argumento está fundamentado
em uma escolha vantajosa ao qual o interessado precisa fazer. Segundo
Blaise Pascal (1623-1662), o homem precisa escolher entre uma vida na
qual Deus existe e uma vida na qual Deus não existe. Contudo, se a reflexão
intelectual não permite decidir entre um e outro, Pascal sugere o seguinte:
O ser humano não pode hesitar, deve viver como se Deus existisse ou
deve viver como se Deus não existisse. Mas, se a razão não o convence,
então, deve recorrer ao que lhe é mais conveniente, como o jogo. Se
o ser humano aposta na existência e ganha, tudo ganha; já se aposta
na não existência e perde, nada perde.
Blaise Pascal foi um dos maiores apologistas do cristianismo e um precursor
da contemporânea filosofia existencialista. O intento de Pascal é demonstrar
o que ele acredita ser a "miséria da vida humana sem Deus".
O argumento de Pascal possui os seguintes inconvenientes:
a. o argumento não possui nenhuma validade explicativa ou teorética
por se tratar de uma mera metáfora poética;
b. o argumento é paradoxal, pretende discorrer sobre
a atitude ética e, no entanto, discorre sobre a linguagem de mesa de
jogo;
c. não está muito claro o que o jogador exatamente ganha se apostar
na existência de Deus.
4.3 - A Desculpa de Carl Jaspers. Pensador dinamarquês,
Carl Jaspers (1883-1969) foi um filósofo existencialista e crente. Após
meditar sobre a inutilidade de provar racionalmente a existência de
um Ser divino, Carl Jaspers revoltou-se contra os argumentos discursivos
e elegeu o fundamento da fé para sustentar Deus.
A existência de Deus não precisa ser demonstrada. Se é comprovada a
existência de Deus, consoante os modelos matemáticos ou métodos científicos,
então, a existência de Deus é falsa. Um Ser supremo comprovado cientificamente
não nos mostraria um Ser transcendente, não seria um deus mas, uma mera
coisa do mundo. Assim, cabe ao fiel
aceitar Deus sem discussão.
A opinião e reviravolta de Carl Jaspers é explicável:
a situação se inverteu, os deístas que procuravam no raciocínio metodicamente
lógico perceberam a invalidade de suas hipóteses, passando a se sustentar
no sentimento humano; além disso, o argumento de Carl Jaspers merece
as seguintes observações:
a. por causa do fracasso em sustentar racionalmente a validade dos argumentos
teológicos, Carl Jaspers refugia-se na necessidade do sentimento humano
por causa de sua angústia;
b. conseqüentemente, como todas as provas morais,
a divindade deixa deter uma existência empírica, real, e passa a ter
uma existência restrita à consciência, uma existência desejável;
c. Carl Jaspers sustenta que a existência da divindade é metafísica,
isto é, além da natureza, o que faz da divindade um Ser incomunicável,
o problema é como reconhecer a existência de Deus, o que faz do argumento
semelhante a uma prova subjetiva;
d. uma das faculdades mais importantes da humanidade é a sua capacidade
de discutir e questionar, Carl Jaspers quer que o fiel acate cegamente
os preceitos da teologia.
Como podemos perfeitamente concluir, o deísmo, isto é, a tentativa lógica
de conceber um Ser divino, não consegue dar sustentação racional para
a existência de um Deus. O ateísmo céptico põe obstáculos sobre todos
os meios de conhecer Deus: é a negação da
relação que a divindade possa ter com o mundo, por conseguinte, o ateísmo
céptico conclui: se Deus existe, não há meio algum de conhecê-lo. Todavia,
esse argumento é uma falácia de ignorância (dicto secundus quid ad dictum),
que sustenta ser uma afirmação verdadeira, no caso, a existência de
um Ser supremo, porque ninguém foi capaz de refutá-la.
A refutação decisiva da existência de um Ser supremo é fornecida pelo
ateísmo crítico. O ateísmo crítico não se contenta em demolir os argumentos
referente a existência de uma hipotética divindade, ele vai mais além,
construindo uma visão de mundo onde a hipótese de uma entidade transcendente
é descartada. Para isso, o ateísmo crítico não permanece na etapa dos
arrojados argumentos filósoficos, vale-se das conclusões da pesquisa
científica. Todavia, isso ficará para um próximo ensaio.
Bibliografia:
FAURE, Sebastião. Provas da Inexistência de Deus. Editora
Germinal Ltda.: Rio de Janeiro, R. J., 1959. tradução de
Alfredo
Guerra (Preuves de l'Inexistence de Dieu),
CORBISIER, Roland Cavalcanti de Albuquerque. Enciclopédia
Filósofica. 1a edição. Editora Vozes Ltda.: Petrópolis,
R.J., 1979 in
verbete "Ateísmo" (pp.: 13-17).
STACCONE, Giuseppe. Filosofia da Religião. 2a edição.
Editora
Vozes Ltda.: Petrópolis, R. J., 1991.
SALOMON, Wesley C. Lógica. 3a edição. Zahar Editores S. A.:
Rio de Janeiro, R. J., 1973.