Da Onisciência

Jocax, Dezembro 2004


Introdução

Este texto destina-se a provar que qualquer sistema (observador) que se proponha a registrar (conhecer, ou saber) todos os eventos de um universo no qual ele próprio esteja incluído, não pode existir.

Definições e Requisitos

Chamemos de ‘observador onisciente', ou simplesmente de observador, um sistema hipoteticamente capaz de conhecer tudo, inclusive a si próprio. A palavra ‘conhecer', ou ‘saber', tem o significado usual: o de registrar ou armazenar informações sobre o estado do sistema e todas as suas alterações. Um evento é definido como uma mudança no sistema.

Consideremos ainda o conjunto ‘Observador Onisciente' aquele que observa, e o ‘Universo Observado' aquele que o observador observa como ‘Universo Total'. Nesta demonstração é necessário que o ‘observador onisciente' faça parte do universo observado, ou seja ele deve, no mínimo, conhecer-se a si próprio. Ou seja, o universo observado deve coincidir com o universo total.

Demonstração

Considere, inicialmente, um evento qualquer que ocorra no ‘Universo Observado'. Chamemo-lo de ‘evento-1'. Como, por definição, o ‘observador onisciente' deve saber de tudo que ocorre, ele deverá registrar a ocorrência deste evento.

Mas o registro de uma ocorrência é, por si mesmo, um evento uma vez que deve haver uma alteração no ‘Universo Total' que permita armazenar esta informação. Chamemos então o registro do ‘evento-1' de ‘evento-2'.

Entretanto, o ‘evento-2' também constitui um evento e, portanto, precisa ser registrado. Chamemos então o registro do ‘evento-2' de ‘evento-3'.

O ‘evento-3' deve gerar um registro que, por sua vez, constitui um evento ( ‘evento-4') que por sua vez deve gerar um registro que constitui um evento ( ‘evento-5' ) e assim por diante de modo que, sempre que um ‘evento-n' é registrado ele deve gerar um ‘evento-n+1', que é o evento que registra o ‘evento-n'.

Isso gera uma sucessão infinita, e necessária, de eventos. E assim, mesmo que o hipotético ‘observador onisciente' dispusesse de uma quantidade infinita de ‘espaço' para registrar todos os infinitos eventos gerados, não haveria possibilidades de se conhecer todos eles já que são infinitos e assim ele nunca poderia saber o resultado do último evento, aquele que existe e ainda não foi registrado. Pois um evento que ainda não foi registrado, embora existente, não pode ser conhecido.

Portanto a onisciência total é logicamente impossível.

Conseqüências

Como conseqüência deste teorema temos que não existe um sistema físico, dentro de nosso universo, independentemente das leis Físicas que são adotadas, que seja logicamente capaz de determinar seu estado futuro com exatidão, isto é, o universo é intrinsecamente indeterminista.

Além disso, o teorema garante que a onisciência total é logicamente impossível e assim também não pode haver um Deus que seja onisciente.


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