Computador aprende por imitação

(O Globo, 25/1/2005)


Um computador capaz de aprender um jogo infantil ao observar e imitar a performance de seres humanos pode levar ao desenvolvimento de máquinas que automaticamente aprendam a detectar a presença de um invasor ou que sejam capazes de fazer trabalhos perigosos de manutenção, informaram pesquisadores britânicos

CogVis, desenvolvido por cientistas da Universidade de Leeds, em Yorkshire, consegue aprender sozinho um jogo infantil buscando por padrões em vídeos com jogadores humanos. Ele é capaz de elaborar sua própria hipótese para as regras do jogo.

Em contraste com os demais programas de inteligência artificial, que imitam as ações humanas a partir de regras codificadas, CogVis tem um comportamento mais humano, pois aprende pela observação, apontaram os cientistas.

Os programas convencionais são problemáticos porque os computadores não conseguem lidar com circunstâncias não previstas ou com a introdução de novas regras.

`Um sistema capaz de observar eventos num cenário desconhecido, aprender e participar exatamente como uma criança faria é quase o cálice sagrado da inteligência artificial', afirmou Derek Magee, da Universidade de Leeds. `Talvez não tenhamos solucionado o desafio completamente, mas acho que conseguimos algo importante.'

Na demonstração feita, o CogVis observou voluntários humanos participando de um jogo que utiliza cartas marcadas com uma tesoura, um pedaço de papel ou uma pedra.

Os voluntários foram orientados a anunciar quando ganhavam e quando ocorria empate. Depois de observar algumas rodadas, o CogVis era capaz de anunciar o resultado do jogo corretamente.

Chris Needham, outro integrante da equipe do CogVis, afirmou que o processador visual do sistema analisa a ação ao separar períodos de movimento e inatividade e, a partir disso, extrai características baseadas em cor e textura.

Combinando isso com o áudio, o sistema desenvolve hipóteses sobre as regras do jogo, usando uma abordagem conhecida como programação indutiva lógica.

`Foi muito impressionante', afirmou Max Bramer, pesquisador da Universidade de Portsmouth, na Grã-Bretanha, integrante do grupo de inteligência artificial da Sociedade Britânica de Computação.

Em entrevista ao site da `New Scientist', ele afirmou que o CogVis pode ter numerosas aplicações. Segundo ele, a tecnologia pode ser usada, por exemplo, para desenvolver máquinas capazes de aprender a detectar a presença de um estranho numa seqüência de vídeo, ou ainda de controlar um robô em serviços de manutenção.

O desafio agora, afirmaram especialistas, é fazer com que o sistema aprenda tarefas mais complexas.

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