Por que somos seres dotados de racionalidade, consciência, emoções e sentimentos? Consciência pertence à racionalidade, mas, de propósito, coloquei-a à parte.
O homem recebe estímulos do meio ambiente e os processa a fim de poder reagir adequadamente a eles. Os sentidos são os canais de entrada e o sistema nervoso, incluindo o cérebro, o computador de processamento. Isto é a racionalidade.
Qual o propósito último dessas propriedades? Dessa capacidade? A perpetuação dos seres humanos na Terra!
A consciência é a propriedade na qual o cérebro volta a si próprio, verifica se está certo ou errado na realização de funções. Verifica sua própria atuação. Mas é também um instrumento da inteligência, da razão. Como um exemplo, imagine você tomando uma decisão em um jogo de xadrez. Você pensa: “Vou colocar a torre ameaçando a dama adversária e, meu oponente, ao tirá-la de sua posição, vai me facilitar um xeque-mate através de minha dama e a outra torre”. Veja, por seis vezes seu cérebro “requisitou” a consciência nesse raciocínio: “eu” vou, “minha” torre, “meu” oponente, a “mim”, “minha” dama, “minha” torre. Na verdade, foi a consciência que dirigiu todo o processo. Ela é um dos maiores, se não o maior, instrumento de nossa racionalidade. Nem é preciso dizer o quanto ajudou em nossa sobrevivência no planeta.
Os mamíferos são organismos zelosos com suas proles e também são seres sociais. São muito mais que isso. Mas como podem ser diferentes dos répteis e peixes, de animais onde seus descendentes são livres ao penetrarem no meio ambiente logo após o nascimento, sem nenhum cuidado por parte dos genitores?
Existe um elo de ligação entre pais e filhos nos mamíferos: o afeto, o amor. E aí começa a história. Sem esses sentimentos, e muitos outros, os filhotes não sobreviveriam pois nascem imaturos, despreparados para enfrentarem o mundo sozinhos. E sem sentimentos e emoções não formaríamos famílias, não nos protegiríamos, não faríamos por nós e pela coletividade.
Além da racionalidade, emoções sentimentos foram decisivos em nossa sobrevivência na Terra. As forças evolutivas os criaram.
Neste ponto a ciência difere dos filósofos cristãos, pensadores, etc., que diziam ser os sentimentos, emoções e a racionalidade, frutos da influência de algo imaterial como um espírito ou alma. Se as forças evolutivas criaram um sistema dotado dessas três propriedades para a nossa evolução, por que existiria algo imaterial a influir nesse sistema?
O espírito acompanhou toda a história evolutiva dos organismos até nosso cérebro? Ele se apossou do cérebro em certa altura da história evolutiva dos nossos antepassados? Ele “dirigiu” as forças evolutivas conduzindo a evolução do sistema nervoso? Perguntas até hilárias! Isto não é ciência! Ciência é estudar os fenômenos naturais, explicá-los, sem apelar a nenhum artifício, ou “atalho”, facilitando a compreensão desses estudos.
Mas podemos ir mais longe. E por isto separei a consciência da racionalidade no começo do artigo, inclusive mencionando-a como um agente de suma importância em nossa evolução.
Acredito que seja necessário, no mínimo, de duas condições para um sistema ser dotado de consciência: amor próprio e fé. Sem amor próprio tal sistema não sobreviveria. E sem fé, ao menos por nós mesmos, nem sequer levantaríamos da cama! Não acreditaríamos em nós, em nosso potencial.
Esses sentimentos funcionam como “suportes”, “amortecedores” naturais para um sistema consciente e foram criados pelas forças evolutivas.
Mas a fé nos leva, pelo menos na maioria das pessoas, a acreditar em um ou mais deuses. Estes últimos foram uma “constante” em civilizações do passado e é comum em comunidades indígenas no mundo inteiro (sinceramente não pesquisei onde mais isto é uma realidade: acredito que existe em muitas outras formas de sociedade).
É confortante para o homem acreditar em algo superior, transcendental, que o ajude e o ampare.
Ter consciência do mundo, da existência de uma separação entre nós e o que nos cerca, pode levar-nos a uma solidão juntamente com uma insuportável crise existencial. O homem não agüentaria viver neste mundo sem algo de superior a acreditar. Mais uma vez, outro “amortecedor” natural oriundo da fé.
E aí chegamos em uma conclusão surpreendente a qual o leitor já deve ter concebido. Sendo a fé o sentimento que nos faz acreditar em seres imateriais, transcendentais, onde se pode acreditar até no ato de criação de tudo que existe em nosso universo, e sendo “suporte” para a consciência, então Deus e deuses foram e sempre serão criados pela mente humana!
Sinto muito!
Referência bibliográfica obrigatória:
www.cerebromente.org.br: “A Base Material dos Sentimentos” I e II (2001) e
“ O Porquê dos nossos Sentimentos” I e II (2001 e 2002). - Por: Argos Arruda Pinto.
A Base Material dos Sentimentos:
http://www.genismo.com/psicologiatexto20.htm