Imperfeição Divina
Por: César Medeiros



Os cristãos pensam que existe um deus que fez o mundoe o universo. É mentira, mas vamos supor que seja verdade.

Esse mundo que o deus inventado pelos cristãos fez é tido como um mundo perfeito porque o deus que o fez é perfeito e de um ser perfeito não pode vir nenhuma imperfição.

Então vamos ver como é esse mundo perfeito no qual o deus cristão, inventado por bárbaros séculos atrás, colocou suas ridículas criaturas.

No mundo dito perfeito, as criaturas vivas devem comer outra criaturas vivas para conseguirem sobreviver. É um morticínio global. O ser vivo precisa que outro ser vivo morra para que ele continue vivo. Isso é chamado de perfeição divina.

Todo alimento ingerido pelas criaturas perfeitas transforma-se em podridão, em excremento, seja ele um prato de caviar ou uma cocada preta da mãe joana.

Assim, dentro do perfeito organismo humano divinamente projetado, viajam ininterruptamente quilômetros e quilômetros de matéria nojenta, fezes e urina, desde a hora do nascimento até a hora da morte.

De tão venenosamente perfeitos esses excrementos podres e contaminados não podem ser tocados, sob pena de matar quem assim o fizer. O deus cristão acho que tudo isso era bom e assim está até hoje.

Em meio a toda essa perfeição, diariamente milhares e milhares de pessoas morrem, de uma morte perfeita. São crianças que sofrem de leucemia, velhos que vêem o próprio corpo ser consumido lentamente por doenças fatais, mulheres que morrem de parto, indivíduos infartados, vítimas de derrames cerebrais, etc.

Em sua obra dita perfeita o deus cristão também criou secas, enchentes, terremotos, maremotos, avalanches, erupções vulcânicas, raios, tufões, tornados, furacões, tempestados e todo tipo de catástrofe que matam milhares dos seus filhos todos os anos.

Esse deus parece se divertir lançando sobre suas criaturas epidemias fatais, novos vírus, bactérias super resistentes, doenças incuráveis, desastres nunca imaginados.

Para os que nele crêem tudo isso é um presente e deve ser visto com alegria, pois tanto o universo como tudo que nele acontece é a demonstração da pura perfeição do deus que o criou.

Parece que esse teatro de horror aconteceu quando nossos primeiros ancestrais se corromperam comendo uma fruta proibida. Graças a esse gesto tresloucado o resto da humaidade, que não havia nem nascido, foi condenada se julgamento ao sofrimento eterno. Condenação antecipada sem a menor chance de escapar. É como fazer alguém ser julgado e condenado enquanto ainda está na barriga da sua mãe.

Um inocente pagando por um pecador. O máximo da perfeição desse deus que é só perdão. Julgamento prévio antes mesmo do crime haver sido cometido. Só um deus infinitamente perfeito é capaz de tamanho gesto de amor.

Então, depois desse desastre, e já que agora não era mais perfeito, o ser humano conformou-se e encarou a dura realidade, assumindo um novo papel. Tornou-se o único produto a pedir desculpas ao fabricante por um erro de fábrica.

Todos os seres humanos agora estão condenados a passar a vida inteira de desdobrando em desculpas e implorando misericórdia inutilmente a esse deus tão bonzinho, não vã tentativa de escapar do castigo que lhe foi imposto antes mesmo de haverem chegado a esse mundo tão estranhamente perfeito.

Esse pequeno erro de fábrica cometido por deus ao invés de levá-lo a trabalhar na correção do produto, o deixou enlouquecido de cólera. A partir daí, numa explosão de ódio contra os pobres seres que o criou, ele destilou sua cólera divina e fez com que o sofrimento tomasse conta do planeta. Punir, punir e punir. Essa era a ordem. Punir a todos, sem exceção. Homens, mulhers, crianças, recém-nascidos, fetos, embriões, animais e plantas.

Submisso, sem ter saída, ao ter que aceitar a punição divina pelo crime hediondo cometido por um antepassado seu que comeu o que não devia, o ser humano se humilhou ao seu bom deus e declarou-se o mais miserável de todos os seres, merecedor de nada menos do que a punição eterna inventada pelo seu criativo pai. Mas que pecado é tão grande assim ao ponto de condenar o pecador eternamente?

Só a mente de um deus perfeito pode conceber tamanha monstruosidade.

Como se tudo isso não bastasse, esse deus insano exige que sejamos justos, bons e cheios de amor, em retribuição ao sofrimento que ele nos inflige. Mal sabe ele, na sua infinita egocentricidade, que está pedindo o impossível. Não podemos comandar nosso cérebro para que amemos quem nos odeia e deseja nosso mal.

Indiferente a tudo isso, o bom deus cristão não só ordena que amemos nossos inimigos, mas quer também que odiemos nossa família para então atingirmos o grau de pureza necessário que nos leve para perto dele, no céu cristão. Exige esse deus tão criativo que perdoemos a quem nos agredir, a quem tentar nos matar, a quem fizer mal a qualquer um dos nosso entes queridos, a quem espancar uma de nossas faces, nos humilhar ou caluniar.

E o que é pior, manda que ao sermos espancados por alguém numa das faces, viremos a outra para que ela também seja espancada. Os humanos costumam chamar esse ato de masoquismo. Nada mais é do que o triunfo do mal, a vitória dos violentos, a aceitação da covardia e a negação do legítimo direito de auto-defesa. Fazendo tudo isso o ser humano estará no verdadeiro caminho da perfeição.

Como ninguém consegue ser tão estúpido assim ao ponto de se deixar espancar e ainda achar bom, tudo indica que todos os seres humanos, inclusive os cristãos, irão todos para o inferno que deus criou só para puni-los. Foi assim que o deus criador do universo fez, infelizmente para seus seguidores. Nenhum desses pobres coitados, por mais que tentem a vida toda, jamais conseguirão perdoar aqueles aos quais odeiam.

Mas se perdoar é tão fácil assim e deus é só amor e perdão, fica então a pergunta: por que então ele não dá o bom exemplo e perdoa a todos nós, mandando-nos para o céu? Inocentes e culpados? Não é bem mais fácil para um deus perdoar suas criaturas do que exigir que suas desgraçadas criaturas perdoem seus inimigos e ainda achem bom serem maltratadas, numa atitude totalmente contrária à natureza que ele mesmo colocou nas mesmas?

Toda essa história ridícula de perfeição divina está contada na Bíblia, o livro mais mentiroso e contraditório que jamais foi escrito. E os cristãos a repetem, feito papagaios. Jogam a lógica na lata do lixo e fingem que irão para o céu depois de serem odiados, espancados, vilipendiados, humilhados e maltratados pelos inimigos a quem fingem amar. Esse é o resultado da perfeição divina.

Uma pergunta precisa ser respondida pelos cristãos: como um deus perfeito que é só amor pode fabricar criaturas a quem costuma chamar de filhos com o único propósito de mandá-las para o inferno?

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