Problemas Genistas
Por : João Carlos Holland de
Barcellos , Jan/2004
O objetivo deste ensaio é apresentar os principais problemas encontrados
na filosofia genista e um esboço de suas possíveis soluções.
O genismo apresenta, atualmente, três tipos de problemas :
Problema 1- O problema do que é o sentir
O sentir ( emoção, sensação , sentimento , percepção ) é
considerado pelo genismo um fator de relevância máxima. Sem o sentir
nada teria importância. Entretanto, apesar de sua extrema importância,
infelizmente, ainda não existe uma definição ou algum modo de
sabermos quando um sistema físico é, ou não, capaz de sentir. Este
problema permanece ainda insolúvel. Contudo, estou inclinado a achar
que sua solução poderia surgir a partir de uma análise sistêmica.
Antes, porém, de entrarmos nesta abordagem, devemos perceber que a
capacidade de sentir é considerada normal em diversas classes de
animais como, por exemplo, a dos mamíferos. A medida que o cérebro
diminui em tamanho e complexidade fica mais difícil ter certeza de que
o animal tem a capacidade de sentir. Pulgas pulga podem sentir? Ácaros
sentem? E ainda podemos diminuir ainda mais a escala e perguntarmos se
seres desprovidos de neurônios são capazes de sentir: Uma bactéria
sente ? Uma árvore sente?
Se fosse possível irmos tirando neurônios de um rato, sem mata-lo, então,
qual seria a quantidade mínima de neurônios no qual ele ainda seria
capaz de sentir? Um único neurônio é capaz de sentir ? A partir de
que momento pode-se dizer que um sistema, vivo ou não, é capaz de
sentir?
Sem uma definição do sentir fica impossível respondermos a estas e
outras questões sobre o sentir. Além disso, devemos ter em conta que
um organismo virtual, simulado num computador, teria a mesma capacidade
sensitiva que um organismo real ( pense que o nosso próprio universo
poderia ser uma simulação computadorizada ) e, portanto, os
sentimentos não necessariamente precisam provir de um substrato biológico
como os neurônios.
Uma boa definição ( ou seria descoberta ? ) deveria caracterizar a
capacidade sensitiva de todos os organismos sencientes , virtuais ou não,
orgânicos ou não, além de responder às questões acima.
A capacidade de sentir evoluiu porque permitiu, aos seus possuidores,
responder de forma mais eficaz na sua interação com o meio ambiente.
Provavelmente, a primeira sensação que organismos vivos tenham
percebido deve ter sido alguma forma de dor. A dor podia evitar
ambientes hostis que ameaçassem a sobrevivência. Por exemplo, se um
microorganismo chegasse muito próximo de uma rocha vulcânica
escaldante, e sentisse o calor, poderia partir em direção oposta. Por
certo teria mais chances de sobrevivência que um outro, que não
sentisse o calor, e viesse a se queimar. A dor seria um mecanismo que
inibiria a causa, uma reação no sentido de evitar o evento causador.
Analogamente, as sensações prazerosas seriam mecanismos que reforçariam
os eventos que a causassem. Por exemplo, se o microorganismo se
aproximasse de algo que pudesse digerir ou fagocitar, seu provável
alimento, então a sensação deveria ser agradável, de aproximação,
no sentido de reforçar e aumentar ainda
mais este sentido, até que o alimento fosse deglutido.
Um esboço da definição de sentir, que proponho, estende sua
aplicabilidade para muito além dos organismos dotados de cérebro e, na
verdade, pode ser aplicado a sistemas inorgânicos.
Quando um sistema físico
reage a uma ação no sentido de apresentar um feedback positivo, isto
é, quando o sistema reage de modo a provocar uma ação ainda mais
eficaz do agente causador, então teríamos um sentir
positivo, e poderíamos dizer que o sistema estaria tendo uma “sensação
agradável". Quando o sistema reage no sentido de um feed-back
negativo ( reagindo de modo a evitar o efeito causador) teríamos um
sentir negativo
( "um sofrimento" ).
Um sistema complexo, constituído de muitos subsistemas, poderá se
deparar com muitos deles com sentimentos antagônicos devido a uma mesma
causa então o somatório dos sentimentos destes vários subsistemas
forneceriam o sentimento total do sistema em relação à causa.
Para a definição ficar
completa ainda é necessário que a definição contemple um meio de
medir e quantificar o sentir e isto, por enquanto, ainda vai ficar em
aberto
Na nossa página existe um bom texto sobre o sentir e sua relação com
o genismo, denominado: A Felicidade o o Sentir
Problema 2- Conflitos Felicidade x Genes
O objetivo do Genismo é a maximização da felicidade e, para
consegui-la, o caminho adotado é através da “hiper-valorização”
dos genes. Entretanto, genes e felicidade não são sinônimos e, podem
existir situações em que eles se contraponham. Nestes casos, teríamos
que privilegiar ou os genes ou a felicidade. Esta classe de problemas
foi abordada no artigo: Felicidade ou Genes?
e também no artigo Conflitos Felicidade x
Genes
Problema 3- Fim dos sentimentos
Este problema já foi abordado aqui na lista. É um problema de muito
longo prazo e trata-se da extinsão dos sentimentos ( bons e ruins )
devido ao fim da pressão seletiva que os mantém no pool genético da
espécie em virtude de uma hipotética adoção do genismo em escala
massiva.
Um dos objetivos do genismo é promover o enfraquecimento ou mesmo a
extinção dos genes que eu chamei de "Malévolos", que são
genes que induzem a comportamentos muito egoístas e anti-sociais como,
por exemplo, a inveja, o ódio, o ciúme, a vingança etc.. Não há dúvida
de que tais sentimentos tem uma razão evolutiva de existirem : Por
certo eles existem porque auxiliaram (e auxiliam) os seus portadores a
perpetua-los de forma mais eficaz do que os seres que não os possuíam
(possuem).
Entretanto, em geral, eles causam mais infelicidade ao grupo do que o
contrário e, por isso, sua erradicação poderia aumentar a felicidade
geral. Sendo assim, este é um objetivo que deveria ser buscado desde
que se possa evitar os efeitos colaterais de sua supressão qual seja:
Uma queda na aptidão gene perpetuativa.
A prática do genismo, por si só, tende a eliminar estes genes malévolos
pela diminuição da pressão seletiva que os mantém no pool genético
da espécie. Uma explicação detalhada sobre este processo pode ser
encontrada no artigo "Salvação da
Humanidade"
Porém, existe um
importante efeito colateral, não abordado no artigo, que faz com que não
apenas os "genes malévolos" sejam extintos mas também os
genes que induziriam a comportamentos e sentimentos bons como,
e principalmente, o amor.
Para tentar impedir o fim dos bons sentimentos eu propus que os genistas
seguissem uma ética simples no qual as boas ações, deveriam ser
executadas quando premeditada pelos bons sentimentos e não apenas
racionalmente. Isso manteria a pressão seletiva nestes genes e eles não
se extinguiriam. Entretanto, pode acontecer de a ideologia falar mais
alto e que por fim , depois de muitos milenios, a maioria dos os
sentimentos, bons e maus, poderiam terminar mas eles seriam substituídos
pelos prazeres ideológicos. Então haveria uma substituição de
prazeres. Mas isso é um assunto extenso para outra ocasião...